jota 19/01/2019O paraíso (islâmico) é bem explosivo...A única coisa que Mané, Manoel dos Anjos, garoto negro, pobre e feio da periferia de Ubatuba, cidade do litoral paulista, sabia fazer bem era jogar bola. Tanto que um dia foi levado para treinar no time juvenil do Santos F.C. Aos dezessete já estava contratado por um clube alemão, que via nele a promessa de mais um craque brasileiro. Mas Mané, mal falando português, encontrou enormes dificuldades de adaptação no país europeu: tosco como era, ficava muito tempo sozinho vendo televisão, comendo e se masturbando. Nem um tradutor português contratado pelo clube conseguiu facilitar-lhe as coisas, melhorar sua precária comunicação.
Logo após as primeiras páginas do amargo e irônico livro de André Sant’Anna, quase todas recheadas de infindáveis palavrões cabeludos e delírios pornográficos até o final, encontramos Mané despedaçado no leito de um hospital berlinense depois de ter detonado uma bomba amarrada ao próprio cinto em pleno estádio. Como tudo isso aconteceu depois de sua saída de Santos para Berlim, sua “conversão” ao islamismo através da amizade com um colega muçulmano do clube, e outros episódios curiosos de sua estadia berlinense, acompanhamos nesse volumoso romance (de mais de quatrocentas páginas) narrado por diversos personagens brasileiros e estrangeiros que cruzam o caminho de Mané. De Muhammad Mané. Ou Muhammad Pelé, como ele algumas vezes é chamado.
Lido entre dezembro de 2018 e (19 de) janeiro de 2019. Minha avaliação: 3,8.