La città e la casa

La città e la casa Natalia Ginzburg




Resenhas - La città e la casa


7 encontrados | exibindo 1 a 7


bia 23/04/2024

Uau
Acho que foi um dos poucos livros que me trouxeram a sensação de conforto e nostalgia.
Gostei muito da escrita. As cartas são envolventes e o nível de intimidade que cada amigo tem com outro é fascinante.
Estou verdadeiramente apaixonada e admirada.
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Maria 18/02/2024

Sem palavras. e ainda assim poderia falar por horas. ginzburg consegue transformar o mais simplório - nem sei se eu mesma concordo com esse adjetivo, não tem nada de simples na verdade- como o próprio cotidiano em uma história linda, delicada e simplesmente complexa, como deveria ser. nem sei mais o que tô escrevendo, nem se saberia como. virou uma das autoras favoritas.
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Michelly 23/12/2023

:)
É um livro gostoso de ser lido no fim de ano porque tem gosto de encerramento de ciclos. Como nas palavras da autora, a cidade e a casa é um romance pragmatista: “os destinos desabam, restam as coisas”.
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Rosa Alencar 29/01/2023

A vida se reorganiza depois dos fins (pág 296)
A narrativa de Ginzburg nos aproxima do grupo de amigos que trocam notícias por meio de cartas. Assim, vamos acompanhar os acontecimentos cotidianos, e buscar nas entrelinhas a essência de cada personagem. É um exercício. Alguns deles estão ali: escrevendo e nos falando sobre si, outros apenas narram a rotina na qual estão envolvidos, e tem aqueles que apenas são citados. Enfim, conhecemos todos os eventos do período narrado; o que eles provocaram na intimidade de cada personagem fica a critério do leitor, e vai depender da sua própria história de vida.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 28/01/2023

Natalia Ginzburg - A cidade e a casa
A cidade e a casa - Editora Companhia das Letras - 304 Páginas - Capa: Raul Loureiro - Imagem de capa: Louise Bourgeois - Lançamento: 2022.

Natalia Ginzburg (1916-1991) criou neste romance um efeito polifônico único ao reunir as cartas de um grupo de amigos e múlltiplos pontos de vista – nem sempre confiáveis – de acordo com as personalidades de cada personagem. De fato, o leitor vai construindo aos poucos a sua versão da história ao organizar e validar os fragmentos narrativos, do particular para o geral, em uma aproximação já sugerida no título. A autora explica o processo em entrevista de 1984, reproduzida nesta edição: "Tinha um grande desejo de escrever em primeira pessoa, mas também em terceira. Queria os privilégios de ambas as formas. Queria um 'eu' que correspondesse a um 'ele'; uma primeira pessoa, porém, com muitas facetas, múltiplas. As cartas são isso. em vez de um só 'eu' que narra os outros e si mesmo, muitos 'eus' que se narram, E a 'terceira pessoa' está salva de algum modo."

Lucrezia e Piero vivem em uma casa de campo chamada As margaridas, ponto de encontro dos personagens, como se os mesmos constituíssem uma família. Um dos amigos do casal é Giuseppe, um solitário jornalista de meia-idade que vende a sua casa em Roma para viver com o irmão em Princeton, ele teve uma relação amorosa com Lucrezia no passado, consentida por Piero. A dissolução do núcleo de amigos que tem início com a partida de Giuseppe, assim como outros desencontros, representa a desagregação da família, por sinal um tema recorrente na obra de Ginzburg que costuma escrever sobre as relações familiares e refletir sobre a condição humana, novamente utilizando uma abordagem pessoal para chegar no geral e, finalmente, falar sobre "a única coisa que é indispensável dizer, isto é, como as pessoas encaram e suportam a dor e a felicidade, a miséria, o medo e a morte".

