fev 03/07/2021Um relato filosófico sobre sentimentos poderosoDe profundis é uma grande carta de Oscar Wilde para o amante que arruinou a sua vida, Alfred Douglas ou carinhosamente chamado de Bosie, escrita quando o autor de O Retrato de Dorian Gray estava na prisão. Nesse extenso relato Wilde relembra os momentos bons e ruins em que compartilhou com seu amigo amante. Também rememora o período dos julgamentos antes de ser preso e prestar serviços forçadamente. Além de divagar sobre questões como tristeza, perdão, alegria e assuntos pertinentes a existência e relações.
Oscar Wilde foi sem dúvida uma pessoa peculiar e extremamente interessante. Não por acaso a sua existência atraia curiosidade de todos. Ser um dândi, com certeza, o fez ser notado. Entretanto, muitas vezes enquanto lia o seu desabafo o autor me pareceu também extremamente esnobe. Ser talentoso e ter qualidades importantes não deveriam dar aval para se arrogante com os outros. Essa é a forma em que muitas vezes ele desqualifica Bosie, que eu não defendo porque afinal foi por causa dele que Wilde acabou sendo preso, apontando que ele era sem imaginação e capacidade para apreciar e entender sobre Arte. O escritor afirmava que ser assim era uma das piores coisas em um ser humano. O que faz sentido já que ele foi um dos grandes nomes em movimento artístico que prezava a estética nas diferentes formas de arte. Apesar de ter conhecimento de sua capacidade e importância em demasia não interferem no julgamento hipócrita e infeliz que o condenou.
Nas primeiras páginas, Wilde enumera todas as mazelas de ter relacionado com Alfred Douglas. De forma magoada e sentida, o autor afirma que entrou em derrocada por se relacionar com alguém tão cheio de ódio. Perdeu a sua família, amigos, toda a sua riqueza, o direito sobre suas artes. O que me frustou em grande medida foi Wilde não ter conseguido se livra de Bosie antes de ir para a cadeia. Ele tinha conhecimento de que estava em um relacionamento que fazia bem a ele e nem para a sua reputação. Wilde aponta os erros e o comportamento deplorável de Bosie inúmeras vezes assim como tenta sem sucesso acabar com a amizade entre eles. A dor e o sofrimento dos relatos são tão vivos que é possível sentir como foi a vivência entre eles. As tentativas frustradas de um relacionamento saudável que acabou indo parar na corte porque Bosie e seu pai, Jonh Douglas, nutriam ódio um pelo outro e Jonh Douglas queria que Wilde pagasse de alguma forma ao comprovar os seus comportamentos pederastas. Essa primeira parte mais focada nesse período é cheio de dor, raiva e tristeza.
Em um outro momento da carta Wilde se mostra mais introspectivo e começa a falar sobre perdão, sentimentos de forma filosófica, arte. Há inúmeras citações de obras de outros autores e de seu próprio trabalho. É possível encontrar tantas outras referências a textos bíblicos. Ele não deixa em nenhum momento o valor estético da vida, da triste e tudo mais de lado. Há sempre um momento para apontar as belezas das coisas. Além de sempre se lembrar dos amigos que sempre estiveram do seu lado no momento em que sua credibilidade foi arruinada. Nessa parte como em uma reflexão sobre sua vida e tudo o que aconteceu Wilde se parece mais tranquilo e até perdoa Bosie, mesmo que as marcas permanecessem, por tudo que fez a ele e depois a abandoná-lo na prisão sendo um péssimo amigo.
Enfim, De profundis é um relato poderoso sobre relações. Filosoficamente bonito, mas de uma tristeza enorme. Uma carta que aponta a hipocrisia de uma sociedade e o sofrimento de ser quem se é. Deixo a minha indicação.