A balada de Adam Henry

A balada de Adam Henry Ian McEwan




Resenhas - A Balada de Adam Henry


112 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 |


Rafael 05/12/2018

A difícil tarefa do julgador
Um livro bem escrito e que deve ser lido de um fôlego só, já que a estória que nos é contada é deveras envolvente. Como todo bom romance, ele guarda nuances próprias que nos atraem mais de acordo com nossas preferências e experiências de vida. Sendo advogado, é meio óbvio que as questões envolvendo o drama jurídico vivenciado pela protagonista, uma juíza inglesa de um Tribunal Superior, me atraíram com mais intensidade que os problemas conjugais por ela enfrentados concomitantemente ao desenvolvimento de seu labor na judicatura. O que, de modo algum, afasta a preciosidade com que o autor trabalha o drama humano dos relacionamentos afetivos que permeiam nossas vidas. Contudo, e como dito, para mim a singularidade mais destacada da obra é, justamente, o fato do autor conseguir captar a responsabilidade que pesa sobre o julgador quando, no mais das vezes, se vê obrigado a decidir o destino de outrem, um terceiro alheio à sua convivência e a quem, por obrigação legal, se deve amparar. O livro obriga-nos a meditar sobre até que ponto colocar tal dever em um terceiro alheio às nossas vidas é suficiente para resolver nossos problemas. É essa a reflexão que fica para mim após a agradável leitura dessa pequena obra que guarda tamanha densidade em suas breves páginas.
Lavis 06/12/2018minha estante
Essa resenha me inspirou a ler o livro. Muito boa!


Rafael 07/12/2018minha estante
Lavis, vale muito a pena a leitura ?




Celso 25/01/2015

A razão e a religião no mundo de McEwan
A balada de Adam Henry trata-se da minha segunda imersão ao mundo ao autor britânico Ian McEwan, após ler Serena e já nas primeiras páginas fiquei envolvido instantaneamente pela história da juíza Fiona.

O livro nos leva a vida de uma notória juíza divida entre sua profissão, ou seja, suas decisões na vara de família, e o prosaico dia a dia com seu marido. Ele acaba de ter um caso com um moça trinta anos mais nova que ela, e decide sair de casa. Assim, logo de imediatado, somos contaminados pela sensação de realidade daquela juíza, capaz de resolver grandes problemas nos tribunais mas envolvida com seus "pequenos" pecados e desejos numa relação afetiva.

Sem filhos, próxima aos sessenta anos, se envolve em casos marcantes apontados por Ian, principalmente, ao relacionar a vida privada e seu viés com a religião. Por exemplo, fiquei embasbacado diante da capacidade de análise do autor em relacionar a separação conjugal de Fiona com sua decisão separar os irmãos siameses no seu tribunal.

Então, aparece um rapaz, próximo de completar 18 anos, e como Testemunha de Jeová, ele e sua família decidem por não fazer a transfusão de sangue que poderia curá-lo. Ao se aproximar do rapaz, nasce uma relação de admiração mútua chegando ao clímax de um beijo curto e inesperado. Desta forma Ian nos envolve, mais bravamente, no debate dos limites da religião e da razão. " (...) que só pessoas de mente aberta, e não o sobrenatural: podiam dar um sentido para a vida".

O desfecho final da história nem é tão surpreendente, mas como Ian constrói o clímax da história e nos encerra diante das reflexões da personagem, nos fazem perceber estarmos diante de um grande autor, com uma capacidade incrível de apresentar ideias e de mostrar tudo isso diante de um romance muito bem alinhavado e inteligente. E o melhor, tudo de forma curta, sucinta e muitas vezes lírica.

site: www.blogdocelsofaria.blogspot.com
Andressa Moreira 02/02/2015minha estante
O Ian é mesmo incrível, e esse livro é absurdamente bom! rs
Meu preferido é o Reparação, acho que é o mais conhecido dele, se vc gostou desse, vai gostar bastante dele também, fica minha indicação.
:)


V 29/11/2015minha estante
Maravilhoso! É o terceiro que li do autor. Ele já havia me conquistado com "Reparação" e "Na Praia".




