Oscar 07/11/2022A espera maturou a experiênciaSempre acontece um fenômeno muito peculiar na minha vida literária. Um livro que foi comprado há muito tempo, mas que por várias razões fica ali encostado na estante, recebendo apenas a visita não muito períodica do pano a sacudir as poeiras acumuladas em suas páginas, é retirado de seu limbo eu acabo tendo uma experiência de leitura maravilhosa. Como se eu antevisse, mas de modo totalmente inconsistente, que apenas há alguns anos no futuro o espírito estaria nas condições adequadas para absorver o valor daquelas páginas. E Grandes Esperanças foi mais uma leitura premonitória da minha vida.
Foi um dos primeiros livros que comprei e que, pela quantidade de páginas e por ser um clássico, sempre me intimidou. Mas para minha grande surpresa, já nas primeiras páginas, o livro se mostrou ser de uma delícia de ser ler tão grande, que me capturou de uma forma que há muito um livro não tinha capturado. A ressaca literária que eu temia tanto em sofrer com ele foi transmutada por um combustível de que eu carecia há muito.
Sobre a leitura e o autor, irei comentar apenas que a mestria do Charles Dickens de envelhecer o narrador, personagem principal da história, é surpreendente. Em nenhum momento é utilizado um artificial de recorte temporal para deixar isso claro. Apenas com a sutil progressão da maturidade na fala do narrator, é possível sentir o tempo passar e o personagem envelhecer. Essa e muitos outras coisas a leitura deixaram em mim a maeca da genialidade do autor.
Depois dessa, sei que agora eu não preciso mais temer em ter de enfrentar David Copperfield. Pelo contrário, sinto grandes esperanças de que será mais uma leitura incrível.