Sabrina 28/09/2016
A famosa desconstrução.
Um livro que dá um tapa na sua cara. Aquilo que muitos denominam como horrível, sofrível, errado ou inadequado, é explicado por Marcos Bagno como algo construído sobre as bases ilusórias do chamado purismo linguístico. Por meio de um um passo a passo detalhado, o livro mostra como estamos imersos na ilusão de um possível domínio da norma culta. Ilusório porque a língua é mutável, e permanece sob mudança o tempo todo.
Além disso, o autor mostra exemplos de inadequações que pessoas letradas, como eu e você, fazemos sem perceber. Estaríamos nós, portanto, no mesmo patamar de pessoas que falam "para mim fazer"? Quem decide o que é mais ou menos aceitável? Como resposta a essas e tantas outras perguntas, o autor segue a linha do "tanto faz!". De acordo com Bagno, tanto faz falar meia cansada ou meio cansado. Tanto faz dizer que isso é pra mim fazer ou pra eu fazer. O falar certo ou falar errado é, na verdade, uma construção social.
Não nego que concordei bem com muitas coisas ditas ali e ainda estou resistente a outras colocações, mas para mim, o maior destaque desse livro foi justamente provocar toda essa inquietação. Inevitavelmente a gente se pega refletindo sobre como enxergamos nossa própria língua e nós mesmos como falantes de português.
O livro gera também uma reflexão sobre como o português é ensinado (e eu finalmente me senti abraçada porque sempre achei um absurdo a gente estudar aquelas tabelas com vos, conjugações verbais que ninguém usa, e regras que ninguém segue). Outro ponto interessante foi a reflexão sobre o que é a "Normal Culta". Não parece uma entidade superior? O autor fala muito sobre isso e desmitifica essa ideia de superioridade que eu tinha - e que provavelmente você também tem. Por fim, A Academnia Brasileira de Letras também é mencionada, mas com certo desprezo. Fiquei, confesso, um pouco ofendida. Embora parte de uma tradição elitista, acho uma instituição com uma história e missão muito bonita.
No mais, excelente leitura para ampliar horizontes e questionar nossas próprias certezas.