Bookster Pedro Pacifico 01/03/2020

A balada de Adam Henry, Ian McEwan – Nota 7,5/10
Esse foi meu primeiro contato com o autor, que vem sendo aclamado pela crítica recentemente! De fato, a ideia por trás da obra é muito boa: o conflito entre a racionalidade de Fiona Meye, uma juíza especializada em direito de família e que enfrenta diversos problemas em sua vida pessoal, e a sensibilidade de Adam, um jovem de 17 anos que depende de uma transfusão de sangue, embora os pais, Testemunhas de Jeová, sejam contra o procedimento. Quando recebe a incumbência de decidir sobre a vida de Adam, a juíza decide visitá-lo no hospital para, somente depois, proferir sua decisão. A partir disso, nasce uma laço entre Adam e Fiona que afetará diretamente a vida dos dois, cujos desdobramentos serão apresentados ao longo do livro. Me decepcionei um pouco com o final, mas o tema realmente me interessou, não só por discussões relativas ao mundo jurídico, mas principalmente por abordar questões éticas acerca do fanatismo religioso! Recomendo!

site: https://www.instagram.com/book.ster
DeLCB 05/03/2020minha estante
Do Ian McEwan leia Reparação. Que livro! Se tornou um de meus favoritos da vida.
A balada de Adam Henry eu não li, só assisti o filme que se baseia nele e, assim como você citou, gostei bastante das questões relacionadas ao trabalho da juíz, mas o final não me agradou. Outros filmes que assisti baseados em obras desse autor foram On Chesil Beach, que adorei (não li o livro) e The child in time. Esse último filme gostei muito e já tinha começado o livro, mas achei muito arrastado e abandonei... Aliás Reparação também virou filme, ótimo, por sinal.


Ferreira.Souza 14/10/2020minha estante
manjado , lido por o autor agradável




Carol 26/10/2017

Por ora
Infelizmente não vou conseguir terminar, não sei se culpo o livro ou sou eu que realmente não estou apta nesse momento, por ora vou encosta-lo.
Vivi Cruz 15/06/2018minha estante
undefined




Marta 11/09/2016

Livro envolvente, mas com final decepcionante, bem clichê. Trata-se de uma pessoa que não consegue enxergar além de suas obrigações diárias, achei bem raso, faltou conteúdo psicólogico aos personagens.
Alan 21/09/2016minha estante
realmente, Marta. Para mim, os personagens não são envolventes, nem o livro. Uma narrativa monótona, sem twist, com descrições, ao que parece, programadas. O Adam parece mais uma figuração do que uma pessoa, e o casal, caricaturas de crises lugares-comuns nos romances românticos. Estranho tanta badalação por esse livro. O tradutor abusa do pretérito mais-que-perfeito. Pretendo ler outros livros do autor, pois este não me conquistou.




spoiler visualizar
Bii 30/05/2021minha estante
Que resenha perfeita!




aline vp 09/07/2016

Bem escrito
Muito bem escrito e com um assunto interessante. Foi um alento a leitura do mês de junho da Tag pois o livro anterior tinha sido bem "pesado". Vale a leitura, livro facil e com cerca de 200 pg.
Carol Poupette 17/07/2016minha estante
Verdade




Cynthia.Grezzani 15/05/2021

Simplesmente péssimo.

Mais uma vez fui tapeada pela sinopse, jurando que a história teria muito mais desenvolvimento do que teve. Esperava encontrar uma juíza com a difícil decisão de ir contra as crenças religiosas ou respeitar a decisão do garoto e da família.

O que eu recebi? Páginas e mais páginas relatando sobre um relacionamento do qual simplesmente não me importava e que não contribuíram em nada para a história.

O desenvolvimento é apressado e jogado na cara do leitor, parece que as consequências não foram de fato avassaladoras ou bem desenvolvidas, só estavam ali pelo fator de choque.
Bii 30/05/2021minha estante
Achei péssimo também. O envolvimento deles me causou náuseas.




Alexandre Kovacs / Mundo de K 09/07/2015

Ian McEwan - A Balada de Adam Henry
Editora Companhia das Letras - 200 páginas - Tradução de Jorio Dauster - Lançamento 14/11/2014.

