Jon O'Brien 16/07/2022
Homens, Mulheres & Filhos | LIVRO X FILME
Em setembro do ano passado, terminei a leitura de Homens, Mulheres & Filhos, livro recomendado pela minha melhor amiga, que tentou me preparar para o choque que eu sentiria durante a leitura. Sabendo da adaptação cinematográfica do livro, decidi ver o filme antes de fazer uma resenha, para que pudesse comparar as obras, sem spoilers. Finalmente tive a oportunidade, e já adianto que gostei bastante do livro e do filme, mas por motivos diferentes. Venha ver mais detalhes do que achei!
Vivemos numa época repleta de obras como esta, ou seja, que tentam retratar a sexualidade em adultos e adolescentes. Homens, Mulheres & Filhos, de Chad Kultgen, explora a questão da sexualidade em conjunto com a tecnologia através de um grupo de personagens que representam, de certa forma, os adolescentes e adultos da realidade.
Primeiramente, aqui não temos um protagonista, mas um conjunto de personagens que podem ser considerados principais por terem alguma exploração mais profunda na trama. Temos famílias desestruturadas, pais controladores, problemas de autoestima e competitividade em toda a obra, de diferentes maneiras, e são tantos nomes que, até se acostumar com todos, fica fácil confundir quem é quem.
Pelo fato de ser um livro que conta muitas histórias e de que falar aqui sobre detalhes dessas histórias poderia ser spoiler, vou me limitar a falar sobre o livro como um todo, isto é, a proposta que ele traz. A meu ver, Homens, Mulheres & Filhos procura ser um retrato da sociedade atual e dos problemas causados pelo sexo, sobretudo em contato com o ambiente virtual. Mas, tentando ser um retrato fiel, você, ao ler, vai perceber que muitas das situações são forçadas. É como se todos os personagens da trama tivessem algum problema, é como se eles afetassem uns aos outros e causassem danos irreparáveis, mesmo que no mundo real não seja assim. É como se pegassem todas as condutas ruins envolvendo sexo e tecnologia e juntassem no mesmo livro, em personagens que esbarram uns nos outros, parecendo até mesmo absurdo e distante da proposta inicial.
Vi em outras resenhas que isso foi o que incomodou vários leitores durante a narrativa. Para mim, no entanto, não foi incômodo; na verdade, esse monte de exageros na narrativa — pois, sim, eu considero exageros — me pareceu premeditado, de forma que os dramas dos personagens tivessem o intuito de criticar uma realidade. Porque, a fim de escancarar uma crítica, muitas vezes é preciso deixar evidente, exagerar na dose para que se perceba mesmo sutilezas do que acontece na vida real.
Não acho que a literatura tem o único objetivo de entreter, então acho que esta obra deve ser encarada como uma ferramenta para mostrar comportamentos da sociedade atual, não uma leitura pela leitura, unicamente por prazer. Eu consigo relevar esses exageros quando percebo que o autor se preocupou em mostrar a profundidade dos personagens, desde o que os motivou a ser quem são até o seu comportamento atual. E isso o livro aborda muito bem, mostrando como as relações familiares ou entre amigos é carregada de influência que não percebemos, mas que acabamos absorvendo.
Outra crítica que vi em relação ao livro foi quanto ao final. Minha melhor amiga, que me apresentou a obra, já tinha me falado que o final nem mesmo podia ser chamado de vago, pois ele simplesmente não existia. Todas as narrativas que vinham sendo desenvolvidas até então param, são cortadas, logo, os finais de cada um dos personagens importantes não são mostrados. Ao mesmo tempo que não gostei disso, uma vez que queria saber o destino dos personagens, achei interessante porque todos esses finais cortados pela metade acabam que indicando para onde as coisas vão caminhar, fortalecendo o objetivo de mostrar um retrato da sociedade e convidando à reflexão. Novamente: se você vai ler este livro, encare como algo além de ficção; a tendência é que você se frustre menos com os problemas que foram apontados por outros leitores.
Mas, bem, e o filme? Olha, confesso que fiquei mais receoso com o filme. Ele não tem uma nota excelente e, pelo que sabemos sobre adaptações de livros, geralmente elas não chegam a ficar tão boas quanto os materiais originais. Entretanto, fui surpreendido positivamente pela adaptação cinematográfica. Com quase duas horas de duração, o filme consegue ser bastante fiel ao livro, em relação aos acontecimentos mais importantes, embora haja certa censura (certos absurdos do livro são minimizados, o que faz com que a história pareça mais ficcional do que no livro e, portanto, menos forçada).
Algo que não gostei necessariamente foi que dois personagens importantes do livro foram praticamente cortados do filme. Eles, Brooke e Danny, aparecem no filme e executam os mesmos papéis que executam no livro, mas a história deles, que para mim foi muito interessante ao longo da leitura, não foi explorada. São personagens bem secundários nessa adaptação, de pouquíssimas falas e esquecíveis. Gostaria de ver a história deles ganhando relevância no filme, mas entendo que o corte pode ter sido feito porque, do contrário, o filme teria que ser bem mais longo. Ainda assim, poderia ser feita uma minissérie em vez do filme, a fim de incluir as cenas desses personagens.
Outra diferença gritante do filme em relação ao livro é o final. Calma, não vou dar spoilers! A questão é que, enquanto o livro não tem um final para as histórias, sugerindo um movimento de continuum, o filme fecha as histórias dos personagens, promovendo momentos de redenção ou não. Tem, portanto, uma proposta mais conscientizadora. Enquanto o livro sugere o final pela falta de um final, o filme torna mais fácil de compreender e sentir as consequências dos eventos protagonizados pelos personagens.
E o que eu posso dizer? Gostei do livro e do filme na mesma medida, e por motivos diferentes. Acho que principalmente o final diferente nas duas obras me foi interessante porque, mesmo gostando do final vazio do livro, por tudo que ele trazia, tive a chance de contemplar, no filme, como as coisas poderiam terminar. Bem, esta é a indicação de hoje! Espero que tenham a chance de ler Homens, Mulheres & Filhos e de ver a adaptação cinematográfica. E torço para que curtam, levando em conta as ressalvas que comentei aqui. Obrigado!
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