Francine 18/05/2015Todas as qualidades do gênero terror reunidas em uma centena de páginas!Que livro foi esse?! Apenas pela capa podemos perceber que se trata de uma obra de gênero terror e, depois de lê-la, posso afirmar que o autor Angelo Miranda estreou impecavelmente na literatura!
Não se engane com suas poucas 105 páginas. Cada uma delas veio para assombrar você! Narrado em terceira pessoa e contextualizado no centro de São Paulo e Osasco, Análise Mortal nos apresenta Frederico Batista, ou apenas Fred, um jovem que trabalha como analista de crédito de um importante banco internacional. Em seu horário de almoço, enquanto corria apressado, Fred esbarra com um estranho velho que enigmaticamente parece conhecê-lo. O velho o ameaça por algo que Fred lhe fez e ri maldosamente, deixando nosso protagonista confuso e assustado. Chegamos a pensar que se tratava apenas de um velho caduco, até que coisas estranhas e apavorantes começam a acontecer.
O que você faria se estivesse sob ataque de uma entidade espiritual? O que faria se as pessoas à sua volta começassem, uma após a outra, a morrer de modo violento? Fred via coisas. Ele as sentia como se fossem reais. Logo depois do seu encontro inusitado com o velho, o mundo parecia disposto a devorá-lo! Nesse livro, de um modo eletrizante, acompanhamos a corrida de Fred para tentar se manter seguro, mas não há o que fazer quando o inimigo é incontrolável. Aquele maldito velho era, em pessoa, seu passaporte à insanidade!
Acho importante dizer que Fred não é o melhor dos seres humanos. E, caramba, o autor foi brilhante ao caracterizá-lo dessa forma! Fred é um covarde, que leva uma vida patética e pouco produtiva. Ele é egoísta, sem se importar em fazer algo por sua namorada ou qualquer outra pessoa. E agora, diante do perigo, vemos que Fred revela também uma personalidade com requintes de crueldade.
Análise Mortal carrega todas as qualidades do gênero terror: uma vingativa potestade espiritual; um personagem que, de tão covarde, é capaz da mais vil das atitudes para sobreviver; uma narrativa detalhista sobre a morte e o processo de morrer. Sim, é preciso estômago forte para vislumbrar o cenário que o autor retrata com suas hábeis palavras. Sentimos o sofrimento das suas vítimas não pelo vínculo que com elas estabelecemos, mas pela crueza da narrativa de Angelo Miranda, que nos faz lembrar a fragilidade da nossa espécie.
Acima dessas qualidades, considero como ponto alto de Análise Mortal alguns dilemas morais que o autor apresenta no decorrer da história. Para sobreviver, por exemplo, uma vil opção é apresentada a Fred e, francamente, desejei lançá-lo nas mãos do temível velho antes que pudesse aceitá-la. É baixa, cruel e desumana. Em seu desfecho, o autor também conseguiu me convencer sobre como nossas ações trazem consequências (algumas vezes) tão terríveis quanto incompreensíveis. Para um livro de gênero terror com apenas uma centena de páginas, Angelo Miranda merece congratulações pela sua qualidade.
Como fragilidades apresento a diagramação realizada pela Ar Editora, que diminuiu a fonte do livro e deixou espaços largos entre os parágrafos, e o apelo a descrições sobre o modo como o corpo das vítimas sofria as mazelas de sua morte. Eu imaginei as cenas com tanta riqueza de detalhes que, confesso, minha leitura fluiu lenta pelo teor pesado da obra. Senti que o autor poderia dar maior ênfase ao suspense da situação do que, propriamente, a cenários grotescos. Apesar disso, considero Análise Mortal um ótimo livro, uma vez que Angelo Miranda alcançou seu objetivo de provocar desconforto no leitor – tal como uma boa história de terror deve fazer. Uma leitura que recomendo!
Resenha postada no blog My Queen Side:
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http://www.myqueenside.blogspot.com.br/2015/05/resenha-90-analise-mortal.html