anicca 19/05/2021
Inspirador de uma práxis relevante
Neste livro, que foi inspirado pela dialética de Paulo Freire, Moacir Gadotti retrata diversos aspectos da vida do professor. Ele explora desde o cerne da profissão, que corresponde a ensinar com amor e pela liberdade, aos caminhos tortuosos que dela fazem parte.
Com prosa leve e sensível, dialoga sobre as diversas lutas e adversidades envolvidas na docência, mas encoraja, convida e desperta. Acima de tudo, Moacir engrandece o ato de ensinar e nos conscientiza sobre a importância de executá-lo bem.
Ele argumenta que o professor não deve se contentar em cumprir o que é estabelecido pelo currículo e agir passivamente, como um mero realizador de tarefas, visto que é preciso ensinar com significado e, para isso, sempre inovar-se. Porque no mundo contemporâneo, as informações são veiculadas com extrema rapidez, e pelo caráter lúdico, a TV e a internet acabam disputando a atenção do aluno com a escola. Metodologias mais interessantes do ponto de vista interativo são imprescindíveis para manter a curiosidade acesa, desde a creche ao ensino de jovens e adultos.
Além disso, é de suma importância manter uma postura crítica e atualizada acerca do currículo, pois, sendo um produto de interesses, veicula concepções que podem não contemplar a realidade. E mais, podem comprometer a percepção de mundo dos alunos ao apresentar, por exemplo, conceitos e passagens históricas erroneamente. Cabe ao professor problematizar.
Gadotti também nos diz que não basta ter competência, ou seja dominar a técnica e conhecer os assuntos prescritos pelos documentos oficiais, sem conseguir trazê-los para as aulas de maneira inteligível, considerando os saberes prévios dos alunos e o contexto sociocultural de onde vêm. É necessário conhecer quem se ensina para ensinar bem.
Porque a abordagem escolar nem sempre é acessível e pode ser difícil para que vinculem a realidade ao conteúdo explicado (o que acarretaria desinteresse e um processo de ensino e aprendizagem fracassado), e porque as condições infraestruturais, sociais e mesmo psicológicas do professor em geral são comprometidas pelo descaso e pela falta de políticas públicas na área educacional.
A violência contra a figura docente não se manifesta apenas através da negligência federal, da violência de alunos em sala e da desvalorização por parte da sociedade: toda essa conjuntura pode afetar o empenho do professor e desmotivá-lo a ponto de questionar-se o porquê de ter optado pela profissão e concluir que talvez não valha mais a pena insistir. Muitos se afastam desse ambiente por problemas de saúde, há inúmeras pesquisas que delineam tal quadro.
A despeito de tudo isso, um dos maiores êxitos que um professor pode alcançar é contagiar os alunos de modo que procurem o conhecimento por conta própria, assumindo-se protagonistas aprendizes e, quem sabe, fazendo de si mesmos autodidatas.
Transformar vidas por meio de uma postura autêntica, inclusiva, solidária e sensível, dar o exemplo de um ser humano digno e respeitável, demonstrar por gestos que cuidar uns dos outros é importante, para além dos conteúdos inseridos nos livros e demais materiais didáticos, é também função do professor.
Por tudo isso, sua função é indispensável e merece ser encarada e tratada diferentemente, com apoio de toda sociedade em prol de uma educação menos tecnicista e mais humana.