Informação ao Crucificado

Informação ao Crucificado Carlos Heitor Cony




Resenhas - Informação ao Crucificado


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Pedro.Gondim 02/11/2023

Os conflitos de um seminarista
"Cristo, sendo a própria Verdade, não pode se alterar às conveniências das épocas contraditórias. O Mal, sendo a própria Mentira, deve e pode variar sempre em seus aspectos.? (p. 34)
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Otávio - @vendavaldelivros 07/08/2023

Onde mora Deus para você? O que é Deus para você? Espiritualidade, eternidade e religião são questões tão poderosas dentro das mentes humanas que é impossível padronizar sentimentos em relação a isso. Muitos anos atrás, quando ainda era católico praticante, cogitei, por um breve momento, dentro da minha mente, tornar-me padre. A ideia não evoluiu, obviamente, mas foi inevitável encontrar aqui alguém que pensava como eu em muitos sentidos.

Publicado em 1961, "Informação ao crucificado" é, juntamente com "Quase Memória", um dos livros mais autobiográficos do carioca Carlos Heitor Cony. Nele, acompanhamos os diários de João Falcão, um seminarista que registra suas tristezas, alegrias e angústias ao longo de dois anos de estudos e de sua formação como sacerdote católico.

Em uma escrita direta, mas muito filosófica e poética, Cony mostra um pouco de sua própria alma refletida em João Falcão. Mostra também suas críticas à Igreja, suas incongruências, burocracias e estruturas arcaicas (muitas que perduram até hoje). É a alma humana vivendo sob a dor da dúvida, da incerteza, de uma fé que não se sustenta por si e torna o simples ato de questionar um crime.

Gostei muito de "Quase Memória" e acertei ao acreditar que gostaria também dessa obra. Particularmente, muitas passagens me alcançaram naquele lugar de dúvida que tive em relação à fé católica e que, assim como João Falcão, me fizeram questionar e não encontrar as respostas que procurava. Livro curto e rápido de ler, mas de uma profundidade tamanha que deixa marcas em quem lê.

Para quem não conhece a obra de Cony, acho uma ótima porta de entrada, tanto para entender um pouco da alma do autor quanto para ver um retrato específico do Rio de Janeiro dos anos 40 e 50 e, claro, das rotinas internas da Igreja. Mais do que um questionamento de fé, um questionamento de humanidade.
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Michel 23/12/2020

O DILEMA DA APOSTASIA
O escritor Roa Bastos dizia que “um livro só existe na cabeça do leitor”. Ou seja, toda essa aglomeração de palavras somente toma forma quanto se insere na imaginação daquele que a lê. Mas e quando a mente se encontra prejudicada por enfados da vida cotidiana, que a impossibilita do mergulho necessário que a literatura carece? Pois bem, estou em tempos de ausência de interesse nas coisas, principalmente por conta desse tédio constante e crescente que vem me acometendo nos últimos meses, o que anda prejudicando as leituras que fiz neste período...

Desse modo, a não absorção da leitura está prejudicando as analises que faço e, portanto, estou pensando em parar com as resenhas por um tempo.

Senti a pertinência desse desabafo pela imensa dificuldade que tive em analisar este livro, cuja autoria é de um dos meus escritores favoritos. E quando se está diante de algo sabidamente aprazível e, mesmo assim, o esforço para seguir com a leitura é titânico, deve ser porque talvez seja o momento de fazer uma pausa.

Se você leu até aqui, peço que desconfie de todas as impressões que se seguirão. Aliás, é bastante saudável que se mantenha certo olhar desconfiado para qualquer desocupado, que por falta do que fazer, resolve gastar seu tempo metendo o bedelho no trabalho dos outros, como é o caso deste transgressor que vos escreve.

