O boxeador polaco

O boxeador polaco Eduardo Halfon




Resenhas - O Boxeador Polaco


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leiturasdabiaprado 01/11/2023

Eu acho que um dos grandes papéis da literatura é furar a nossa bolha, nos permitir conhecer novas culturas, outras histórias, realidades adversas... e dentro desse contexto eu conheci a coleção "Otra Língua" da Editora Rocco que explora a literatura da América Latina.
O Boxeador Polaco é o terceiro, ou quarto, livro que leio dessa coleção e posso dizer que foi muito bom conhecer um pouco da escrita de Guatemala através das palavras de Eduardo Halfon.
Eduardo é um engenheiro que virou professor universitário de literatura, e, aqui em O Boxeador Polaco temos seis contos seus, sendo o penúltimo (que da nome ao livro) um relato da história de seu avô que foi um sobrevivente de Auschwitz.
Os outros contos perpassam pelo universo acadêmico, pelas artes, sejam elas literárias ou musicais!
Um livro para nos fazer pensar sobre o impacto da literatura no mundo real e o impacto da realidade na literatura, a simbiose entre os dois, sua submissão, as veias da ficção e seus parênteses!
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Fernanda 09/08/2022

Contos da metaliteratura profundamente latinos
"Disse a ela que minha cadeiras, graças a Deus, eram politicamente incorretas. Em outras palavras, Lígia, são sinceras. Assim como a arte. Grandes contistas, e ponto."

Li por conta do #DesafioHispanoHablante e como sou grata a isso, pois se não fosse tal desafio dificilmente iria dar uma chance a essa leitura. São contos 4 contos que tocam em diversos assuntos e se entrelaçam com o uso da metaliteratura de modo extremamente bem escrito e impactante. Definitivamente, um livro profundamente latino.
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Thais.Carvalho 05/08/2021

O livro tem contos no qual o narrador e personagem principal é um professor universitário de literária da Guatemala. É uma leitura muito interessante, que retém a atenção.
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Lari 17/01/2021

Amei! São contos curtos que se relacionam uns com os outros e falam sobre a própria literatura, música clássica até chegar na realidade brutal dos sobreviventes do holocausto, numa reflexão simples e deliciosa. Literatura latino-americana contemporânea que recomendo muito!
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jota 17/09/2020

Avaliação da leitura: 4,3/5,0 – MUITO BOM (interessantes relatos envolvendo autoficção e metaliteratura)
Nascido na Guatemala em 1971, Eduardo Halfon inicia seus relatos com uma citação de Henry Miller, autor de Trópico de Câncer: “Passei a máquina de escrever para o outro quarto, onde posso me ver no espelho enquanto escrevo.” Significa não somente que o escritor busca se autoconhecer, também que muito do que o leitor vai encontrar nessas páginas tem acentuado caráter autobiográfico: são coisas de sua família polonesa e judia, fatos que viveu, histórias que tomou emprestado de outros para contar, situações que imaginou etc. Aqui, Halfon é tanto o narrador quanto o personagem: olhou-se no espelho e escreveu sobre o que viu fazendo autoficção. A biografia é um dos elementos fundamentais nesses relatos assim como as questões que envolvem a literatura.

O autor do posfácio é o escritor brasileiro Antonio Xerxenesky; ele faz o elogio de Halfon e explica suas narrativas refletindo Miller: intitulou-o A Escrita no Espelho. Texto muito apropriado para se conhecer um pouco melhor Halfon e sua literatura. Ou melhor, sua metaliteratura. Porque seus escritos são repletos de menções a outros textos e autores, gente que aprecia em diversos setores artísticos. Assim, não faz referências apenas a escritores como Cervantes, Poe, Tchekhov, Maupassant, Joyce, ou a filósofos, como Platão, também menciona aqui e ali os cineastas Ingmar Bergman e Emir Kusturica, o pintor Amedeo Modigliani, o dramaturgo Dario Fo e o jazzista Thelonius Monk.