Neste seu último romance, Ian McEwan utiliza como pano de fundo o sistema judiciário inglês e uma conceituada juíza do Supremo Tribunal como protagonista. Fiona Maye, cinquenta e nove anos, atua na área de direito de família, e segundo definição de seus próprios colegas, é dona de uma "imparcialidade divina e inteligência diabólica". Ela é, portanto, uma profissional que lida diariamente com a razão em detrimento da emoção, decidindo conflitos e dilemas morais através de suas sentenças, seja no caso de separações litigiosas ou decisões sobre a guarda dos filhos. Na verdade, McEwan faz muito bem, como sempre, o seu dever de casa e traz para a ficção algumas sentenças, inspiradas em casos reais, de difícil análise, seja pelo enfoque religioso ou moral. É o caso, por exemplo, da aprovação para a intervenção cirúrgica que irá separar irmãos siameses, provocando o sacrifício de um deles em nome da sobrevivência do mais forte. Em uma das melhores passagens do romance, através da digressão de sua protagonista no trecho abaixo sobre este processo, o autor coloca a sua visão nada religiosa do mundo e do que costumamos chamar de destino:

"Nas fotografias relembradas de Matthew e Mark via uma nulidade cega e sem propósito. Um ovo microscópico deixara de se dividir no momento certo devido a um defeito em certo ponto de uma cadeia de eventos químicos, uma minúscula perturbação na cascata de reações proteicas. Um evento molecular se inflacionara como um universo em expansão para ocupar uma larga região da miséria humana. Nenhuma crueldade, nenhuma vingança, nenhum fantasma se movendo de modo misterioso. Nada mais que um gene transcrito erroneamente, uma receita de enzimas defeituosa, um elo químico rompido. Um processo de perda natural tão indiferente quanto sem sentido. Que apenas punha em relevo a vida saudável e formada com perfeição, mas também aleatória, igualmente sem propósito. Pura sorte, chegar ao mundo com seu corpo devidamente formado e com tudo nos lugares certos, ter pais amorosos e não cruéis, escapar à guerra e à pobreza por um acidente geográfico ou social. E, por isso, descobrir que é muito mais fácil ser virtuoso." (pág. 34)

Apesar do desgaste emocional de seu trabalho e a proximidade da terceira idade, a juíza Fiona parece estar levando a sua vida muito bem, mas todo o seu mundo está para desmoronar quando ela é surpreendida pela declaração do próprio marido de que deseja levar adiante um caso com uma mulher mais jovem, segundo ele, devido à necessidade de viver uma grande paixão e, de forma mais pragmática, devido às suas necessidades sexuais não atendidas nos últimos tempos por Fiona, obcecada pelo trabalho. Ela se recusa a aceitar os argumentos do marido e, repentinamente, se vê envolvida em um conflito matrimonial como tantos outros que ela acompanha diariamente na Vara de Família.

"Num impulso furioso, pegou o celular, encontrou o número do chaveiro da Gray's Inn Road, forneceu-lhe o PIN de quato dígitos e instruções para que a fechadura fosse trocada (...) Foi má, e sentiu-se bem em ser má. Ele devia pagar um preço por abandoná-la, e ali estava, ser exilado, pedir licença para ter acesso à sua vida anterior. Ela não lhe permitiria o luxo de possuir dois endereços (...) Voltando pelo corredor com seu copo, já refletia sobre sua ridícula transgressão, impedir ao marido o acesso a que ele tinha direito, uma das atitudes-chavão das crises conjugais que qualquer advogado aconselharia seu cliente — geralmente a mulher — a não adotar sem a devida autorização judicial" (pág. 51)

Uma nova e difícil disputa demanda a atenção da juíza em meio à sua crise particular, o caso de Adam Henry, um rapaz de dezessete anos que precisa receber transfusões de sangue devido ao tratamento de leucemia. Seus pais são testemunhas de Jeová e enfrentam o hospital em um processo para ter o direito de não seguir as recomendações médicas. O momento difícil pelo qual Fiona Maye está passando em sua vida doméstica faz com que ela ignore a necessidade de afastamento emocional na batalha jurídica que chamará a atenção da sociedade para um debate sobre o bem-estar do adolescente em confronto com os dogmas religiosos de sua família.

Adam Henry tem uma compreensão parcial da situação precária de sua saúde e dos riscos associados e, ao mesmo tempo, uma visão romântica da fatalidade dos efeitos decorrentes de sua orientação religiosa. Ele escreve poesias que encantam a equipe médica e despertam na experiente juíza um sentimento ambíguo de compaixão maternal (ela fez a opção de não ter filhos devido à carreira) e carência sentimental. Será que ela conseguirá manter a racionalidade e imparcialidade que a sentença para este caso requer?

