Renata CCS 20/02/2013A sexualidade está ali, nos versos mais simples aos mais complicados
Amor - pois que é palavra essencial
“(...) O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois, são dois em um.
Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna? (...)”
Carlos Drummond de Andrade – O Amor Natural
O AMOR NATURAL apresenta um lado pouco conhecido de Drummond: são poemas eróticos e foram publicados somente após a sua morte. Não é de se espantar que tenha sido desta forma: o poeta tinha horror de ser tachado como pornográfico, por isso, a obra apenas saiu da gaveta para virar livro em 1992. Os poemas são sim de cunho erótico, mas não são, em minha opinião, vulgares ou debochados, ao contrário: o sexo aparece como algo atraente e belo, passando por um completo despudor, e são versos onde o ato sexual não eleva nem rebaixa, mas apenas expõem a condição simples, natural e crua de ser humano. Mesmo nas questões cotidianas narradas de forma simples – e como não poderia deixar de ser, poéticas – encontramos a sexualidade, os desejos, as fantasias, o corpo. Algumas pessoas fãs da poesia de Drummond podem até ficar chocadas, mas não creio que seja pelo conteúdo erótico, mas por encontrar um lado do poeta nunca antes exposto. Para mim, o livro mostrou que o “homem” também existia, além do poeta que já admirávamos. Vale a pena conferir esta obra e perceber que, no fundo, o amor é sempre natural.