PorEssasPáginas 29/12/2014
Resenha: Apenas os Inocentes - Por Essas Páginas
Apesar de ter acabado de ler outro thriller da Record, não resisti a mais um e solicitei Apenas os Inocentes, da estreante inglesa Rachel Abbott. Fuçando sua biografia no final do livro, descobri que esse foi um livro publicado de maneira independente, através da plataforma da Amazon para o Kindle. Ótimo: bom ver que não são apenas os romances, os eróticos e os New Adults que despontam nesse mercado de independentes. A sinopse, até mais do que a capa, me instigou e me fez querer botar as mãos no livro, apesar de já saber o que esperar em um livro sobre crimes sexuais. Um pouco imaturo, mas bastante intrigante, Apenas os Inocentes é uma leitura bastante válida para fãs de thrillers – mas com alguma cautela.
O começo de Apenas os Inocentes é um tanto quanto morno e confesso que me irritou. Li outros livros durante essa leitura e foi só depois de um bom tempo que peguei na obra com o firme propósito de realmente chegar até o fim. As coisas só foram melhorar lá pelas páginas 80-90, um pouco tarde para meu gosto – e de muitos leitores. Porém, a partir daí, o livro começa a realmente se tornar interessante e dar aquela vontade do leitor de pegar o livro e ler a qualquer minuto para saber o que vai acontecer na próxima página. Isso não é algo constante, sinto dizer; é bem menos, mas em alguns capítulos o livro volta à sua morosidade inicial. Talvez essa inconstância se deva ao fato de que o livro é o primeiro da autora, publicado de maneira independente (mas passou por uma editora depois…), e ela demorou algumas páginas para “encontrar sua mão” na história. Essa imaturidade na escrita também fica clara em algumas descrições longas e desnecessárias e alguns recursos de estilo repetitivos. A boa notícia é que, quando ela encontra, o livro se torna nada menos que ótimo.
O magnata Hugo Fletcher é encontrado morto, nu e amarrado a uma cama em seu apartamento. A primeira coisa a se pensar é que é um clima de cunho sexual, certo? Sim e não. Mas o inspetor-chefe Tom Douglas logo percebe que, apesar de todas as dúvidas que giram em torno do caso, uma coisa é certa: o assassino é uma mulher. Para complicar, o falecido era um filantropo, dono de uma instituição que procurava ajudar garotas vítimas de tráfico humano. Não era um crime qualquer, portanto.
Ok: temos um crime, uma vítima, um investigador. Mas isso é o mais interessante do livro? Não.
A melhor parte da história foi a trama paralela (mas nem tanto) da esposa do falecido, Laura Fletcher. Desde que ela aparece no livro logo o leitor já percebe que ela esconde muita coisa, mas quando suas cartas à amiga e ex-cunhada Imogen são inseridas no livro e as verdades começam a aparecer, aí sim o leitor é arrebatado pela obra. Tudo bem que, a exemplo do livro como um todo, essas cartas mostram também a imaturidade da escrita da autora, especialmente no início: as cartas parecem, como explicar…, excessivamente literárias, ricas em descrições típicas de uma narração que não combinam com a personagem ou com o fato de se tratarem, bem, de cartas! Porém, aos poucos, as coisas vão se tornando mais sombrias, mais sérias, até que culminam em situações realmente perturbadoras.
E não é só a trama de Laura que se torna mais interessante que a trama principal, o assassinato e sua investigação. Aliás, tenho lá minhas dúvidas se, afinal, a autora tenha feito o livro com o assassinato como um apoio para a história que ela realmente queria contar. O título dá essa dica. Descobrir o assassino acaba se tornando um desejo de segundo plano para o leitor, ao menos funcionou assim para mim: o que eu realmente queria entender eram as histórias de Laura, Imogen, Alexa, as garotas resgatadas pela instituição de Fletcher e tantas outras personagens no livro, todas femininas. É um livro onde as mulheres são as personagens mais complexas e instigantes do livro, todas com personalidades distintas e tramas bem definidas. E isso, as personagens, foi uma das partes mais brilhantes do livro e o que realmente me envolveu na história.
Outro ponto a se destacar é o fato de que, lentamente, a autora vai desconstruindo a ideia inicial e levando o leitor a se envolver muito mais com os supostos culpados do que com a investigação. Não é um livro policial comum, certamente. As revelações são tão brutais, tão cruéis, que no final você se vê, sim, arrebatado e “trocando de lado” na investigação, por assim dizer.
O final foi um pouco perigoso, na minha opinião; ele caminha em uma linha tênue entre um final previsível e surpreendente. Difícil de entender essa dualidade, certo? Receio que só lendo mesmo. Para mim, foi um final coerente, perturbador e surpreendente em alguns momentos, previsível em outros. O livro realmente me dividiu e, certamente, é uma obra capaz de dividir opiniões. Ainda assim, vale a pena para fãs do gênero que queiram se aventurar. Mas lembrem-se: o livro é muito mais um thriller do que um policial. E preparem seus estômagos, já vou logo avisando.
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