Essas referências não significam que o leitor encontrará dificuldades para entender a metaliteratura do autor: ele claramente não é um “escritor para escritores”, como costumam ser designados aqueles que hermética ou cerebralmente escrevem para um público especifico, outros escritores, intelectuais, críticos etc. As citações de Halfon são contextualizadas, integram-se organicamente no texto. Como destaca Xerxenesky, sua autoficção “não é algo que está encerrado em volumes empoeirados na biblioteca, mas que causa um impacto em quem nós somos e como nos comportamos.” Ou seja, “falar de livros é falar de pessoas”, dialogar. O mesmo se poderia dizer de filmes, discos, pinturas ou peças de teatro que dialogam entre si.

Em O Boxeador Polaco não há relatos tradicionais, como os que encontramos na maioria das narrativas que costumeiramente lemos, em que um personagem é o próprio narrador ou que um terceiro narra uma história, porque neles, como já se disse, Halfon é simultaneamente narrador e personagem (Eduardo, senhor Halfon, Eduardito, professor, palestrante, neto etc.). A unir quase tudo está o tal boxeador polaco do título, que teria ajudado a sobreviver em Auschwitz um homem que tem um número de cinco dígitos tatuado no antebraço esquerdo. Halfon, quando menino, julgava ser esse o número de telefone do avô, ali gravado para nunca ser esquecido (os telefones na Guatemala de então tinham também cinco dígitos). É um fragmento de história que só vai se tornar um relato completo no quinto texto do volume.

O Boxeador Polaco traz cinco narrativas que transitam numa linha imprecisa entre ficção e realidade, mas o que importa aqui é que tudo resulta em literatura de muito boa qualidade. O texto final é um discurso proferido em Póvoa de Varzim, cidade portuguesa (onde nasceu Eça de Queirós) que anualmente promove um conhecido festival literário. Mas tudo começa com Distante, a primeira narrativa, que tem humor e drama: Juan, jovem universitário de ascendência indígena, se vê dividido entre os estudos, as obrigações familiares e o amor pela poesia. Juan se vê compelido a largar a escola e seu professor de literatura, o próprio Halfon, vai atrás dele em seu distante povoado saber o motivo da desistência, já que é seu melhor aluno. Mas há uma coisa da qual o rapaz não desiste...

O segundo texto é Twaineando, que se passa num congresso acadêmico na Carolina do Norte (EUA) reunindo estudiosos da obra de Mark Twain. Todos ali parecem meio entediados ou dispersos para Halfon, que se dá bem apenas com um idoso participante, para quem o humor é fundamental na literatura. Em sua apresentação Halfon discorre sobre as semelhanças que vê na relação entre Tom Sawyer e Huck Finn e entre Sancho Pança e Dom Quixote. O relato termina com uma anedota, depois de várias observações engraçadas ou espirituosas que vamos encontrando ao longo desse relato. Primeira vez em que o boxeador polaco é mencionado.

Fumaça Branca é o terceiro relato. Nele Halfon conhece duas viajantes israelitas num bar escocês em Antiga Guatemala, elas estão viajando pelo mundo após o término do serviço militar. Ocorre certa tensão sexual entre ele e uma das garotas mas a coisa parece não avançar. Na trilha sonora dois Bobs: primeiro Marley, depois Dylan. Em seguida vem Epístrofe, texto que versa sobre o encontro do narrador e sua namorada com um pianista sérvio de origem cigana. Conversa gira basicamente em torno do jazz, em especial da música do pianista e compositor Thelonius Monk.

O último relato, que dá nome ao livro nem é tanto sobre o lutador polonês prisioneiro no campo de concentração de Auschwitz, que teria ensinado ao avô de Halfon (que tem um número tatuado no braço) como sobreviver ali. É muito mais sobre as lembranças do avô prisioneiro dos alemães e as recordações dele de quando Halfon era criança. Em Discurso de Póvoa, que fecha os relatos, Halfon discorre sobre o tema proposto pelos organizadores do evento: “A literatura rasga a realidade”. Nele, trata dos limites da ficção e os limites da realidade (para construir uma realidade a literatura talvez precise destruir outra), questões sobre as quais reflete com maestria, como afirma Xerxenesky, com razão.

