Dayvid Simplicio 27/05/2018
Psicanalista e historiadora francesa, Elisabeth Roudinesco é autora de diversas obras sobre a psicanálise, como o Dicionário de Psicanálise (1998), Sigmund Freud na sua época e em nosso tempo (2016) e Manifesto pela psicanálise (2015). É professora da Universidade de Paris VII e suas obras são editadas em mais de trinta idiomas.
Em seu livro Por que a psicanálise? Roudinesco dialoga de forma abrangente sobre vários aspectos que envolvem as teorias psicanalíticas, como sua história, seus métodos, o fundador (Sigmund Freud), os continuadores e os desdobramentos para o futuro. A obra é dividida em três partes, que são: A sociedade depressiva, A grande querela do inconsciente e O futuro da psicanálise. Cada parte é dividida em breves capítulos.
Na primeira parte, A sociedade depressiva, a autora analisa o aspecto humano que envolve a psicanálise, isto é, as demandas do homem em sua época (1999), que encontram solução (ou diálogo) na psicanálise. Alguns desses aspectos são: o conceito de sujeito; um diálogo sobre a depressão, que na época já era prevista como “epidemia psíquica”; o uso de medicamentos para tratamentos de sintomas psíquicos; e uma breve abordagem antropológica do comportamento humano. Baseada em teorias como a filosofia, a psicologia, a medicina e a antropologia, Roudinesco apresenta a psicanálise como método sintético de todas essas abordagens, uma vez que sua prática considera o homem em todos esses aspectos.
No segundo capítulo, A grande querela do inconsciente, Roudinesco descreve sucintamente, de forma clara e objetiva, os caminhos teóricos que levaram Freud a descobrir o método de investigação do inconsciente. Para isso, apresenta o conceito de sujeito para a psicanálise, tão importante para o entendimento do inconsciente, pois o sujeito aqui é o ser dividido entre a liberdade e os condicionamentos inconscientes que o determinam. Ainda nesse capítulo ela traz uma discussão histórica e comparativa a respeito de como a psicanálise se desenvolveu na América e na França, considerando as divergências e os encontros entre seus teóricos no século XX. Para isso, ela recorda estudiosos que se destacaram nos estudos psicanalíticos, como Jacques Lacan, Melaine Klein e Ana Freud (filha de Sigmund Freud).
Na última parte, intitulada O futuro da psicanálise, a autora se refere com firmeza à psicanálise como ciência a analisa como ela tem se desenvolvido desde a segunda metade do século XX, como também projeta com muita propriedade quais são as perspectivas futuras dessa ciência. Para isso, observa como tem sido buscada e considerada a psicanálise, desde os seus estudiosos até os clientes que a procuram. Volta a abordar algumas teorias freudianas, e faz um comparativo com as abordagens modernas, principalmente com as de Lacan. A respeito deste, ela chega a referir-se a ele como o “maior teórico do freudismo da segunda metade do século XX”, o que põe em descrédito qualquer tendência que venha a dissociar a teoria lacaniana dos princípios fundantes de Freud. Ainda comenta sobre como a psicanálise tem sido recebida nas diferentes culturas e situações políticas. A exemplo disso, deixa claro que ela não foi bem-vinda nos regimes totalitários como o nazismo e o comunismo, ao passo que não encontrou impedimentos de continuar nas ditaduras latino-americanas, e sobre esse aspecto, ela exemplifica com o caso do Brasil e da Argentina. Por fim, ela descreve várias associações psicanalíticas que estão presentes do mundo, como a IPA, a primeira associação fundada por Freud.
Com uma linguagem clara e simples, Elisabeth Roudinesco consegue, com seu livro, nos provocar inúmeras reflexões a respeito de como deve ser considerada a psicanálise. A julgar pelo título, ela consegue responder a várias questões. E aqui o que percebemos de mais surpreendente é o caráter clássico de seu texto, porque foi escrito há quase vinte anos, e no que se refere às suas previsões para a teoria freudiana (que são muitas), ela descreve com muita propriedade os desdobramentos que temos visto em relação à teoria e à prática psicanalítica. Ou seja, a obra consegue ser atual e dialogar com o homem contemporâneo e com a psicanálise praticada hoje.
Além disso, é uma provocação pungente para as associações de psicanálise espalhadas pelo mundo, em relação à sua práxis, pois ajuda a quebrar preconceitos e dogmatismos ainda presentes em muitas abordagens, como por exemplo o privilégio que se dá às teorias de Freud, em detrimento dos avanços que a psicanálise tem conquistado com os estudos mais recentes.
É obra fundamental para a formação de psicanalistas, pois apresenta aspectos que nos são muito particulares. Mas também é direcionada aos interessados nos diversos estudos da psique humana, como psiquiatras e psicólogos. Ademais, é uma leitura acessível, portanto, recomendada a qualquer pessoa curiosa nos assuntos que envolvem as práticas e os estudos psicanalíticos.