Ana Ruppenthal 22/09/2017
Bom
Esse livro eu recomendaria para todos os aspirantes a juristas com inclinação para a área criminal - principalmente para os homens, porque, não apenas me parece que o autor transmite uma visão eminentemente masculina do mundo (o que não quer dizer sexista) como também demonstra saber separar crua e racionalmente os aspectos afetivos, profissionais e sociais de cada cena - nada mais másculo, ao meu ver.
Por outro lado, eu não recomendaria esse livro para aqueles que não tem uma noção, ainda que breve, do funcionamento do ordenamento jurídico brasileiro, pois não só você pode ficar perdido com o vocabulário específico e por vezes técnico (eis uma infeliz omissão do autor) como também pode ter uma visão muito errada de um profissional criminalista.
Indo para o cerne dessa resenha, preciso tecer algumas considerações sobre a obra. Primeiramente, o enredo é bom. Ainda mais porque o autor, notadamente, é jurista, não demonstrando grandes aptidões para a literatura comum. Além disso, segue o estilo daqueles tramas policiais americanos, cheios de enigmas e suspenses - mas com maior erudição.
Narra a história de um advogado, veemente estudioso, que constrói sua carreira na estreia de balizantes lacunas na lei, conseguindo, assim, encobrir os crimes mais horrendos e por vezes torná-los impunes.
Se me permitem a crítica, o autor teve sorte quando teceu esse romance. Primeiramente, porque o contexto da publicação original do livro, 1981, é anterior à obrigatoriedade do Exame de Ordem - o que faz toda a diferença, pois o referido Exame filtra os profissionais bons dos ruins, o que supostamente faria diferença para o destaque a mais dos profissionais - assim, o personagem principal, sendo estudioso, se destacou num mundo de profissionais ordinários, não havendo a filtragem da OAB. Além disso, nessa época nós ainda tínhamos uma legislação realmente falha (oriunda de um século de instabilidades e de uma ditadura militar que restringiu muito as atividades legislativas), o acesso ao ensino superior não era tão popularizado e o acesso à justiça era restrito. Em outras palavras, um advogado fodão em 1981 seria um advogado como qualquer outro hoje em dia, pois naquela época eram poucos e hoje são uma legião.
No mais, devo advertir a quem se arriscar a ler que a obra tem aspectos um tanto quanto sensíveis e até mesmo ofensivos à moral vulgar. Junto com outros clássicos jurídicos do tipo "O caso dos exploradores de cavernas", julgo que "O Criminalista" deveria ser de leitura obrigatória nas graduações em direito. Por fim, não recomendo a obra se você espera algo muito rotineiro do mundo jurídico, pois, como eu explanei anteriormente, o enredo se dá numa época muito específica do ordenamento jurídico pátrio.