Karine Coelho 18/09/2014
Eterno prazer
ATENÇÃO: RESENHA ALTAMENTE EMOTIVA!
Conheci o vampiro Luar em 2006, em um fim de ano quente como todos os outros. Estava prestes a me formar no Ensino Médio Normal e tinha 18 anos. Encontrei Luar, ou ele me encontrou, num lugar à altura de seu charme: uma biblioteca pública. Fui encantada logo de início com a bela diagramação, com as citações no começo de cada capítulo, com a escrita soberba e com Luciano. As angústias sentidas pelo jovem Luciano eram as minhas da época, era como se aquilo fosse escrito para mim! Jamais esqueci. Outra coisa que me fez crer que estava destinada a ler aquele livro foi a data em que toda a ação começou: Sexta-Feira Santa, 29 de março de 2002. Data do meu aniversário de 14 anos. Nunca um livro tinha me tocado assim tão intimamente. E o vampiro Luar, com toda a sua majestade, charme e soberba me conquistou para sempre. Em outro verão, desta vez em 2008, já no meu segundo emprego, conheci as Sibilas Rubras através de seu Diário. Era Luar, mais uma vez aparecendo na minha vida.
Ele demorou a voltar, mas voltou. Qual não foi minha surpresa esse ano quando Kizzy Ysatis e Giulia Moon anunciaram o encontro de Kaori e Luar em duas coletâneas de contos! A ansiedade foi tanta para conferir esse encontro histórico que fui até São Paulo conferir, na Bienal do Livro. Dessa vez, levei Luar para casa, e ele ficou me observando, personificado pelo belo Igor Maion na capa, enquanto eu lia o primeiro encontro de seus encontros com a vampira oriental Kaori, no livro Flores Mortais, da Giulia Moon. A ansiedade foi tanta ao final da leitura, que me travou a iniciar Eterno Castigo, e um livro fino, que se lê em um dia, me custou uns três, porque não queria que acabasse, não queria que chegasse na novela. Mas li, li todo. E me surpreendi.
Kizzy Ysatis, como já disse antes, tem uma escrita soberba, elegante, apurada, deliciosa de se ler. Tem a beleza dos antigos clássicos românticos e pitadas de uma modernidade irônica, sedutora, sarcástica. O livro é dividido em duas partes: a primeira de contos sobre o Paralelo Noturno (Conto é aquilo que o autor quer que seja conto Mário de Andrade, São Paulo, 1922) e a segunda com a novela Perfume para Kaori (Novela é aquilo que o autor quer que seja novela Kizzy Ysatis, Bahia, 1886. Piada interna. Nem eu sei o que significa. Rsrs). Os contos são bem simples e pequenos, mas cheios de significado. O segundo, Cajita de cigarrillos, soube que era muito assustador, e que a editora da Giz ficou com medo por ter lido sozinha à noite. Acendi as luzes e fiquei bem perto do meu marido, mas não o achei assustador: achei um soco no estômago, na cara, no coração. É triste de uma forma angustiante! Te dá um aperto na alma, uma dor... E a narrativa é totalmente inovadora, por misturar primeira pessoa (na visão de suas pessoas diferentes) e terceira. Bem, o segundo que mais me chamou a atenção não poderia ser outro se não o conto que dá nome ao livro. Esse sim é assustador! E macabro! E misterioso! E... sanguinolento! E, sim, #VaiTerLuar, meu bem! Crueldade é apelido nesse conto.
E a novela, que demorei pra ler por medo de acabar rápido demais (e acabou, li em algumas horas). Kaori recebe a visita de uma certa Sibila Rubra em sua casa na Liberdade, em 1956, com um pedido de ajuda de um certo tengu (corvo) que ela conheceu no Largo de São Francisco nos anos 1920. Esse encontro tem tudo pra ser explosivo, e surpreendente, e não decepciona. O humor é ácido, o terror é requintado e a escrita, como sempre, impecável. E o final, é de derrubar qualquer kyuketsuki. Impossível não se emocionar. E impossível não querer reler tudo de novo, Kaori 1, Kaori 2, Clube dos Imortais e O Diário da Sibila Rubra! Infelizmente não tenho Kaori 1 e nem o Clube, o que parte meu coração... Mas fica a lembrança, e a esperança de ter mais encontros como esses entre meus dois de meus vampiros favoritos de toda a literatura. E, pelo amor dos deuses, Kizzy, ESCREVA MAIS, HOMEM! Sua escrita é a coisa mais linda da atualidade, não nos deixe muito tempo sem esse néctar! É um favor que você faz para a Literatura Nacional!
P.S: as ilustrações são FAN-TÁS-TI-CAS!
site: http://www.livrosfilmesemusicas.com.br/2014/09/eterno-castigo-de-kizzy-ysatis.html