Queria Estar Lendo 13/10/2015
Resenha: Ladrões de Sonhos
Era uma vez a Denise descobrindo os livros da querida Maggie Stiefvater. Era uma vez uma narrativa de tirar o fôlego, de te fazer ficar de ponta cabeça e de arrasar suas emoções até as suas próximas reencarnações. Era uma vez a minha sanidade indo por água abaixo.
Ladrões de Sonhos, a continuação de Os Garotos Corvos, retoma a história um pouco depois do fim da anterior. Sem me ater a spoilers para não estragar sua leitura, digamos que algumas coisas estão diferentes na pequena cidadezinha de Henrietta. A misteriosa floresta de Gabeswater desapareceu, aparentemente, e há algo de errado com as linhas ley. Adam está mais sombrio depois da sua escolha perigosa no volume anterior, Noah está sumindo com mais facilidade, Ronan está tendo sonhos cada vez mais vivos e atormentadores, e Gansey está correndo contra o tempo para sustentar seus amigos e a si mesmo nessa caça ao tesouro. E Blue? Bom, a Blue é a garota incrível e poderosa que faz tudo pelos seus garotos corvos.
"Ele podia se lembrar de toda sorte de nomes para ela agora, e todos pareciam mais adequados. Estrada das fadas. Caminho espiritual. Linha de canções. O velho caminho. Linha de dragões. Caminho dos sonhos. O caminho dos corpos."
A capacidade que a Maggie tem de te contar uma história está para ser explicada por cientistas altamente capacitados, porque eu não consigo entender a magia que ela coloca nas palavras. Não é Laini Taylor, mas é Maggie Stiefvater, e é tão marcante e arrebatadora quanto. Sua narrativa é uma poesia intrincada em contos sombrios, é uma fantasia amarrada à realidade, é a fascinante vida que ela coloca sobre os personagens e os faz saltar das páginas escritas.
Os garotos corvos estão mais emocionalmente destruídos do que antes. Ronan e Adam, especialmente, mas vou falar de cada um separadamente como fiz na outra resenha. Afinal de contas, cada um deles merece o seu momento.
"Os dedos de Gansey se abriram, largos, de cada lado das suas costas. Os lábios de Blue estavam tão próximos do queixo dele que ela sentiu o indício de uma ponta de barba. Era hortelã e memórias e o passado e o futuro, e ela sentiu como se tivesse feito isso antes e já desejasse fazer novamente."
Para começo de conversa, temos Gansey. Gansey está lidando com a ansiedade pelo ritual no fim do segundo livro, e porque a sua caçada parece tão ter mais fim. Ele deseja, desesperadamente, encontrar o rei adormecido, mas as pistas só levam a mais pistas, e as linhas ley parecem ter algum problema. Sem elas, Gansey está perdido e toda a sua expedição também. O garoto também está tendo que lidar com a estranheza a respeito dos seus amigos, especialmente Ronan e Adam, que estão tão diferentes do usual. Gansey é a cola, ele é o preocupado com todo mundo, e ele precisa proteger os dois e mantê-los no caminho certo, porque eles são seus irmãos. Quando se diz respeito à Blue, fica claro que ele gosta dela e vice-versa, mas o fato de ela ter saído com Adam e o possível risco à vida do amor da sua vida caso ela o beije mantém os dois afastados.
"Adam tinha um sentimento estranho, desconcertante, de que não podia confiar em seus sentidos. Como se ele estivesse sentindo o gosto de uma imagem, ou cheirando um sentimento, ou tocando um som."
Adam foi, em minha opinião, o mais perturbado por tudo. Sua escolha no fim do volume anterior trouxe graves consequências à sua realidade neste, e há fortes indícios de que as linhas vão começar a cobrar o seu preço. De que Adam está começando a enlouquecer, ou de que espíritos realmente estão começando a aparecer para ele. Os espíritos querem lhe mostrar alguma coisa, mas ele não sabe ouvi-los; os fantasmas de seu passado também assombram ele, e a violência e raiva resultantes de tudo que ele sofreu começam a sombrear os seus pensamentos. A dúvida de sua força e 'será que ele vai sucumbir?' se fazem muito presentes, e eu fiquei seriamente preocupada porque o Adam é precioso demais para o mundo. Ele sofreu tanto, ele só queria o melhor para ele, finalmente, depois de uma vida miserável. É pedir demais por uma felicidade genuína?!