Lido entre 14 e 17/09/2020.
Velho, feio, pobre e burro 23/09/2020minha estante
É um livro muito bom, realmente. Mas o meu preferido dele é "Luto", novela curta na qual o universo desses contos aparece novamente, mas costurados de uma forma magistral. O crítico Ubiratan avaliou "Luto" como uma das melhores leituras de 2018, quando foi lançado. Vale a pena.


jota 23/09/2020minha estante
Não conhecia. Vou me informar sobre. Grato.




Ana Lúcia 23/09/2018

Sensível
Livro lindo, tocante. É um livro que nos diz tanto, que nos toca com sua sensibilidade.
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Aline T.K.M. | @aline_tkm 18/11/2016

A ficção influencia a vida
Considerado um dos melhores escritores hispano-americanos da atualidade e traduzido em diversos idiomas, o guatemalteco Eduardo Halfon é autor e narrador-personagem dos contos que compõem O Boxeador Polaco – mais um título indispensável da Coleção Otra Língua, de autores latino-americanos, publicada pela editora Rocco.

Os cinco contos – e também o discurso no final do livro – lançam um olhar à literatura e ao encontro desta com a realidade, com a vida, as pessoas e o mundo. Na esquina em que o racional e o poético se encontram, é aí que Halfon se instala para contar suas histórias.

Ao contrário do que a princípio se pode imaginar, a fartura de referências literárias não intimida; com tom metaliterário despretensioso e sem cair no extremo do intelectual, o autor usa tais referências para mostrar como a ficção influencia a vida e a maneira como a percebemos.

Exemplo disso é a garota Annie Castillo, de “Distante”, a primeira história do livro, que admite não ter gostado de um conto de Maupassant justamente por ter se identificado demais com o protagonista. Assim como o personagem do clássico francês, a garota não sabe lidar com a própria solidão. “Suponho que odiamos aquilo que somos” é o que ela diz em um e-mail ao professor Halfon. Também o personagem central de “Distante” tem uma forte ligação com a literatura. Trata-se de um jovem com um dom para a poesia, mas que passa por dificuldades que o impedem de continuar os estudos.

O universo acadêmico aparece com certa frequência nas tramas. Em “Twaineando” – assim como em “Distante” – Eduardo Halfon é um professor universitário que viaja aos Estados Unidos para participar de uma conferência sobre Mark Twain. Apesar de seu interesse sobre o tema, permanece afastado de tudo e de todos; essa barreira só revela uma brecha ao se aproximar de um senhor já idoso e grande conhecedor da literatura de Twain.

“Fumaça Branca” traz Eduardo Halfon em um bar, onde conhece uma jovem garota israelense que acabara recentemente o serviço militar. Ouvindo os Bobs (Marley e Dylan) e trazendo à memória um poema de e.e. cummings, ambos falam sobre tomar ácido e engatam uma breve conversa sobre o divino.

Em “Epístrofe” o assunto trilha o rumo das artes, mais especificamente, da música. No conto, o protagonista e a mulher, Lía, fazem amizade com um pianista clássico um tanto incomum.

“O boxeador polaco”, que empresta o título ao livro, é sem dúvida o conto mais memorável. Mexendo com a memória e com a dor, Halfon (o personagem) narra a história de seu avô – inspirado no próprio avô do autor – que, depois de uma vida inteira em silêncio, decide contar como sobreviveu ao campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial graças à ajuda de um boxeador polaco. De maneira sensível mas curiosa, Halfon nos conta que acreditava, em menino, que aqueles cinco dígitos tatuados no antebraço esquerdo do avô nada mais eram que um lembrete de seu número de telefone.

Por fim, em “Discurso de Póvoa”, Eduardo Halfon – desta vez o autor – discorre sobre o que é a realidade e como contá-la por meio da literatura. Tem lugar, então, uma reflexão sobre o vínculo entre literatura e realidade, regada por um filme de Ingmar Bergman em uma noite de insônia e pela memória do avô – aquele mesmo avô que sobreviveu a Auschwitz. Reflexão cuja origem se encontra no tema de um encontro literário, “A literatura rasga a realidade”, recebido por e-mail pelo autor algumas semanas antes.