"De manhã, assim que acordo, me ponho a pensar em tudo que estou prestes a deixar, em tudo que me fará uma forte falta quando estiver nos Estados Unidos. Deixo você. Deixo os teus filhos, Piero, a casa que vocês chamam de As Margaridas, sabe-se lá o por quê desse nome, já que não se vê nem meia margarida por aí. Deixo aqueles poucos amigos que sempre encontrava na tua casa, Serena, Egisto, Albina, com quem passeávamos pelo bosque e jogávamos escopa à noite. Usei o imperfeito, mas foi um erro, porque vocês continuarão passeando e jogando cartas, e o imperfeito se refere somente a mim. Deixo minha prima Roberta, mulher admirável, dedicada a todos, grosseira, abelhuda e barulhenta. Deixo a minha casa, onde moro há mais de vinte anos. A poltrona de corino, sempre com uma manta por cima e onde me sento de manhã assim que acordo. A cama com a cabeceira de madeira, onde me enfio à noite. A janela da cozinha, com vista para o jardim das freiras. As janelas da sala, com vista para a Via Nazario Sauro. A banca de jornais da esquina, o restaurante Mariuccia por onde às vezes passo para comer, a loja de artigos esportivos e o café Esperia. Deixo você. Deixo o teu rosto comprido e pálido, os teus olhos verdes, os teus cachos pretos, os teus lábios fartos. Não fazemos amor há três anos, mas sempre que te vejo tenho a impressão de que fizemos na véspera. E, longe disso, nunca mais faremos. [...]" - Carta de Giuseppe a Lucrezia (pp. 12-3)

Da relação de Giuseppe com Lucrezia restou um filho, Graziano, que ele não reconhece, assim como tem problemas com o filho do próprio casamento, Alberico, de quem nunca se aproximou: "O meu único filho é Alberico. Preferia outro, diferente. Mas isso certamente vale para ele também. Sabe-se lá quantas vezes não pensou que preferiria ter outro pai. Quando estamos juntos, fazemos um tremendo esforço para dizer até as coisas mais simples." O relacionamento difícil entre Giuseppe e Alberico será explorado como um dos pontos centrais do romance, por meio das cartas com os amigos em comum, Albina, Serena, Egisto, Ignazio Fegiz e Alberta, ao longo de quatro anos.

"Como você é estranho. Não nos falamos direito há tanto tempo e do nada você me escreve uma longa carta. Houve um período em que escrevemos algumas cartas, eu e você, mas não muitas, tampouco longas, e é um período já bastante distante, quatro, cinco anos atrás. Depois não nos escrevemos mais e nem mesmo falávamos grandes coisas. Por tantas vezes nesses últimos anos ficamos sozinhos, eu e você, por tantas vezes fizemos longos passeios pelos bosques, mas você não dizia mais do que como vai e o que anda fazendo, e eu também. [...] Queria deixar Piero e viver com você. Teria sido um erro, mas eu não sabia. Teria sido um erro porque já estávamos cansados, você de mim e eu de você. Mas eu não sabia, não tinha entendido ainda. Você me disse que não deveria deixar Piero, que não era preciso sequer pensar nisso. Disse que as crianças sofreriam. Eu disse que as levaria comigo e não sofreriam tanto assim, Piero as veria com bastante frequência. Essa casa onde você mora é suficientemente grande e com alguma astúcia todos nós caberíamos. Então você ficou muito amedrontado. Eu li o medo na tua cara. Provavelmente viu a tua casa transformada num acampamento. Não consigo expressar como aquele teu medo me ofendeu. Você disse que não se sentia capaz de ser um pai para as crianças. Não se sentia capaz de sustentar o papel de pai. A tua habitual fixação. [...]" - Carta de Lucrezia a Giuseppe (pp. 27-8)

Enquanto Giuseppe é dono de uma personalidade contida, não suporta hóspedes, fugindo de um vínculo sentimental fixo, seja com outras mulheres ou mesmo com o(s) filho(s), Lucrezia é uma mulher que não resiste às paixões tendo vários casos, admitidos pelo tolerante marido Piero, em uma espécie de relacionamento aberto. O posfácio de Iara Machado Pinheiro resume bem a trajetória das decisões impulsivas de Lucrezia: "Com as palavras de Lucrezia, assistimos ao curso de uma paixão; o arrebatamento inicial, a suspensão dos julgamentos, os movimentos impulsivos, o estranhamento decorrente da adequação do sentimento tão forte ao curso cotidiano, os desencontros e a desilusão do momento que força a constatar que 'não existia mais caminhos'".