A música erudita, como na maioria dos romances de McEwan, tem lugar de destaque na trama, sendo uma válvula de escape para Fiona Maye, uma exímia pianista de peças clássicas de Berlioz e Mahler, e também um ponto de aproximação entre ela e o sensível Adam Henry. Apesar do argumento se basear em alguns clichês, a prosa habilidosa de McEwan está sempre presente, como podemos comprovar nos trechos acima. De qualquer forma ficamos com a impressão de que a história poderia ter sido mais aprofundada. Se você ainda não leu nada deste autor recomendo começar com Amsterdam, Reparação e Sábado. De preferência nesta sequência.
Daniel 04/08/2015minha estante
Achei o livro superficial. Não houve empatia com nenhum dos personagens, achei o enredo muito simples, nada surpreendente... Nem de longe lembra o vigor de Reparação, este sim uma obra prima.




spoiler visualizar
Marci 16/05/2017minha estante

Também achei que o livro tem muita enrolação. É ótimo, mas pecou por isto.




Gustavo 21/06/2016

Vale a pena em partes!!
Um tema não muito abordado em livros. Fiona, juíza do tribunal de recursos em Londres, tem que se decidir sobre a história de uma menino com leucemia e que precisa de uma transfusão de sangue, porém, ele e sua família são testemunhas de Jeová e resistem ao procedimento. Ponto positivo que não é muito encontrado esse tipo de abordagem em literatura. Ponto negativo, achei um livro fraco no envolvimento e aprofundamento da história, podia ser muito mais, ainda mais que Ian já escreveu alguns livros ótimos.
Carol Poupette 17/07/2016minha estante
Acredito (pelas impressões que tive, claro) que essa falta de envolvimento e aprofundamento tem a ver com a própria personagem principal, que se mostra um pouco relapsa com alguns assuntos. (Nota-se por sua conversa com o advogado, Mark, ou com suas discursoes com o marido),




almirante leite 17/03/2024

Mas eu era jovem e tolo, e hoje só me resta chorar
Li esse livro graças a recomendação da prof de Civil, ela estava falando sobre antinomia (leis contrárias entre si) no direito e comentou sobre esse livro.
Esse livro é sobre Fiona Maye, uma juíza da área civil/familiar muito dedicada com seus casos, mas com o casamento em crise justamente por causa do seu trabalho. Ela pega um caso em que, Adam Henry, um jovem com leucemia, precisa de uma transfusão sanguínea (doem sangue, pessoas!), mas tanto ele quanto seus pais recusam o tratamento por serem testemunhas de Jeová (aí um caso de antinomia).
O livro em si é MUITO bom, me prendeu é tudo, ele é bem escrito e é bom pra entender e e se entrosar no mundo jurídico. Eu só achei algumas partes meio lentas e entediantes, como as que Fiona está com o marido, mas fora isso, tanto o caso do Adam como os outros que ela pega paralelamente são muito bons.
Enfim, super recomendo esse livro, principalmente pra estudantes de direito (leitura obrigatória no caso de vcs), e doem sangue, doar sangue salva vidas!!
comentários(0)comente



PorEssasPáginas 19/01/2015

“Um estudo assombroso sobre o amor em crise e uma mulher madura no limite de suas forças.” – Robert McCrum, The Observer

Acho que esta frase resume exatamente o que esta obra pequena (apenas 196 páginas) e concisa traz.

Fiona e Jack são casados há 35 anos. Ela, 59 anos, uma juíza da Vara de Família e ele, 60 anos, um professor de história. E neste livro acompanhamos um momento específico da vida deste casal, principalmente das vivências de Fiona; mais especificamente um caso de um menino de quase 18 anos de idade, Testemunha de Jeová, cuja família se recusa a aceitar que ele receba uma transfusão de sangue para complementar seu tratamento para leucemia. Enquanto lida com este caso, que para ela era apenas mais um caso, ela também tem que lidar com a crise em seu casamento, quando seu marido lhe pede permissão para ter um caso com uma mulher bem mais nova. Ele diz que sente falta da paixão. Acusa Fiona de ter se afastado. E ela fica enfurecida com a atitude dele.

