Livrocitose 18/08/2023
Primeiro é importante ressaltar o talento de escrita dessa autora, que consegue escrever um livro abordando uma temática tão delicada com muita facilidade, fazendo com que a leitura seja mais uma conversa riquíssima em informações profundas mas de fácil compreensão, que somente um folheto informativo.
O livro foi publicado em 2014, desde lá muita coisa mudou, inclusive o nosso consumo, que considero bem mais exacerbado.
A autora nos fala sobre a importância de se consumir, o que de fato é fundamental para nossa sobrevivência e desenvolvimento. Entretanto, o consumo de “supérfluos”, termo que a autora traz para julgar a compra desenfreada, pode ocasionar mais prejuízos que benefícios. E esses prejuízos se estendem à vida do viciado em compras, à família, ao meio ambiente e ao planeta.
A autora coloca que estar inserido nessa sociedade, que nos julga pelo que temos e não pelo que somos, é muito oportuno para o comportamento de se consumir sem critérios. O marketing, que está programado para nos tocar de diversas formas e o tempo todo, faz com que pensemos precisar de coisas que nem imaginamos que existiam após assistir uma simples propaganda.
Esse consumo torna-se desenfreado, insaciável, visto que consumir o que a nossa sociedade hoje julga como valorizado, onde o ter individual é mais importante que o ser humano, é um poço sem fundo. Sempre terá a nossa disposição tecnologias mais refinadas, modas mais recentes e uma necessidade muito grande em participar disso tudo. E não tem problema em tê-los, somos seres sociais e buscamos estar inseridos, a evolução dos produtos nos fornecem qualidade de vida. Não tem como negar como o ato de comprar é realmente bom e a autora cita no livro como o nosso sistema de recompensas é acionado, fazendo com que tenhamos uma sensação de prazer e satisfação, isso faz com que busquemos repetir esse comportamento, literalmente, a qualquer custo. Gerando-se assim a compulsão por compras.
Porém, muitas vezes podemos abrir mão de um futuro tranqüilo por uma satisfação do presente, e as compras que hoje nos agraciam, amanhã nos causam angustia, arrependimento e muito prejuízo financeiro.
Consumir é importante para manter os negócios em ascensão, no entanto a publicidade deve ser ética para que o consumo seja responsável e sustentável.
No final a autora destaca que as verdadeiras riquezas da vida não têm valor monetário. É claro que reconhece a importância de se ter artefatos básicos e qualidade de vida com instrumentos que verdadeiramente nos ajudam, mas o amor e a amizade, o prestígio em se aperfeiçoar habilidades e ser reconhecido por isso não tem preço.
Um conhecido meu diz que quanto mais dinheiro, maior a dor de cabeça. Olha, eu queria muito vivenciar isso para ver se é real rsrs
Mas a Dra. ainda traz no livro pesquisas que corroboram isso. A felicidade está associada ao dinheiro só até certo ponto, depois disso o dinheiro pode até trazer complicações, visto que a falha ética nesse mundo consumista está bem associada aos valores que deveriam ser inegociáveis, mas não são.
O livro é mais uma reflexão sobre nossa existência no mundo consumista do que aspectos da pessoa que se enquadra na compulsão por compras (embora trate muito bem desse último, mas de forma breve comparado as demais reflexões). Reflexões muito válidas afinal, (mas que não convergem, psicossocialmente falando, com aqueles que sonham em consumir ao menos duas refeições ao dia. O buraco é mais embaixo para a grande maioria da população que vive abaixo da linha da pobreza, de forma indigente. Mas para aqueles que podem consumir, propõe uma reflexão sobre seus impactos pessoais, sociais e no contexto planetário!)