"Vou me casar com Nino Mazzeta. Ele fabrica móveis antigos. A fábrica, a loja e também a casa onde mora ficam num pátio atrás da minha casa. Os móveis são bem-feitos, porém não parecem antigos, são brilhosos e têm ar de novo. Nino Mazzeta é viúvo e tem um filho de nove anos. O filho vai mal na escola e vem aqui para fazer o dever de casa. Nino Mazzeta trabalha muito, porém não é rico, e está pagando pela loja com notas promissórias. / Vou me casar com ele pelas seguintes razões, as quais eu examinei atentamente uma por uma. Porque gostaria de ter filhos. Porque já tenho trinta e três anos. Para deixar meu pai contente. Porque poderei continuar mantendo a minha casa em ordem até minhas irmãs crescerem, dado que apenas o pátio separa a minha casa da de Nino Mazzeta. Porque nunca passou pela cabeça de ninguém casar comigo e pela de Nino Mazzeta sim. Porque é uma boa pessoa. Sempre que o meu pai precisou pedir dinheiro, ele deu. Quando meu irmão pediu dinheiro emprestado, ele deu e nunca mais viu a cor desse dinheiro, mas não se prendeu a isso e continuou vindo em casa, de tempos em tempos, à noite depois do jantar, para jogar escopa com o meu pai e conversar, e conversar com o meu pai não é nada simples, é necessário repetir a mesma coisa dez vezes. Porque sou pobre. Quando me casar não serei rica mas serei menos pobre. Porque aqui em Luco a vida é pesada e acho, posso estar enganada, que casada será mais leve." - Carta de Albina a Egisto (pp. 173-4)

Sobre a autora: Natalia Ginzburg nasceu numa família judia em Palermo, em 1916. Seu pai e seus irmãos se integraram à resistência antifascista, da qual fazia parte também o primeiro marido da escritora, Leone Ginzburg, com quem teve três filhos. Durante anos, Natalia trabalhou como editora ao lado de Cesare Pavese e Italo Calvino na editora Einaudi. Entre suas obras mais importantes estão Léxico familiar, As pequenas virtudes e Caro Michele, todos publicados pela Companhia das Letras. Morreu em Roma, em 1991.
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Ana Clô 12/01/2023

Sobre lembranças, rupturas e conexões
O que achei incrível dessa história foi a simplicidade dos acontecimentos. Fluidos tal qual a vida é, as questões que perpassam os personagens se rompem e reconstroem ciclicamente.
Para mim, a escrita de Natalia consegue nos fazer enxergar as pequenas coisas que nos constroem mesmo que pareçam banais.
Foi muito bom ler esse livro e me envolver de alguma forma com Giuseppe, Alberico, Lucrezia, Egisto e diversos outros personagens.
As lembranças são parte do que somos e rupturas acontecem ao mesmo tempo que nos reconectam. Natalia nos passa sua individualidade narrativa com maestria, nos fazendo a partir das cartas de cada personagem identificarmos as sutilezas que os constituem e que constitui a si enquanto escritora.
Vale a pena ser perpassado por essa leitura.
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Ademilson 26/11/2022

Olhar demoradamente
"Sabe-se lá por que olhamos as pessoas assim tão distraidamente. Depois morrem, e gostaríamos de ter alguma lembrança". Como podemos fazer as pessoas permanecerem? Como podemos fazer as casas continuarem de pé? As pessoas se vão - para longas distâncias, para a indiferença, para a morte. Mas os objetos ficam, ainda que transportados de mão em mão, pessoas, casas, objetos, todas essas coisas, exiladas, prensadas na existência como digitais. Como a própria autora aponta, "os destinos desabam, restam as coisas. Os objetos permanecem. Talvez deteriorados, porém estão lá". A cidade se modifica, a sociedade se modifica, suas casas também. As casas dos personagens dão lugar a hotéis, construções outras, desmemoriadas daquela gente anterior. Pessoas, por sua vez, conectadas e esgarçadas pelos fios do viver e do morrer. Esse livro olha demoradamente para as pessoas. Olha demoradamente para pessoas simples, com quem esbarraríamos aqui e ali. Recusa-se a esquecer a simplicidade (e não o simplismo). É como se Natalia Ginzburg dissesse: não, não podemos banalizar o absurdo e estranhar justo aquilo que nos constitui: estabelecer conexões, ainda que muito estranhas, não podemos perder nossa capacidade de se relacionar uns com os outros. Ou não seremos nada. Quem pode lutar pela memória e permanência de um povo senão o próprio povo, senão a força coletiva desse povo? "É estranho como os lugares que nos deixam tristes nos atraem. Nos atraem e nos repelem. Por isso queria ir embora desta casa, mas ao mesmo tempo não queria ir embora nunca". Acho que também não quero nunca ir embora desse livro. Eu ficarei nele, porque os demais - Egisto, Alberico, Giuseppe, Lucrezia, Albina, Roberta... - eles agora moram em algum recanto especial da minha memória. Talvez só nas lembranças possamos habitar eternamente.
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