Raphael 30/12/2020“Relojoeiro Cego” de Richard Dawkins. Nesta obra, temos, de novo, Dawkins defendendo a teoria da evolução pela seleção natural. Aqui, em particular, os argumentos estão direcionados contra o criacionismo ou, em outros termos, desígnio divino. O livro tem por objetivo, digamos, resgatar criacionistas para o evolucionismo.
Em primeiro lugar, ele desmonta vários argumentos criacionistas, destacando que a evolução, apesar de “cega”, conforme o título, não opera de forma aleatória. São muitos degraus que infinitamente vão se sucedendo para atingir determinado resultado evolutivo. Não podemos falar “para atingir o aprimoramento” pois a evolução, o autor explica, não tem um objetivo final, ela vai operando de forma cega conforme as influências externas que vem sofrendo durante o tempo. Não existe designer consciente. Este é o principal desmonte criacionista que o autor propõe na obra. Existe um capítulo inteiro no livro dedicado a explicar as pequenas mudanças gradativas e não-aleatórias pelas quais a evolução opera.
No mais, os ataques contra o criacionismo vão se sucedendo e o autor demonstra com exemplos extraídos da natureza sobre a forma como a evolução funciona. Explica, ainda, diversas coisas interessantes sobre a evolução, como, por exemplo, a discussão sobre fósseis e eventuais lacunas, criacionistas dizendo que há mudanças abruptas neles, evolucionistas dizendo que são problemas geológicos (saltacionismo x pontuacionismo). Essa é a principal discussão do livro: se a evolução opera de forma paciente e gradual, acumulando as modificações, não há necessidade de uma entidade inteligente por detrás do resultado evolutivo. O relojoeiro, afinal, é cego.
Enfim, mais um excelente livro de biologia que nos ajuda a desvendar um pouco melhor a nossa própria natureza e identidade. Os livros de Dawkins são fascinantes. Sempre ensinam ao leitor algo de surpreendente sobre a natureza a qual nós estamos submetidos. Acredito que seja difícil algum criacionista se dispor a ler esta obra, mas caso fizesse, seria praticamente impossível não se curvar a inexorável verdade do evolucionismo e as implicações deslumbrantes da seleção natural em todos os organismos vivos.
Termino com uma citação que gostei muito “(...) Predigo que, se alguma vez for descoberta uma forma de vida em outra parte do universo, por mais bizarra e exótica que ela seja, veremos que se assemelha à vida na terra em um aspecto fundamental: ela terá evoluído pelo mesmo tipo de seleção natural darwiniana (...) A teoria darwinista é, em seus fundamentos, capaz de explicar a vida. Nenhuma outra teoria já proposta é capaz, em seus fundamentos, de dar esta explicação”.