z..... 02/12/2018
Clássicos Brasileiros em HQ (Editora Ática, 2013)
O que destaca-se de imediato, no primeiro contato, é o trabalho requintado, de fino trato na concepção artística. Um primor que valoriza a proposta do romance, de evidenciar a face de egoísmo, sujeiras, conceitos amorais, interesses escusos, futilidades e materialismo que permeava a glamorosa sociedade do contexto de época, alardeada também como Belle Époque. Evidentemente, características atemporais, presentes e mais decadentes hoje. Para isso o ilustrador reproduziu conceitos figurados e irônicos em muitos detalhes, instigando curiosidade e tornando a leitura envolvente. A percepção sobre o clássico, que reconheço difícil e chata em alguns momentos da leitura (para quem não está acostumado com o texto mordaz de Machado de Assis), apresenta-se cativante e sem grandes dificuldades de entendimento.
O roteiro é certeiro, pelo que registrei anteriormente. Vale a referência também à detalhes interessantes. Um dos mais chamativos é a transformação do narrador defunto, que no avançar da história vai piorando na condição de zumbi. É como se sua verdadeira alma fosse se revelando quando vamos conhecendo sua história, lembrando de certa maneira o Dorian Gray.
Enfim, a realidade não é tão glamorosa e bela como aqueles que a ostentam.
Algo que também ficou evidente é o teor materialista do clássico, no sentido de descrença em Deus. Como enfatiza o autor, reproduzindo talvez seu posicionamento, no além túmulo segue-se um nada. Não sei sobre sua visão de fé, e também entendo que a disposição do livro é de ilustrar a transitoriedade da vida e uma reflexão sobre isso, mas que a obra é materialista isso é. Só uma observação para minhas conclusões pessoais no que guardei do livro.
O anexo está ótimo, com abordagens sobre o autor, idealizadores da HQ, contexto de época e curiosas informações das escolhas na adaptação.
Acredito que o ponto fraco está na reprodução da parte referente a Quincas Borba e seu Humanitismo. A exposição não foi eficazmente reveladora dos significados.