A literatura é uma plataforma multifacetada cujo olhar oblíquo pode até não dar conta do mundo, mas é o meio de produção cultural que mais alcança os lugares escuros e desabitados da sociedade. Neste INFORMAÇÃO AO CRUCIFICADO, o mestre Carlos Heitor Cony nos convida a conhecer um seminarista que escolhe o caminho do sacerdócio por pura estética, por considerar “bonito ser padre”, nas palavras do próprio protagonista.

João Falcão decide por vontade própria deixar a casa dos pais aos onze anos de idade e seguir para o seminário, alheio a qualquer predileção eclesiástica ou inclinação celibatária, mas apenas como um jovem inteiramente convicto de sua noção, digamos, ausente do instinto da servidão. João usa um diário de capa verde como confessionário, e é precisamente esse diário da personagem o relato de jornada de consagração a Deus que iremos acompanhar.

O tema central deste livro é a apostasia. A personagem João Falcão se encontra imerso no universo complexo da religião e as incertezas de suas escolhas entrarão em choque com os conceitos, sejam estes palatáveis ou não, estabelecidos dentro desses espaços institucionalizados.

O livro é bem escrito, como não poderia ser diferente em se tratando de Cony. João Falcão é um sujeito esclarecido, detentor de uma mente questionadora que coloca as coisas em perspectiva, analisa os fatos de um modo amplo, para além da obviedade conceitual. Há relatos imersivos, outros engraçados, há aqui uma sensibilidade tão eloquente inserida na narrativa que não vejo alternativa senão fazer uma inevitável releitura, talvez quando minha mente estiver de volta aos eixos normais.

INFORMAÇÃO AO CRUCIFICADO é um livro singular cuja temática, puramente, já é elemento instigante o bastante. Tem uma personagem carismática que causa empatia imediata, um olhar crônico agradável e os aspectos narrativos tão apreciados de um dos maiores escritores da nossa língua.

site: outras resenhas no link: http://dimensaoreluzente.blogspot.com/
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Anna Carolina 01/05/2017

Deus acabou. A natureza continua.
Com um protagonista carismático e complexo, um espaço narrativo detalhado e uma linguagem que, carregada de aforismos, é simples, porém reflexiva, Cony injeta tanta sensibilidade nessa "jornada pela essência" que é muito difícil dizer qualquer coisa sobre o livro sem comprometê-lo.

O jovem aspirante a padre João Falcão, mesmo estando fincado na década de 40, numa instituição religiosa, numa ficção, é uma presença terrivelmente mundana, próxima e tridimensional. Suas dúvidas, seus anseios, sua melancolia e sua arrogância convertem Deus em escape e em coadjuvante. A ascensão ao céus não significa um encontro com o Todo-Poderoso, mas em um encontro consigo.

Nesses conformes, o decreto é claro: não há liturgia que amanse a alma dos inconformados, dos intelectuais, dos filósofos. Deus sempre acabará para estes, cedo ou tarde.

E que assim seja.
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Samantha @degraudeletras 23/07/2014

CONY, Carlos Heitor. Informação ao Crucificado. 6°ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
Logo nas primeiras páginas desta obra lembrei do livro O Retrato do Artista Quando Jovem, de James Joyce, tanto pelo caráter autobiográfico quanto a maneira que a história se desenvolve. Informação ao Crucificado é o terceiro livro do autor brasileiro Carlos Heitor Cony, que já fora condecorado com diversas premiações e cotado como “leitura para o vestibular” aqui no Ceará com a sua obra Rosa, Vegetal de Sangue, um infanto-juvenil muito bom por sinal.

Em Informação ao Crucificado o protagonista, João Falcão, está entre os 17 e os 19 anos e é um seminarista que estuda para ser padre. Em seu ambiente escolar, sempre rígido, buscava manobras para ler a literatura proibida (aqueles que estavam no Index da Igreja Católica) e estava sempre procurando aprofundar mais seus conhecimentos. João, que é muito dedicado aos estudos e ao seu crescimento intelectual, não se contentava com a bibliografia obsoleta adotada pela escola.