No desenrolar da história Fiona vai visitar Adam no hospital para poder formular sua sentença do caso. Este contato gera uma fascinação em Henry que faz com que ele passe a enviar cartas a Fiona e a segui-la. Isto não tem uma conotação de stalker ou psicopata, nem nada do tipo.

O livro é muito sutil, mas ao mesmo tempo muito denso e maduro. O bom de não ser uma história longa é que pode ser lido de uma vez, trazendo ao leitor todo o peso do sentimento, das escolhas. Esse “peso” é uma marca da escrita de Ian McEwan que pode ser encontrado de formas diferentes nas suas obras. Elas se caracterizam principalmente pelos sentimentos, que o autor consegue passar para o leitor de forma magistral.

Imaginei que a obra desenvolveria mais a fundo o tema religioso, afinal o autor é famoso por suas visões quanto a religiões e extremismos. Apesar de não ser explorado tão a fundo, o tema tem sua importância na construção do personagem Adam Henry e sua posição em relação ao mundo. E não decepciona!

A obra também vem forrada de referências da música clássica, com compositores como Debussy e Mahler, e do jazz, como Keith Jarrett e Thelonius Monk. Excelente trilha sonora para acompanhar a leitura.

Não é uma leitura simples, nem para entretenimento vazio. É uma leitura que faz pensar. Mas acho que me faltou mais maturidade para mergulhar mais intensamente nestes sentimentos.

site: http://poressaspaginas.com/resenha-a-balada-de-adam-henry
comentários(0)comente



Psychobooks 07/02/2015

Classificado com 4,5 estrelas no Psychobooks

Conheci Ian McEwan depois de ter me apaixonado pelo filme Desejo e Reparação. No entanto, meu primeiro contato com sua escrita foi em Serena (resenha). Eu tenho um exemplar de Reparação, mas ainda não o li por medo de me decepcionar, culpa das minhas altas expectativas.

Enredo
Fiona Maye é especialista em direito da família e ocupa o cargo de juíza no Tribunal Superior. Desde a infância, seu destino foi traçado e ela seguiu rigorosamente todos os passos para ter uma vida profissional bem sucedida, mas por trás de seu sucesso ela esconde os fracassos e arrependimentos da vida pessoal.

Fiona está com sessenta anos, é casada com Jack, um geólogo acadêmico, preocupados em chegar ao topo de suas profissões, o casal não teve filhos. Agora, o casamento de 35 anos está desmoronando, Jack faz uma proposta para Fiona que fica ultrajada.

Enquanto sua vida pessoal está ruindo, Fiona precisa lidar com casos complicados no trabalho, dentre eles, o de um garoto de 17 anos que precisa de uma transfusão sanguínea para sobreviver, mas ele e os pais a recusam por causa de suas convicções religiosas.

Narrativa e desenvolvimento do enredo
É incontestável a habilidade narrativa de Ian McEwan, ele envolve e conduz o leitor por sua história com maestria.

Entre julgamentos polêmicos, o autor consegue fazer com que sua personagem seja serena perante à decisões difíceis que se apresentam em seu tribunal. Quando chega a hora de Fiona tomar uma decisão sobre o caso de Adam, na ânsia de fazer o seu melhor, ela se aproxima do adolescente e acaba baixando a barreira profissional, permitindo que sua vida pessoal venha à tona.

O autor transita entre tempos presente e passado com facilidade e fluidez. Sem perder o foco, Ian faz relatos de casos passados da juíza e traz à tona discussões e ponderações sobre religiosidade e racionalismo. O dilema moral, que é característica dos romances do autor, está presente em todas as páginas do livro.

À primeira vista temos uma protagonista fragmentada, dividida entre Fiona juíza e Fiona esposa, mas conforme a leitura evolui, o autor consegue unir todas as particularidades de Fiona e a transforma em uma mulher completa, crível com suas dúvidas, certezas, sucessos e fracassos. Essa evolução da personagem é tão integrada e natural que é preciso atenção para perceber pontos chaves de mudança.

Concluindo
"A Balada de Adam Henry" é um livro poderoso com um final realista, mas que pode não agradar a todos.Com uma narrativa enxuta e poucas páginas, o autor criou uma história cheia de questionamentos morais e acima de tudo, humana e assustadoramente verossímil.

