spoiler visualizarTatiana 20/05/2016
Sob a influência do início de Las Amazonas, no México, e meu novo ship rural #Dialejandro ocupando a minha cabeça 24 horas por dia, eu tive que ler um romance que se relacionasse com cavalos - não, o romance não é entre cavalos, por mais que eu tenha ficado com a impressão de que foi isso que disse. E olha só como a vida é boa, esses livros estavam na estante, a um esticar de braço. Então respirei fundo, preparei meu coração e comecei o primeiro livro de uma trilogia (que amo o terceiro livro) e que também se tratava do primeiro livro escrito pela Nora.
Acho que todos sabem que a Nora é uma unanimidade na minha vida, pessoal ou de leitora. Se eu estou de ressaca literária, ela é o melhor remédio pra me fazer voltar a ler. Se eu estou triste, esqueço tudo se pego um livro dela. Se estou feliz, é com um livro dela que me sinto literalmente nas nuvens. Então a curiosidade pra ler o primeiro livro dela foi enorme, ainda mais sabendo que eu AMO o terceiro livro dessa trilogia. Mas sinto dizer que a leitura foi meio decepcionante.
Não sei se é por já fazer um bom tempo que não lia um romance mais "meloso", mas achei MUITOS problemas nesses personagens. Pra começar, não posso deixar de mencionar o machismo nas atitudes do Travis para com a Adelia. Ele simplesmente faz o que ele quer e quando quer com ela com a mesma facilidade como toma as decisões mais pessoais de sua vida. E o pior não é nem ela ser conivente com tudo aquilo - que por si só já é péssimo, as enfim -, é sim ela depender daquilo pra seguir a história.
Veja bem, eu até gosto de algumas histórias em que o amor é despertado tão natural e facilmente, mas a ponto da personagem não desenvolver sua personalidade não. Aliás, acho até que ela regride um pouco.
Gosto muito de pensar que quando estou lendo um livro eu consigo ver o desenvolvimento psicológico dos personagens, os motivos que os levam a agir de certa forma e o que os motiva a seguir em frente tanto na história quanto no romance. A Adelia é um daqueles casos de pessoas que perdem a família muito cedo, se envolvem de uma barreira de autopreservação e seguem em frente sem muito carinho e nem amor. Então é de se esperar que ela seja um pouco insegura quanto a qualquer aproximação mais amorosa. Mas a partir do momento que ela chega nos Estados Unidos e encontra com seu tio que não via desde quando tinha uns 3 anos de idade, ela simplesmente passa a amá-lo como se ele sempre estivesse presente. Carência afetiva? Talvez sim. E não desconsidero que durante toda a sua vida ela tenha trocado algumas cartas com ele, que eu reconheço que para uma pessoa sozinha já é o suficiente pra aquecer o coração. Mas tudo bem, ela se apega a esse tio e até aí dá pra entender.
Mas quando se trata do Travis, a coisa muda de conversa. Ela lentamente vai se apaixonando por ele e ainda que a velocidade ainda tenha sido um pouco rápida, ao meu ver, ela deixa de evoluir a partir de determinado ponto. Ela amar alguém da família é uma coisa mais natural, e mudar a partir dessa convivência é totalmente compreensível, porque a partir do momento em que nos abrimos a uma pessoa que está contigo em todos os momentos, por mais recente que isso seja, já é o suficiente pra nos fazer mudar aos poucos. Mas com o Travis ela simplesmente para de evoluir.
SPOILERS A PARTIR DAQUI!!!!!!!!!!!!!!!!!
Ela pensa muito sobre os sentimentos novos que tem sentido, pensa sobre como deve agir e o que deve pensar sobre essa novidade, mas quando está com ele, ela se deixa levar pelos seus sentimentos de maneira meio conivente. Ela aceita que ele a beije quando queira porque ele é assim, sempre teve domínio de tudo o que queria. Ou então quando as corridas mais importante do circuito estavam começando e ele simplesmente exigiu que ela fosse a todas - o que até poderia ser justificado pelo fato dos animais sentirem mais confiança perto dela, mas que perde todo o sentindo quando ele acha que ela estava questionando sua autoridade na frente de outras pessoas. ELA NÃO ESTAVA! E mesmo que estivesse, a maneira como a tratou não estava nem perto de ser correta!
