spoiler visualizarAghata14 07/04/2024
Parece clichê mas todos nós ainda temos um sonho.
É a primeira vez lendo de forma aprofundado sobre o Martim L. King. Conhecia assim, de forma geral fruto do pouco que se estuda sobre o nome e que ouve-se falar.
Tendo em vista de se tratar de uma autobiografia e que foi adequada de maneira a preservar as ideias do King, não temos uma leitura difícil, ao ler é possível perceber como flui de forma clara.
Estamos dando um passo para dentro da vida do Martin Luther King e ao mesmo tempo conhecendo as suas dores e as suas lutas.
Como não conhecia a sua história de maneira detalhada, desconhecia o fato que o King tinha uma devoção tão alta e como desenvolveu estudos e se tornou pastor.
Fica bem claro como a sua devoção era grandiosa e forte, e diversa foram as vezes em que ele demonstra isso ao recorrer a Deus, como por
exemplo quando precisou escrever um discurso que seria o seu primeiro e ele diz ?sem outro recurso que não a fé num poder cuja força inigualável se opõe às fragilidades e inadequações da natureza humana,voltei-me a Deus em oração.?
Agora uma opinião extremamente pessoal. Me causa muita incomodação esse ?caminhar de mãos dadas? da religião e temas assim. E essa opinião se dá em decorrência de uma visão ampla a cerca do crer em algo, esse lado devoto dele me incomodou achei que não precisava ser tão carregado.
King parece ser um representante de uma ideia nobre, acreditar que o amor e a palavra de ?deus? seria a resposta pra salvar as coisas. É uma mistura de nobreza com ingenuidade, olhando de uma maneira humana, isso é muito bonito, mas olhando de uma maneira concreta, é difícil acreditar que o ?amor? é a salvação para lidar com pessoas racistas.
O primeiro conflito liderado pelo King foi em decorrência do protesto que estavam fazendo em relação ao lugar do negro em ônibus, não queriam (com toda a razão) sempre se deslocar ao fundo (onde era seu lugar seguindo as leis segregacionistas), queriam ser tratados como pessoas dignas e com a liberdade de sentar onde bem entender.
King sempre defendeu manifestações pacíficas, acreditava que a resposta que deveriam dar no movimento era através da pacificidade. Contudo, apesar deste pensamento o outro lado começou a vê-lo como uma figura alarmante. Começaram a surgir boatos de modo a prejudicar o protesto, a polícia estava em cima dele e começaram as ameaças de vida e o uso da violência.
E mais uma vez em meio à conflito e medo, King rezou.
As intimidações começaram a ficar pesadas, queriam de alguma forma fazer com que ele recuasse. Jogaram uma bomba na casa dele, onde estava a sua mulher e a sua filha recém nascida, sem explicação as ações dessas pessoas.
E falando de sua mulher, é puramente o retrato de uma pessoa forte, calma e paciente, se manteve assim apesar de tudo, sempre apoiando o King e não demostrando sentir medo.
Chega ser admirável o King acreditar que a resposta que eles deveriam dar aos racistas era não responder com violência, e assim ele pensa: ?fiquei convencido de que, se o movimento mantivesse o espírito da não violência, nossa luta e nosso exemplo iriam desafiar e ajudar e redimir não apenas os Estados Unidos, mas o mundo.? Isso funcionaria em dias atuais? Talvez não.
Durante a figura de líder King foi preso e a mais ridículas delas foi uma vez sob a ?desculpa? de ter violado a condicional em virtude de multa de trânsito. Nessa prisão claramente resultado de perseguição, o então concorrente a presidência Kennedy se mostrou preocupado e tentou ajudar, ligou para o juíz do caso. King foi solto na manhã seguinte.
Também é admirável a postura que o King manteve durante o exercício dessa figura central de um movimento. Em diversas situações, sentimentos ambivalentes sobrecarregaram a sua mente, principalmente quando sofria algum atentado, uma resposta pela oposição como forma de barrar a sua liderança, ou mesmo saber que tudo isso decorria do ódio que eles sentem pela sua cor, um sentimento de ódio por está vivendo tudo isso passava pela sua cabeça assim como o sentimento de ainda responder com a não violência todas essas agressões.
Tenho minhas dúvidas se esse tipo de posicionamento funcionaria nos dias de hoje. King acreditava que o caminho seria de amor e protesto não violentos. Pregava isso na sua comunidade, enfrentavam policiais sem devolver com a violência e assim eram presos.
?Haverá trechos tortuosos. Haverá curvas e momentos difíceis, e seremos tentados a retaliar usando o mesmo tipo de força que nossos opositores vão usar. Mas eu vou lhe dizer: ?Espere aí, Birmingham. Alguém deve ter bom senso aqui.? King se esforça em passar para os seus apoiadores não retribuir na mesma moeda.
?Eu tenho um sonho?
?Não podemos caminhar sozinhos. E ao caminharmos devemos fazer a promessa de que iremos sempre em frente. Nós não podemos retroceder.?
?Não poderemos estar satisfeitos enquanto o negro for vítima de horrores indizíveis da brutalidade policial.
?Não poderemos estar satisfeito enquanto nossos filhos forem privados do respeito próprio e da dignidade por cartazes que dizem ?só para brancos??.
?Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente arraigado no sonho americano.?
Foi um dos discursos mais famosos que o King fez proferido em 28 de agosto de 1963 em Washington. Um discurso que ecoa até hoje, porque algumas coisas por mais que o tempo passe elas nunca mudam. E uma delas é a luta contra o preconceito.
Não lutamos mais para reconhecer o direito de sentar onde quisermos dentro dos ônibus, mas em compensação ainda lutamos por dignidade e ser tratados como pessoas.
Pensar que a luta começou lá na cidade em decorrência da negação de sentar no lugar destinado ao negro, começou a tomar outras proporções e alcance maiores (para ambos os lados) parece bizarro você ler que precisou de um movimento para se reconhecer direitos, para uma parcela da população ser tratada como gente.
Ao passo que muita coisa mudou e não podemos negar isso, parece que o lado deles também fez questão de continuar sendo preconceituosos. E hoje em dia muito mais explícito e violento.
Ao ler essa história e tantas outras, penso como são marcados por tristeza, por dor, é luta atrás de luta. Não haverá um dia em que não estaremos atrás do mínimo?
?Mas eu sabia que, para vencer, tínhamos de lutar, e a luta vitoriosa era aquela travada coletivamente pelas massas de nosso povo e da população trabalhadora em geral.? - Angela Davis.