Che 20/06/2017
"A Saga da Fênix" é tida por muitos não só como a melhor saga de tudo o que já foi publicado dos X-Men, como também uma das dez melhores HQs de todos os tempos. Saiu uma lista há um tempo na qual ela ficou em segundo (perdendo, claro, para a imbatível Watchmen), o que aguçou minha curiosidade.
Até agora, tal como no caso do Demolidor, tinha lido pouca coisa dos mutantes em quadrinhos. Uma das que eu li foi a mini-série solo do Wolverine escrita em 1982 pelo mesmo Chris Claremont que escreveu esta "Saga da Fênix Negra" no comecinho dos anos oitenta, mais uma vez comprovando que essa foi a década de virada para o amadurecimento da nona arte. O roteiro é de fato muito bom, embora ainda tenha excesso de repetições didáticas demais entre um volume e outro, para o leitor não se perder no meio das referências a histórias escritas bem antes dessa saga ao longo do percurso dos X-Men, bem como o grande volume de personagens - felizmente bem administrados e expostos, quando necessário, em grupos divididos.
Claremont reserva grandes reviravoltas para as últimas três partes da saga, quando Jean Grey atinge o píncaro do poder, todavia ao custo de deixar fluir seu lado mais sombrio, despertado pelo Mestre Mental. Há muito de psicanálise na tragédia da Fênix, com várias menções mais ou menos sutis a desejos (inclusive sexuais) reprimidos por Jean, tema sem dúvidas revolucionário para a época - e ainda hoje instigante. Não sei até que ponto ele fez isso de modo consciente, bebendo na fonte freudiana. O lado sombrio - a tal Fênix Negra - está ligada ao id da personagem, que pode ou não ser dominado com ajuda do Professor X (aqui fazendo as vezes de superego), culminando num final arrebatador e chocante.
Além disso, há um punhado de tramas secundárias envolvendo personagens que, nesse arco, acabam sendo coadjuvantes para a trama maior envolvendo a Fênix, caso da conspiração envolvendo o Clube do Inferno (uma espécie de FIE$P do universo Marvel, envolvendo magnatas podres de rico que tem superpoderes) e todas as intervenções do Wolverine, sempre carismático. O traço de John Byrne é bem ao estilo do nostálgico desenho que passava na Globo há uns quinze anos.
Li a edição da Salvat em scan, a qual meio que entrega um spoiler na capa. Felizmente, entrega pouco perto do todo da reviravolta, que é muito boa.