ZyFeZ 22/01/2015O Incolor TsukuruEu sou um fã meio estranho do Haruki Murakami. Eu amo todos os livros dele assim que os pego pra ler, e no final eu mudo completamente de ideia. Aparentemente as pessoas que elegem os candidatos para o Nobel de Literatura pensam a mesma coisa, já que todo ano ele é sempre um dos mais cotados a receber o prêmio, mas nunca acaba levando a moedona gigante de ouro das mãos do rei sueco.
Muito provavelmente isso se deve a literatura oriental ser bem diferente da nossa. Assim como a maioria das outras formas de arte produzidas por lá, eles não possuem uma necessidade de ter todos os fatos explicados e resolvidos quanto o povo ocidental. Subjetividade acaba sendo um ponto marcante da literatura daquele lado do mundo, e as coisas não precisam ter um fim tão pontual, deixando bastante coisa para interpretação do leitor.
O Murakami é um mestre ao abordar relacionamentos entre as pessoas. Sendo um antigo dono de um bar de jazz, e com essa aura de meia luz melancólica compondo a atmosfera de quase todas as suas obras, os personagens criados pelo autor são em sua maioria sozinhos, auto-contemplativos e com relações que beiram a depressão. Todos os diálogos e situações são incrivelmente dotadas de uma profundidade e complexidade, mas ao mesmo tempo calmo, como uma boa sessão musical do estilo.
As coisas mudam um pouco de figura ao chegar na metade de suas obras, onde geralmente os traços do sobrenatural começam a aparecer e tudo começa a parar de fazer sentido. Aquela coisa bucólica que encanta tanto no início acaba se perdendo no caos e no que parece grandes viagens de LSD. Por esse motivo, eu sempre gostei bastante de Norwegian Wood, um dos livros dele sem esse desvio e totalmente calcado nas relações do protagonista. E agora posso dizer que gosto muito de “O Incolor Tsukuru Tazaki e Seus Anos de Peregrinação”.
Murakami
Após ser expulso de seu grupo de amigos da infância, sem qualquer explicação, Tsukuro passa a viver sua vida, não sozinho pois mulheres e amantes sempre cruzam seu caminho, mas em completa solidão. Até decidir ir atrás e resolver seus fantasmas do passado.
Esse novo livro do Haruki Murakami é quase uma demonstração do autor do que ele pode fazer para rebater todas as críticas que fiz aos seus últimos livros. Citações a músicas clássicas, viagens contemplativas ao interior do Japão e diálogos sobre os anseios humanos debaixo da chuva campestre. Toda aquela atmosfera tão bem produzida, impregnada com uma estranha nostalgia, está sempre acompanhando o personagem que tenta entender sua sina de ser “incolor e sem talentos” ao se comparar com seus amigos.
Não sei se é o melhor livro para se ler no verão ou se você estiver passando por alguma crise depressiva, mas o melhor do autor está aqui. Se ele receber um Nobel agora em 2015, ai sim, será com todas as glórias.
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http://monstertape.com.br/o-incolor-tsukuru-tazaki/