Noah está mais sumido neste volume, até porque sua presença se deve às linhas ley, e elas estão oscilando. Quando Noah aparece, no entanto, são bons momentos, especialmente em relação à Blue. Os dois têm uma dinâmica muito fofa.
"Ele dançava sobre a linha tênue entre a consciência e o sono. Quando ele sonhava desse jeito, era um rei. O mundo era seu para dobrar. Seu para queimar."
E então temos Ronan, que ganha um destaque importantíssimo neste livro. Ronan é um sonhador, e o que ele sonha pode vir para a realidade; no primeiro volume, só uma coisa saiu dos seus sonhos, mas agora seus poderes estão mais fortes. As linhas estão mais fortes. E não são só dos sonhos que coisas estão saindo, mas dos pesadelos. Ronan encontra treinamento para esses roubos adormecidos com um inimigo que acaba se tornando amigo, enquanto outro inimigo começa a caçá-lo para parar o que ele está fazendo. Também temos algumas revelações sobre o seu passado turbulento, de onde vieram esses poderes místicos e o que eles têm a ver com a morte do seu pai. E, a parte que eu mais amei, os indícios de um romance envolvendo ele e um dos garotos corvos; sim, o Ronan é gay, está óbvio desde o primeiro livro, e nesse fica ainda mais. Eu estou torcendo desesperadamente pelo ship porque as possibilidades de envolvimento entre os dois são TÃO LINDAS e se a Maggie realmente fizer acontecer eu coloco ela num pedestal bem alto e cheio de ouro. Por favor, Maggie, nunca te pedi nada.
"Naquele momento, Blue estava um pouco apaixonada por todos eles. Pela magia deles. Pela busca deles. Pela voracidade e pela estranheza deles. Seus garotos corvos."
A Blue, querida e feminista e adorável Blue, continua com seu destaque e sua intensa preocupação com os garotos corvos, e aquela vontade imensurável de se tornar uma deles. Ela se sente parte do grupo, mas ainda há aquela distância financeira e emocional, porque ela entende os garotos, mas não se sente próxima o suficiente para realmente entendê-los. Com Gansey é muito mais fácil, e é por isso que a química entre eles é tão marcante. Adam está mais distante, e ele e Blue tem momentos bem difíceis nessa parte da história. Doeu o meu coração ver como ele reagiu a ela e vice-versa. Doeu bastante.
"Muitos problemas do mundo, ele pensou, eram resolvidos meramente pela decência humana."
Temos introdução a um novo personagem, o Homem Cinzento, que é nada mais nada menos do que um assassino de aluguel. Ele acaba se envolvendo com a mãe da Blue e isso resulta em altas revelações a respeito do motivo para ele estar ali em Henrietta. O sr. Cinzento foi um ótimo personagem, bem construído, bem misterioso, bem marcante.
Além deles, claro, as mulheres da casa azul 500 na rua Fox foram personagens bastante importantes. Maura, a mãe da Blue, e Persephone, foram duas queridas muito carismáticas, e eu amo como a Maggie desenvolve as habilidades mediúnicas de cada uma delas. É tão real e palpável que você se sente numa consultoria particular.
"Ele era irmão de um mentiroso, irmão de um anjo, filho de um sonho e filho de um sonhador. Ele era uma estrela em guerra cheio de possibilidades infinitas."
As relações entre os personagens são vivas, tal como suas personalidades. Você se sente imersa nos sonhos do Ronan, nos medos do Adam, nas hesitações do Noah e na confiança do Gansey. Você se sente amiga da Blue e das mulheres que vivem com ela, se sente preocupada e desconfiada em relação ao Homem Cinzento, e fica ansiosa para encontrar o rei adormecido junto aos garotos corvos.
Ladrões de Sonhos foi enérgico, de tirar o fôlego, e teve um desfecho destruidor de emoções. Eu estou com o próximo aqui para ler, mas estou tão apaixonada e arrebatada pela narrativa da Maggie que vou esperar um pouquinho mais antes de me aventurar para o terceiro volume. E, se você ainda não leu Os Garotos Corvos, saiba que está perdendo MUITO.