Carous 14/07/2017Preparativo precisa ter o leitor para aguentar Winn e seus white problemsTem uns livros que eu leio e não gosto, mas deixo a critério de cada um ler para saber que se teremos a mesma opinião ou não. Não é o caso deste livro. Não leiam e percam o tempo de vocês. Não acrescenta nada, não é divertido. Não devia nem ter sido escrito que dirá traduzido e publicado.
Eu mesma não tive estômago para ler até o fim e acabei abandonando. 2016 não foi ruim apenas na política e no meio artístico – morreu tanta gente, né? -, minhas leituras, salvo raras exceções, também foram bombas atrás de bombas que larguei no meio do caminho.
Tudo gira em torno do casamento de Daphne. Embora ela não chegue nem perto de ser a protagonista. Quase não aparece no livro. Surge algumas vezes, sempre chantageando emocionalmente os parentes que vieram para a ocasião a serem gentis além do limite com ela por causa da sua gravidez, ou tomando sol com as madrinhas ou reclamando de ter que se casar com barrigão. Tadinha, apesar de ser mimada, alienada e fútil, eu tive pena dela: era para ela e o futuro marido serem os personagens centrais desse evento, mas eles não têm participação nem nas decisões da própria festa de casamento!
A história é narrada em terceira pessoa, narrador que sabe todos os pensamentos asquerosos de Winn que eu não tinha a mínima necessidade de saber.
Eu pensei que a vantagem de uma mulher escrever um livro com personagem principal masculino era amenizar o quanto eles podem ser crápulas. Talvez um toque feminino eliminaria a chance de lermos alguma passagem machista do personagem. Mas ela resolveu mostrar cruamente como homens eles podem ser baixos. E Winn, sem sombra de dúvida, é o tipo mais nojento de homem que pode existir.
Winn é o estereótipo do homem branco de classe média alta: conservador, hipócrita e machista. A filha mais velha vai se casar porque para ele é um horror que ela tenha engravidado antes de dizer sim. A filha mais nova está passando por um momento complicado na vida – fim de uma relação que ela apostou alto, perdas imensuráveis, etc -, mas ele está mais preocupado de não ter sido aceito como sócio de mais um clube. E ao invés de dar apoio à filha, fica ruminando se o término do namoro dela teve alguma relação com isso. A esposa..., bom, se sua mente não estivesse tão ocupada com a melhor amiga da filha mais velha – que ele conhece desde criança, que tem a mesma idade da Daphne, que poderia ser filha dele – ele seria mais companheiro com ela.
Winn não é um homem legal: ele relata ao leitor o quanto ficou triste por sua esposa ter parido duas mulheres, e não varões como ele desejava. Porque ele não sabia nada sobre meninas – também não se mexeu para aprender -, era machista demais para brincar de princesas e conhecer esse mundo rosa que suas filhas tanto amavam. Assim, as filhas eram mais próximas da mãe, e ele achava, na sua ignorância sexista, que a culpa era do gênero dela e não dele não ser um bom pai.
Ele queria o casamento da filha por causa da moral e dos bons costumes, lamentou que não tenha sido realizado antes da barriga de Daphne começar a aparecer – que tragédia! -, mas não se envolveu com os preparativos, não se aproximou do futuro genro ou da família dele e mesmo no final de semana em que a festa ia acontecer, estava mais preocupado que a casa de veraneio estava cheia de gente, logo ele não poderia relaxar nela do que com tudo ocorresse bem e que a filha fosse feliz.
Para piorar essa leitura sofrida, Maggie resolveu abordar esse flerte entre Agatha e Winn. Reprovo e detesto em qualquer tipo de arte esse plot sobre homem mais velho se envolvendo com moças que têm idade para ser suas filhas. Principalmente quando o homem em questão conhece a moça desde criança. Principalmente quando se trata de uma amiga de seus filhos. Qualquer coisa que remeta a uma releitura de Lolita me revolta o estômago e eu não consigo ir adiante. E odiei que Maggie tenha mostrado Agatha dando em cima de Winn. A culpa é minha de ter confiado que uma escritora, por ser mulher, não abordaria essa temática mostrando interesse da parte feminina.
O livro pode agradar os fãs saudosos das clássicas novelas de Manoel Carlos. Gente rica reunida, uma futilidade sem fim rodeando a vida dos personagens.
Não fosse Winn, um personagem com uma moral precária, e esse jogo de sedução entre ele e Agatha, eu me obrigaria a terminar de ler o livro para saber o desfecho. Inclusive para saber o que a baleia encalhada tem a ver com a história.
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