"(...) Ele sempre fora amável, leal e bondoso. E, como a Vara de Família provava diariamente, a bondade era o ingrediente humano mais essencial. Ela tinha o poder de afastar uma criança de um pai insensível, e às vezes o fazia. Mas afastar a si mesma de um marido insensível? Quando se sentia frágil e solitária? Onde estava o juiz que iria protegê-la?
Página 14"

site: http://www.psychobooks.com.br/2015/01/resenha-a-balada-de-adam-henry.html
comentários(0)comente



Jacqueline 25/07/2015

Brincando de ser Deus
O livro gira em torno de dois dilemas éticos. Em um primeiro plano, temos a contraposição entre a racionalidade e a religião: o protagonista Adam Henry, um garoto de 17 anos, influenciado pela família e pela Igreja, se recusa, por motivos religiosos, a receber uma transfusão de sangue que pode lhe salvar. Fiona, especialista em direito de família, é a juíza encarregada de garantir o bem-estar (um conceito pantanoso, diga-se de passagem) do menor: sua missão não era salvá-lo, mas decidir o que seria o razoável e legal.

[Outro caso citado no livro dá mostra dos dilemas enfrentados pela juíza: um judeu ortodoxo
se separa da mulher quando (e porque) essa não pode mais ter filhos e exige a guarda das outras filhas que quer criar dentro do mais alto grau de ortodoxia, o que inclui estudar em escola só de meninas e somente até os 17 anos, ser uma mulher devotada aos lar que não trabalhar fora e é totalmente subserviente ao marido. A ex- mulher requere o direito de criar as filhas dentro de preceitos judaicos menos fechados, que inclui escola mista, acesso a internet, possibilidade de cursar uma Universidade, de ter uma profissão, dentre outros. Frente ao impulso inevitável que qualquer ser humano defensor do Estado de direitos e capaz de exercício mínimo de racionalidade teria - dar o ganho de causa para a mãe – é preciso colocar uma pergunta: quem pode dizer que não se pode ser mais feliz no seio de uma comunidade ortodoxa? A questão, portanto, deve ser guiada por outra lógica: pai e mãe têm direito: dar a guarda para a mãe tem mais chance de possibilitar a convivência com ambos, enquanto o contrário parece menos provável. Ufa!]

No caso de Adam estavam, então, de um lado, “aqueles não apenas convencidos da existência de Deus, mas de conhecerem sua vontade” (seres muito especiais, com certeza!) e, de outro, médicos empenhados em salvar um paciente. No meio, uma juíza que decide quem vai viver. Não é muita gente se outorgando o lugar de Deus?
O outro dilema ético vivido relaciona-se com a própria vida pessoal da juíza. O pano de fundo da história é dado pela crise conjugal vivida pela juíza: no início da história, seu marido anuncia um caso extraconjugal com uma mulher mais jovem e sai de casa, trazendo à tona, para além da raiva habitual, uma sensação de fracasso frente às escolhas feitas, dentre essas a de não ter filhos (o que confere outros sentidos à sua escolha de área dentro do Direito), de ter se dedicado demais ao trabalho e talvez menos do que deveria ao casamento. Demonstrando uma dose extra de dificuldade de lidar com suas emoções, a juíza, aos 60 anos, se afunda no trabalho, enquanto tenta lidar com sua iminente separação e com as agruras (que é só o que consegue enxergar dada a situação) de envelhecer. A fragilidade emocional da juíza ajuda a fazer com que o caso de Adam saia da esfera profissional e invada sua vida pessoal.
O livro vale pelas instigantes reflexões que propicia distinguindo lei, moral e ética e pelo jogo complementar da maturidade contraposto com a juventude tratado por uma ótica nem sempre habitual: mais do que a busca pelo elixir da juventude ou de poder viver o que não foi possível viver, se coloca a sedutora armadilha narcísica de nos colocarmos como a possibilidade de redenção do outro ou no mínimo sua melhor opção (o que não quer dizer que relações amorosas entre pessoas com grande diferença de idade sejam fadadas ao fracasso, mas somente que precisam se livrar desse jogo de projeções e medo de frustrar o outro, sob o risco de uma alteridade mínima desejável não poder vir a ter lugar).
comentários(0)comente



112 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 |


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR