Toni 15/04/2020
O lado sombrio do humano
O que viria a ser A boca da verdade? foi com essa indagação que comecei a leitura dessa obra. O autor usa uma estilística própria com a qual o leitor menos voraz talvez não tenha tanta intimidade e, por isso, a princípio, a leitura parece não fluir, porém os argumentos da narrativa são tão instigantes em, pelo menos, quatro dos doze contos, os quais valem pela obra toda (Essência, Demônio com o coração de mármore, O grande impostor e A visita que Edward Hopper recebeu), que não há necessidade de entender a opção do autor por uma linguagem bastante formal, tampouco recorrer ao dicionário a cada vocábulo incomum, pois o contexto lhe dar as pistas necessárias pra não se perder. A escolha do conto "A boca da verdade" como o titulo do livro é coerente com os temas retratados em cada um dos contos, tendo em vista que todos eles, direta ou indiretamente, abordam o lado obscuro do humano, mostrando sua ruína, esse processo de regressão para o qual o homem se envereda dia após dia. O clima pesado característico da obra como um todo é justificado pelo próprio autor no tópico final , quando ele diz que "o mundo pode ser divertido, [...] mas o que faz uma boa literatura é a infelicidade", pois, segundo o mesmo, a infelicidade é a roda do mundo do escritor. E, finaliza com o seguinte arremate, o que considero bastante plausível, sobretudo, no mundo de hoje em que egos inflados refletem a tônica da vez, " [...] por detrás de nossas máscaras, papéis ou mesmo do que julgamos ser essência, não há nada, absolutamente nada. [...]"
E vc, o que está esperando para experimentar mais essa viagem?