Ao mergulhar no livro – e, portanto, no mundo – de Halfon, duas coisas chamaram minha atenção. A primeira delas foi a simplicidade da narrativa, salpicada aqui e ali por um humor não óbvio e livre de exageros emocionais. E aí está justamente o segundo aspecto que me atraiu: Eduardo Halfon consegue trazer temas sensíveis – Auschwitz, ou o jovem talentoso que precisa largar os estudos – e enveredar por discussões com tom filosófico sem, no entanto, despejar uma enorme carga emocional no texto. Há leveza na maneira como ele conduz suas histórias e o leitor tem papel fundamental nas conclusões finais, na digestão daquilo que acaba de ler.

Além da busca por respostas e pelas próprias origens, as histórias em O Boxeador Polaco são marcadas por encontros – com o outro e consigo mesmo. E, permeando cada um deles, há o contato entre o poético e o racional. Arte e mundo, literatura e realidade – qual é o vínculo entre eles? Como é que a literatura alcança a realidade, ou é a realidade que alcança a literatura?

Se existe uma resposta definitiva, não sei dizer, mas tomo emprestadas as palavras do próprio Eduardo Halfon nesta que considero uma espécie de explicação bastante justa: “A literatura não é mais que um bom truque, como o de um mago ou um bruxo, que faz a realidade parecer inteira, que cria a ilusão de que a realidade é única. Ou talvez a literatura precise construir uma realidade destruindo outra (...), isto é, destruindo-se a si mesma e depois construindo-se de novo a partir de seus próprios escombros. Ou talvez a literatura, como sustentava um velho amigo do Brooklyn, não é mais que o discurso atropelado e ziguezagueante de um gago”.

LEIA PORQUE...
Essa discussão sobre literatura e realidade dá pano para manga e faz a gente pensar. Além disso, há diversas referências literárias – imagino que muita gente, assim como eu, adora ler livros que falam de outros livros e autores.

O posfácio, assinado por Antônio Xerxenesky, aborda brevemente cada um dos contos e toca de leve na questão “literatura e realidade”.

DA EXPERIÊNCIA...
Leitura de poucas sentadas. Fiquei muito satisfeita pela chance de ter lido Halfon, de ter tido contato com sua obra – um autor que eu não conhecia e que hoje tem portas abertas na minha estante. Terminei a leitura amando ainda mais a Coleção Otra Língua.

FEZ PENSAR EM...
Vergonha (Skammen), filme de Ingmar Bergman citado por Halfon enquanto discorria sobre realidade e literatura.


site: Livro Lab
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Inácio 02/12/2014

Halfon faz da metaliteratura algo simples e prazeroso
Nunca me apeteceu metaliteratura.

Pausa para dizer que, por metaliteratura, é a literatura que trata de literatura. Romances que falam de outros romances, poesia, outros escritores. Enfim, escrever sobre o ato de escrever.

Sempre achei uma coisa meio parecida com punheta intelectual. O prefaciador do livro 'O boxeador polaco', o senhor Antônio Xerxenesky aparentemente também tem a mesma opinião que eu.

Descubro no google que Xerxenesky é um jovem mais sabido que eu, é editor, tradutor e um bocado de outras coisas mais. É bom não estar só num assunto tão delicado, principalmente acompanhado de um sujeito que escreveu um prefácio tão bom sobre um livro melhor ainda.

Pois bem, o guatemalteco Eduardo Halfon levou a metaliteratura para outro patamar com 'O boxeador polaco', um livro que não foi lido para agradar escritores e críticos literários. Aliás, a panelinha pode até ficar um tanto ofendida com o capítulo Twaineando.

Halfon usa a metaliteratura como alavanca para tratar contar boas histórias ou levar o leitor para outros temas e caminhos embutidos nas suas pequenas histórias. No primeiro capítulo, o protagonista dá todas as pistas necessárias. Se você tem curiosidade para procurar outras verdades nas vozes de outros povos, se agarre com esse livrinho.
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