Tais leituras começam a fomentar dúvidas na cabeça de Falcão, os oito anos que passara estudando para ser padre parecem em vão pois a semente da dúvida e da razão permeia sua mente agora. O sacerdócio, posição que almejou quando ainda muito pequeno pura e simplesmente por causa da beleza do cargo, já não parece tão atrativo.

O livro se inicia com o protagonista dizendo que usará um caderno verde como diário e tudo o que se passa a partir daí são os seus escritos no tal diário, que é dividido em duas partes tituladas como dois anos consecutivos, o de 1944 e 1945. No primeiro, João Falcão está entre os 17 e os 18 anos e ainda é ingênuo, descreve em seu diário os acontecimentos do dia, os comentários dos professores, suas preses e anseios para o ano. Na segunda parte, o protagonista já não aprecia tanto o que antes fora visto como fonte de diversão e prazer (como as férias em Itaipava) e passa a escrever apontamentos, reflexões e críticas sobre o que o rodeia.

Assim como em O Retrato do Artista Quando Jovem, é possível notar o amadurecimento do protagonista principalmente por sua forma de narrar a história, seus pensamentos e reflexões. Logo no início do livro João Falcão troca a plaquinha da cabeceira da cama de “Deus me vê” para “O que adianta ao homem?” e eu vi aí, logo no início, o primeiro passo de seu crescimento.

O livro é curtinho e reflexivo na medida, embora eu tenha sentido falta de um aprofundamento maior. Em menos de 200 páginas notamos o repúdio dos padres ao que não é sagrado e a implicação disso para as privações aos adolescentes seminaristas, também é possível acompanhar a crescente dúvida em relação ao celibato que o protagonista desenvolve. Além da história que aqui é contada, o leitor se deleita numa realidade diferente da que temos hoje e pode apreciar o olhar irônico e reflexivo sobre a fé, a razão e o arrependimento.

site: http://www.wordinmybag.com.br/
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Vitor850 08/06/2014

Informação ao crucificado
Um livro que deve ser lido com um olhar crítico sobre o tema em questão: o seminário. Para quem não sabe, o seminário é uma instituição das Igrejas Católicas e Protestantes dedicada à formação de seus candidatos aos mistérios sagrados. Eu li esse livro de 117 páginas numa tarde de domingo, junto com Mr. Punch (resenha em breve). O livro me fez pensar sobre muitas coisas a respeito de como os seminaristas veem Deus e como agem lá (não estou julgando ninguém, mas foi bom para mim ler esse livro).
João Falcão é um jovem de 18 anos que está no seminário desde os 11, e não sabe muito sobre a vida fora das paredes de lá. Ele é um seminarista por vontade da mãe, mas ele não foi contra sua vontade. Com o tempo, João começou a achar belo ser padre, como diz em uma conversa com o Senhor Arcebispo, que dá uma bela de uma bronca nele afirmando que o que é belo é espalhar o amor de Deus no mundo e salvar almas. E é aí que começa o desencanto dele, mas isso é quase no meio do livro, voltemos mais para o começo.
O começo do livro-diário é João explicando porque ele está escrevendo o diário, que não lembro muito bem, acho que um professor pediu para que fizesse isso. Ele conta suas aulas, as rezas, a rotina pacata de um seminarista, e os livro que ele lê ilegalmente. João tem intrigas com um grande amigo que o deixa um pouco "perturbado" em relação ao poder dentro do Igreja Católica, mas ambos sabem que são grandes amigos por dentro.
Não vou falar muito porque não tem muito o que falar desse livro pequeno, se falar mais conto-o todo, rs. Mas se você gosta desse assunto vale a pena ler, faz sua mente abrir um pouco mais. Recomendo.

site: http://guardiaodamuralha.blogspot.com.br/2014/06/informacao-ao-crucificado-de-carlos.html
Marcos.Azeredo 21/03/2021minha estante
O Cony um grande escritor, gostei da sua resenha, vou comprar para ler.




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