Fabio Shiva 27/02/2011
Perdoem se o que vou dizer soar como heresia, senhoras e senhores.
Diante das evidências, contudo, sou obrigado a chegar a esse veredicto:
P. D. James é a evolução natural de Agatha Christie! Ela é a Herdeira.
Ela também tem seu estilo próprio, não se trata de uma cópia de Agatha. Ao contrário, penso que Agatha é que poderia escrever como P. D. James, caso continuasse viva e escrevendo e se adaptando aos novos tempos.
Vamos às sincronicidades:
* P. D. James é uma baronesa, nascida e criada em meio à aristocracia inglesa. Assim como Agatha Christie, pode falar com toda intimidade de pessoas que passam a vida entre mansões, casas de campo e castelos, e cuja única ocupação é trocar de roupa entre as refeições.
* Mas sobretudo vejo em P. D. James o mesmo compromisso fundamental assumido por Agatha em seus livros: o compromisso de um jogo limpo com o leitor, a característica que torna o romance policial clássico um formato diferenciado de todos os outros estilos literários. O que importa sobretudo é o enigma: quem, como e porquê. As pistas são apresentadas com honestidade. E o desafio é lançado: quem será mais esperto, a autora ou o leitor?
A diferença principal entre James e Christie, a meu ver, é que as histórias de Agatha parecem um pouco esquemáticas em comparação, quando o lado do jogo sobrepõe-se ao da história, resultando em personagens às vezes bidimensionais ou caricaturais. No caso de P. D. James, a caracterização dos personagens é justamente um dos pontos mais fortes. Seus personagens têm consistência, profundidade.
É isso o que torna a leitura de um romance policial de P. D. James uma aventura eletrizante! Não consigo largar o livro até terminar. Foi assim com “Um Gosto por Morte”, primeiro que li dela, e a excelência da autora só foi confirmada por “A Máscara da Caveira”.
O título do livro na tradução é bem infeliz. Tenta dar um toque de sensacionalismo de fácil vendagem que só atrapalha no fim das contas. Pois o título original é “The Skull Beneath the Skin”, que poderia ser traduzido como “A Caveira Debaixo da Pele”, que considero dez mil vezes mais sinistro que o adotado pela tradução!
Sobre a história: essa é a segunda e até o momento última aventura da detetive Cordelia Gray, contratada para proteger uma atriz temperamental que vinha recebendo estranhas mensagens anônimas. Haverá a estreia de uma peça em uma ilha próxima da costa, em um autêntico castelo totalmente imerso na aura vitoriana. É claro que a morte visita a ilha, e cabe a Cordelia desvendar o crime.
Uma riqueza a mais de P. D. James é o fato dela construir pequenos mistérios paralelos à trama principal, que vão sendo revelados aos poucos, para grande deleite do leitor.
Na boa, na boa: achei melhor que Agatha Christie!
Pronto, falei!
(27.02.11)
Comunidade Resenhas Literárias
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