Henrique Fendrich 01/09/2015
Zeca Baleiro, um dinossauro inquieto
Zeca Baleiro não quer parecer um dinossauro – embora, ele confessa, provavelmente pareça. Mas é que sempre defendeu o uso inteligente, comedido e crítico dos apetrechos eletrônicos, e certamente não é isto o que encontra quando olha ao seu redor. O mundo está envolto em uma névoa de instantaneidade e fugacidade. O mundo é pura evasão. E a Internet, embora dádiva que facilita o acesso à informação, não garante o estofo para julgá-la, além de povoar o mundo de covardes anônimos e cheios de opinião. São rumos que incomodam terrivelmente a Zeca Baleiro. São inquietações que o músico, filósofo de botequim assumido, compartilha em seu segundo livro, o bom “A Rede Idiota e outros textos” (Reformatório, 2014).
Composto em sua maioria por crônicas escritas para a IstoÉ, o livro revela um autor que indaga a si mesmo, que parece disposto a reconsiderar, o que não é pouco nos dias de hoje. Ao fazer isto, leva o próprio leitor a fazer o mesmo. Mas nem todo mundo está disposto a semelhante exercício, sobretudo nesses tempos de patrulha de comportamento, de catequese de boas maneiras, e o resultado é que, vez ou outra, Zeca Baleiro mexe em casas de maribondos.
Às vezes, no entanto, é preciso deixar bem claras as diferenças entre você e o mundo, por mais presunçosa que esta informação possa parecer. A Zeca incomoda a afetação de simplicidade, a indústria de bons modos e bem-viver, a febre por realidade, a preparação de crianças para o mercado de trabalho, o mundo e suas instituições trabalhando para fazer protagonistas, nunca pessoas colaborativas. Porque, à medida que o mundo caminha nessa direção, vai ficando para trás um outro mundo – de iniciativas, de gestos solidários, de amizade, de improvisação.
Chama a atenção que, com o passar das crônicas, Zeca parece arriscar tratamentos um pouco mais literários aos temas que lhe inquietam. Assim são feitos diálogos bem interessantes em que dois interlocutores defendem posições antagonistas e também verdadeiros contos, como é o caso de “Imortal” e “Enquanto isso, na sala de criação”. O cronista também está atento ao que acontece no noticiário e se interessa pelas histórias de palavras, nomes, santos.
Em uma segunda parte do livro, há algumas crônicas especializadas sobre música, escritas para um blog da revista piauí, além de textos esparsos publicados pela imprensa, a maioria também relacionados ao universo musical. Por fim, cinco textos inéditos com aquilo que chama de “brevíssimas reflexões”, acompanhados de “memórias longínquas”, em que Zeca reforça várias de suas aflições e confirma que é preciso dar um espaço para que escreva regularmente.
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