João Moreno 22/10/2019Para a Esquerda que não teme dizer o seu nome [1]Publicado em 2014, um ano após as manifestações conhecidas como Jornadas de junho, o livro foi composto por diferentes textos de diferentes especialistas. Assim, os Megaeventos foram tratados pela ótica do direito (SOUTO MAIOR, 2014), do urbanismo (MARICATO, 2014; ROLNIK, 2014, VAINER, 2014, e MTST, 2014), do jornalismo investigativo, denunciando as federações e comitês (JENNINGS, 2014), do futebol como construtor da identidade nacional (LOPES, 2014) e do processo histórico por trás dos nomes FIFA, COI e CBF (FERREIRA, 2014). Como ponto negativo, os textos propagandísticos – (LASSANCE, 2014; FERNANDES, 2014) – que não serviram como contraponto, mas como releases governamentais, com adjetivos não perdoáveis aos textos de assessoria de imprensa.
O interesse pelo livro reside na atuação das gestões petistas e em como estes governos – autoproclamados de esquerda – submeteram-se ao capital financeiro internacional, às grandes organizações esportivas, às empreiteiras, financiadas, também, com dinheiro público, para, em nome do tão propagandeado “legado”, promover acordos não republicanos em obras de estádios, loteamentos de áreas públicas para fins privados, desapropriação irregular de moradores e a perpetuação da miséria, removendo os miseráveis para as distantes periferias, ao mesmo tempo em que a intervenção pública causava a supervalorização imobiliária, expulsando moradores antigos de suas casas diante do aumento exponencial de aluguéis. O partido dos pobres e do povo e dos clichês populescos não esteve tão preocupado com as “cidades mais desiguais, socialmente mais segregadas, nas quais os eventuais benefícios são apropriados pelas camadas de renda média e alta, mas sobretudo pelos detentores da propriedade fundiária e pelos capitais da promoção imobiliária” (VAINER, 2014, p. 73). Ao final da leitura, sobra a revolta: quem nos dera se o “legado” da Copa (e Pan Americano e Olimpíadas) se resumisse aos 7×1 no campo, apenas.
Para um resumo dos artigos, ver link abaixo.
[1] O título faz referência à obra de Safatle, não pelo conteúdo, ainda não lido, mas pelo que ele sugere e faz pensar.
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https://literatureseweb.wordpress.com/2019/07/07/megaeventos-brasil-em-jogo-um-resumo/