Lor 03/12/2018
Notas de primavera sobre impressões de Ilyitch
Este livro por muitos é considerado a obra prima de Tolstoi, mais até do que Guerra e Paz e Anna Karenina. É um livro curto, rápido e de fácil leitura, narrado de forma intensamente real. Há certos temas dentro da literatura que devem ser muito bem trabalhados para que os pensamentos não fiquem soltos e possa haver uma reflexão mais profunda por parte do leitor. Tolstoi faz isso de forma brilhante em "A Morte de Ivan Ilitch".
O tema da morte, trabalhado por milhares de autores ao redor do mundo parece ao escritor russo simples, e é dessa forma que ele a descreve em seu livro. Por meio de seu personagem, com quem nós facilmente nos identificamos, o autor cria esse cenário da impotência humana perante a morte, a luta diária que fazemos contra ela e a vontade sub-humana de permanecermos na terra.
Ivan Ilitch, personagem principal, e sua família são o dia a dia de muitos. A fachada da família perfeita, do casal, dos filhos , mas que por trás tem uma vida desarmoniosa. O casamento que com o passar dos anos começa a morrer, a chegada dos filhos, trabalho , vida, doença e morte, tudo isso inserido em uma sociedade de aparências que não se restringe apenas a sociedade russa do século XIX, mas que se perpetua até os dias de hoje.
A história se passa em uma Rússia que está se desenvolvendo industrialmente e narra a vida de uma família aparentemente simples, mas que, como todas, em seu íntimo, tem problemas. Ivan ilitch é um juiz bem-sucedido, que se casa por dinheiro, com uma bela jovem e, no decorrer do tempo vê seu casamento morrer. Ele recebe uma proposta para ser juiz em outra cidade e compra um apartamento para si, mas enquanto trabalhava em sua decoração, sofre um pequeno acidente e machuca a região do rim. Depois desse acontecimento a narrativa gira em torno de sua doença, que não é diagnosticada e que cada médico diz ser uma coisa. Com isso, Tolstoi faz uma crítica à medicina russa da época.
A luta contra uma morte precoce, o alienamento da esposa, que não quer saber do marido, e que devido aos anos decorrentes, tem uma péssima relação com ele, assim como afastamento dos filhos - que Ivan não atura - e a constante reclamação da personagem de que ninguém o ama, de que ninguém se importa com ele e prefeririam vê-lo morto de uma vez. Ivan passa o tempo todo discutindo consigo mesmo sobre a vida e com uma frase interessante, baseada no silogismo de Aristóteles, começa sua linha de raciocínio: "Caius é humano, todo humano é mortal, portanto Caius é mortal". A partir disso uma reflexão extremamente profunda sobre o modo como devemos viver se inicia. A cada página nos colocamos em seu lugar , e imaginamos se realmente vivemos de modo correto. Mas como se vive corretamente? A essa pergunta Tolstoi não responde, e cabe a nos encontramos sua resposta