Leia com a gente 17/04/2017
A vingança da amante (Tamar Cohen)
A história começa do nada, é como se você tivesse caído de paraquedas numa mata fechada e escura, e já no chão, tenta se nortear com o intuito de descobrir onde está, para onde vai, o que aconteceu. É assim que a autora faz com que o leitor se sinta logo nas primeiras páginas do livro, meio perdido. Mas isso, não é porque o texto não tenha coerência, ao contrário, tudo é proposital, e com o caminhar da leitura você terá o entendimento do enredo.
Quem nos conta a história é Sally, a personagem central. Uma mulher em torno dos seus quarenta e poucos anos, jornalista freelance, casada com Daniel, com quem teve um casal de filhos. Levava uma vida comum com sua família, até se envolver com Clive, dono de uma gravadora, também com dois filhos, e casado com Susan, com quem possui uma vida social e econômica mais elevada, e juntos são considerados exemplos de casal perfeito, perante os olhos da família e amigos, sendo até mesmo invejados por estes.
Entre ligações, mensagens, encontros às escondidas, e troca de promessas do fim dos relacionamentos oficiais, para viverem esse “amor”, Sally e Clive, conseguiram esconder de todos o romance extraconjugal por cinco anos. Mas tudo muda, a partir do momento que Clive termina o romance, com a explicação de que precisa se dedicar a reconstrução do seu casamento. Porém, Sally não aceita o fim com tranquilidade, e se torna uma pessoa obcecada pelo amante.
Só que não existe ajuda possível, quando tudo o que vejo está usando a sua cara e todo momento que passa é um momento a mais longe de você, e quando olho para a frente, o que vejo é o que não esta lá, e a vida que existe diante de mim é um lembrete insultante da vida que eu deveria ter tido. Sally
Toda a história, foi narrada em primeira pessoa, e é contada de forma não-linear. Isso faz com que o leitor se sinta mais próximo de tudo o que a personagem está vivendo, sentindo, pensando. Mas ao mesmo tempo em que existe essa proximidade dela, ela te leva a se sentir distante da realidade.
Confesso que quando o livro tem apenas um ponto de vista, e é escrito em forma de diário, me cansa um pouco, porque gosto de ver a fala, pensamentos de outros personagens, da interação entre as pessoas. E neste caso o leitor fica totalmente restrito ao narrador. Ou você acredita no que ele está te contando, ou não. Mas esse comentário não significa que eu não tenha gostado do livro, pelo contrário, gostei muito. Pouco a pouco fui transportada para dentro da história, e esta despertou em mim vários sentimentos, e adoro isso numa leitura.
A Sally conseguiu me irritar profundamente em vários momentos. Sabe aquela pessoa egoísta, que você sente vontade de bater? Pois é, me peguei em vários momentos a xingando, de raiva… aliás muita raiva! Mas, depois de algumas páginas, você é inundado por um sentimento de pena, e até se compadece da personagem, porque o seu egoísmo é dedicado principalmente contra ela mesma. Eu me contentaria em segurá-la pelos braços e dar alguns chacoalhões, com o intuito de trazê-la de volta para a realidade, de tirá-la daquele estado de obsessão destrutivo.
Apesar de termos a narração somente da Sally, é interessante as descrições que ela vai fazendo ao longo do texto, de como as pessoas estão a olhando e reagem com sua presença. É partir desses comentários, que o leitor consegue ter uma noção real de como está o seu comportamento e a sua aparência. Digo que essas passagens contribuíram para o fato de eu ter gostado do livro, pois como disse anteriormente, gosto de outros pontos de vista.
Além da questão relacionada a traição, a autora traz também o universo do “amor obsessivo”, que parece uma coisa boba, mas na realidade é um tipo de doença psicológica, que faz com que a pessoa se torne dependente do outro. Isso, muitas vezes faz com que o outro se sinta sufocado por não corresponder a altura do tal “amor”.
Parece ser algo distante, mas se olharmos um pouquinho para o lado, podemos encontrar exemplos desse tipo de amor. Quantos casais você conhece, em que um dos parceiros não permite que o outro tenha amizades? Que liga praticamente de hora em hora? Espiona o celular, redes sociais, carteira, bolsa do companheiro, como um meio de monitoração e controle? Pode não ser num nível tão elevado, mas ainda assim, não deixa de ser um indício de obsessão. E a infeliz e famosa frase “se você não for minha (eu) não será de mais ninguém!”. Parece coisa de novela não é mesmo? Mas no mundo real, muitas pessoas se tornam alvo de violência, movido e praticado pelo ciúme extremo do obsessor.Por curiosidade, e querer saber um pouquinho mais sobre o assunto, li um artigo, intitulado “Amor obsessivo” que não é tão atual, mas tem uma explicação boa e simples sobre o problema, vale a pena dar uma olhada.
Em termos gerais, gostei bastante da leitura, me trouxe uma coisa nova. Ainda não tinha lido nada parecido, portanto, foi bem proveitoso. Além disso, amei a capa do livro, que foi o que me chamou atenção, depois do título. Achei linda as cores e combina com o tema.
Para os que desejam se aprofundar no assunto, vi que tem um livro intitulado “Amores Obsessivos” dos autores Susan Forward e Craig Buck, publicado pela editora Rocco, que trata especificamente sobre a questão. Não darei maiores informações, porque não o li. Além disso, indico três filmes que assisti e gostei, que tratam dessa temática de amor, traição e obsessão, mas de formas diferentes um do outro. Primeiro um clássico de 1987 “Atração fatal” de Adrian Lyne, com os atores Michael Douglas e Glenn Cose. “Fale com Ela”, lançado em 2003, com os atores espanhóis Leonor Watling e Javier Cámara, e “A pele que habito” lançado em 2011, estrelado por Antonio Banderas e Elena Anaya. Sendo os dois últimos dirigidos por Pedro Almodóvar.
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