Até aí o machismo já estava me incomodando, mas quando o Tio Paddy passa mal e pede que ela se case com o Travis para que ele possa lhe dar a segurança que nunca teve, eu realmente comecei a me sentir mal com o que estava acontecendo. Ela casa com ele por amor, mas até então não sabe se ele a ama. Isso já está errado. E pior: quando o tio está passando mal, ele a trata rudemente por estar ficar nervosa - e não vou nem justificar isso dizendo que ele nunca passou pelas coisas que ela passou pois isso não é justificativa, ainda mais sabendo que ele SABIA o que ela já havia passado em sua vida e que seu tio era a única família e segurança que lhe restava.
Daí o casamento continua às aparências e eles vão se afastando, ela por achar que ele não a ama e ele porque a ama demais e não quer assustá-la ou coisa do tipo. Gente, não me levem a mal, mas como que numa relação qualquer - quem dirá um casamento - as pessoas simplesmente não FALAM?? NÃO CONVERSAM??? Tudo bem, um dos grandes trunfos na literatura de relacionamentos diz respeito à falta de comunicação entre os personagens e esse não é o primeiro e nem será o último livro em que verei isso. Mas sabendo que os dois nutriam sentimentos um pelo outro já era o suficiente pra fazer alguém querer conversar, nem que seja pra falar se está de acordo ou não. Aliás, essa é uma das coisas que mais me irritam em romances, a submissão e a falta de comunicação.
O que estou querendo dizer é que a Adelia se submete muito facilmente ao que ele quer porque está apaixonada. E a pior parte não é nem essa. A pior parte mesmo é que mesmo com a indiferença dele (que já era muito estranha, pois claramente ele já havia dado sinais de que de alguma forma se importava com ela), ela SUPLICA pelo amor dele - mas não diretamente, graças a Deus.
Ele a trata mal e tudo o que ela quer é que ele a ame. Ela quer que ele não pense num divórcio porque quer fazer com que ele a ame, mesmo quando ela se "auto rebaixa" a uma simples cavalariça!
GENTE, STOP THIS ABSURDO AGORA MESMO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Não sei se é o fato deste ser o primeiro de mais de 200 livros que a Nora escreveu, não sei se é a data em que escreveu ou até mesmo o tempo em que se passa a história, mas a maneira como a Adelia ama o Travis e a forma como ele age me incomodaram profundamente. Eu ainda fiquei ansiosa por um final feliz e romântico porque sim, não tenho resistência a um bom romance, mas até mesmo o final me decepcionou. Eles simplesmente conversam brevemente sobre o que deveriam conversar profundamente a respeito do relacionamento e puft, fim da história, todos se amam e é isso aí, venha o livro 2.
Meu grande medo agora é reler Coração Rebelde e me decepcionar como me decepcionei com essa leitura. Não sei se o segundo livro da trilogia foi escrito logo depois ou se ela foi dando pausas para concluir a série, então ainda estou receosa pelo que vou encontrar. Mas o medo mesmo é todo voltado à Coração Rebelde.
Apesar de tudo, eu recomendo ainda a leitura da Nora. Talvez não esse livro, que realmente é mais fraco em relação a tantos outros que já li (só não perde pra segunda história de Perigo, aquilo sim é uma tristeza), mas ainda assim acho que é uma leitura válida principalmente pra gerar discussão sobre machismo romantizado, relacionamento abusivo e outros muitos problemas. Inclusive recomendo a leitura dessa resenha (https://www.goodreads.com/review/show...), que com poucas palavras disse tudo o que eu senti sobre os problemas desse relaiconamento.