Ramon 25/04/2017Bronze sem brilhoÉ ótima a prosa de Boris Fausto. Ler seu diário de luto não é ruim. A edição preparada pela CosacNaify é interessante, o formato se comunicando com parte do conteúdo. O título, "O brilho do bronze", remete à placa reluzente no túmulo recém-preenchido pela pessoa que se perdeu, a esposa Cynira, no caso do autor. A contracapa é de um bronze brilhoso, a capa também é brônzea, mas opaca, e as linhas de costura são da mesma cor. A ideia me pareceu ser de uma leitura que conduz por várias tonalidades de bronze. A capa frontal é comprida e tem uma dobra que encaixa nas páginas como um marcador. À medida que se avança na leitura, o luto vai sendo elaborado, e as páginas do livro vão-se enclausurando como um sepulcro. Os primeiros dias do diário em que se trata do luto são comoventes, mas, do meio para o fim, o assunto repete-se sem o mesmo interesse: não evolui em sentido algum. Como diário que é, o livro reflete muito o sujeito que o escreve, e a perspectiva de Boris Fausto é a de um homem branco, heterossexual, paulista e de classe média alta. O jeito como se refere às mulheres, aos gays e aos nordestinos me causou péssima impressão. Os relatos de conversas com pessoas mais pobres e menos instruídas transparecem paternalismo e boçalidade. Por alguns momentos, ao ler o livro, tive a sensação agradável de estar lendo um romance como o "Memorial de Aires", pelo ritmo e pelo estilo, mas durou pouco e deixou a desejar.