Samantha @degraudeletras 23/07/2014CONY, Carlos Heitor. Informação ao Crucificado. 6°ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.Logo nas primeiras páginas desta obra lembrei do livro O Retrato do Artista Quando Jovem, de James Joyce, tanto pelo caráter autobiográfico quanto a maneira que a história se desenvolve. Informação ao Crucificado é o terceiro livro do autor brasileiro Carlos Heitor Cony, que já fora condecorado com diversas premiações e cotado como “leitura para o vestibular” aqui no Ceará com a sua obra Rosa, Vegetal de Sangue, um infanto-juvenil muito bom por sinal.
Em Informação ao Crucificado o protagonista, João Falcão, está entre os 17 e os 19 anos e é um seminarista que estuda para ser padre. Em seu ambiente escolar, sempre rígido, buscava manobras para ler a literatura proibida (aqueles que estavam no Index da Igreja Católica) e estava sempre procurando aprofundar mais seus conhecimentos. João, que é muito dedicado aos estudos e ao seu crescimento intelectual, não se contentava com a bibliografia obsoleta adotada pela escola.
Tais leituras começam a fomentar dúvidas na cabeça de Falcão, os oito anos que passara estudando para ser padre parecem em vão pois a semente da dúvida e da razão permeia sua mente agora. O sacerdócio, posição que almejou quando ainda muito pequeno pura e simplesmente por causa da beleza do cargo, já não parece tão atrativo.
O livro se inicia com o protagonista dizendo que usará um caderno verde como diário e tudo o que se passa a partir daí são os seus escritos no tal diário, que é dividido em duas partes tituladas como dois anos consecutivos, o de 1944 e 1945. No primeiro, João Falcão está entre os 17 e os 18 anos e ainda é ingênuo, descreve em seu diário os acontecimentos do dia, os comentários dos professores, suas preses e anseios para o ano. Na segunda parte, o protagonista já não aprecia tanto o que antes fora visto como fonte de diversão e prazer (como as férias em Itaipava) e passa a escrever apontamentos, reflexões e críticas sobre o que o rodeia.
Assim como em O Retrato do Artista Quando Jovem, é possível notar o amadurecimento do protagonista principalmente por sua forma de narrar a história, seus pensamentos e reflexões. Logo no início do livro João Falcão troca a plaquinha da cabeceira da cama de “Deus me vê” para “O que adianta ao homem?” e eu vi aí, logo no início, o primeiro passo de seu crescimento.
O livro é curtinho e reflexivo na medida, embora eu tenha sentido falta de um aprofundamento maior. Em menos de 200 páginas notamos o repúdio dos padres ao que não é sagrado e a implicação disso para as privações aos adolescentes seminaristas, também é possível acompanhar a crescente dúvida em relação ao celibato que o protagonista desenvolve. Além da história que aqui é contada, o leitor se deleita numa realidade diferente da que temos hoje e pode apreciar o olhar irônico e reflexivo sobre a fé, a razão e o arrependimento.
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