A Arte de Escrever

A Arte de Escrever Arthur Schopenhauer




Resenhas - A arte de escrever


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Lima Júnior 01/08/2011

As críticas aos escritores que Schopenhauer faz nesse livro são ótimas e servem até hoje, tendo em vista que a literatura nos dias de hoje virou tão comercial quanto na época do autor. Destaco também o fato dele defender o aprendizado de novas línguas, que essencialmente importante e os argumentos dados por Schopenhauer são bem válidos.

O ponto fraco do livro são os pensamentos de superioridade que Schopenhauer tem; fato muito comum em outros escritores alemães, como Nietzsche, por exemplo. Isso desgasta o livro, mas não posso culpá-lo, era algo normal naquela época e talvez até hoje, mas menos explorado depois dos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. Aqui neste livro, Schopenhauer ataca ferozmente Hegel e seus seguidores, tornando uma leitura muito parcial e pessoal, deixando o leitor meio entediado com toda essa fúria. Se o leitor for um fã de Hegel, irá odiar este livro (o que, no meu caso, ainda bem que não ocorreu, já que não sou nenhum seguidor de Hegel).
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Rumenig 11/06/2011

Uma crítica a falsa intelectualidade
Um ótimo livro sobre o pensamento. O autor critica os falsos intelectuais, que apenas querem parecer ter algo extraordinário a dizer mas na verdade não tem, e por isso escrevem de forma incompreensível sem alcançar conclusão alguma. O autor também critica toda indústria da literatura, que apóia essa produção industrial de livros sem valor.

Porém o autor escreve muito sobre o uso da língua e da gramática alemã, o que não me interessava, e durante essas partes do livro eu quase perdia o interesse.
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Tulio 16/05/2011

Já pra estante!

"A arte de escrever" nos leva a refletir sobre o nosso próprio hábito de ler. Ao mesmo tempo que recomenda a contemplação de obras antigas, Schopenhauer condena o excesso de leitura por ser algo perigoso ao próprio indivíduo, uma vez que, ao fazer isso, ele substitui os próprios cabelos (pensamentos) por uma peruca repleta de ideias alheias, que não se enraizam e portanto não são convenientes em todas as situações.

O livro nos faz enxergar o quanto desperdiçamos nosso tempo lendo obras de pessoas que escrevem apenas por remuneração e deixamos de lado as obras de grandes pensadores que nos trariam crescimento e desenvolvimento.

Se você for um escritor, aspirante a escritor, jornalista, filósofo ou simplesmente apaixonado por livros, sugiro que este vá para sua estante. Aliás, deveria ser de leitura obrigatória nas escolas.
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Fidel 24/02/2011

Antes de ler qualquer livro, leia esse.
Digo isso no título porque o que mais vejo hoje nas vitrines das livrarias são "livrinhos bonitinhos" vendendo que só água.
Em cada livro, a alma sebosa dos autores que só usam a tinta do dinheiro.
Esse livro é uma crítica literária não contemporânea, mas encaixa-se perfeitamente nos dias de hoje.
Leiam.
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aleshinohara 09/08/2010

Schopen Soft
Estes pedaços do Parerga e Paraliponema mostram a parte pop do mestre. Como excelente escritor, aplica à risca aquilo que prega: escrita simples, direta, sem contornos. Rodeios são para aqueles que não tem o que falar.

Livro absolutamente confortável de ler. Temas ordinários, comuns, diferentemente de em "O mundo como vontade e representação", que tenta resumir sua visão(metafísica) de forma sistemática.

Recomendo!
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Helga Cavoli 07/03/2010

Inteligente
Inteligente, cínico, ferino. É o único livro do Schpenhauer que eu li mas foi o suficiente para eu ficar fã dele.

Problemas que achamos que começaram ontem são mostrados neste livro que já eram realidade no século XVIII na Alemanha. Sinal que estamos atrasados em pelo menos 200 anos e temos muito o que evoluir ainda.

Mas então, este livro aborda o que ler, o que não ler (os filósofos que ele não concordava e porque!), aborda o que escrever e o que não escrever (pra não escrever besteiras só pra enriquecer e aparecer).

Em resumo: o livro é ótimo. Muita gente não gosta, mas eu adorei a leitura. Já o reli umas duas vezes.

Afinal escrever é, de fato, uma arte.
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Xell 20/02/2010

Putz....
Livro du C@r4$%&....

Mudou muito meu modo de pensar sobre diversas coisas
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*Cris 11/01/2010

A arte de não ler
"A arte de escrever", do filósofo alemão Shopenhauer, é, já nas páginas iniciais, um soco no estômago. Frases como "O meio mais seguro para não possuir nenhum pensamento próprio é pegar um livro na mãos a cada minuto livre" fizeram com que eu interrompesse a leitura por alguns momentos, tentando digerir seu significado.

Com a acidez que lhe é característica, Shopenhaeur condena toda literatura feita por aqueles que desejam unicamente ganhar dinheiro com ela. O filósofo enaltece aqueles que vivem PARA a literatura, em detrimento dos que vivem DA literatura.

Para o alemão, a leitura não passa de um substituto do pensamento próprio. "É possível sentar e ler, mas não sentar e pensar". Porém, "sentar e pensar" foi o que me pus a fazer durante a leitura desse livro. Será que alguma vez na vida eu já tive um pensamento digno de ser considerado genuinamente original? Será que meus pensamentos não passam de um eco desbotado e fraco de uma reflexão anterior a minha? Ou pior: "Será que o fato de eu ocupar meu tempo livre com a leitura de um romance aparentemente inócuo me priva da descoberta de meus próprios pensamentos?

Como bem constatou Shopenhauer, quando lemos alguém pensa por nós. o leitor só repete aquele processo mental "da mesma maneira que um estudante ao aprender a escrever refaz à caneta os traços que seu professor fizera à lápis". No entanto, não se faz apologia a não leitura, pelo contrário, Shopenhaeur estimula que se leia os grandes autores. De preferência nas suas línguas originais (quase sempre as antigas, como o latim).

São reflexões muito pertinente, sem dúvida. Mas o leitor de "A arte de escrever" não deve se deixar impressionar pelo tom duro e categórico do autor. Muito do que é afirmado por Shopenhauer carrega também boa dose de exagero. Seu maior trunfo, na minha opinião, é desmistificar a literatura dita "difícil". Em linguagem de fácil compreensão, o filósofo alemão recrimina seus colegas (sobretudo Hegel) por mascararem falta de clareza com palavras difíceis. Também os acusa de produzirem textos que, por sua roupagem rebuscada, dão a impressão de dizer mais do que foi pensado.

Leonardo 12/04/2012minha estante
Fantástico seu comentário. Quero ler.


Mitsuo 11/09/2015minha estante
Seu comentário sintetiza muito bem o livro!!
...eu também parei a leitura por um tempo para digerir seu significado :)


Fox Fields 17/08/2016minha estante
Stephen King falou que a escrita é a verdadeira telepatia.


Davi.Rezende 20/11/2017minha estante
Obrigado, me interessei.


@fernandajfguimaraes 27/08/2020minha estante
? seu comentário implodiu minha mente, imagine só o que o livro fará com ela! Obrigada, agora me sinto preparada para enfrentar Schopenhauer.


Emi 07/01/2021minha estante
Realmente é um soco no estômago.


13marcioricardo 09/01/2021minha estante
Excelente sua resenha, parabéns !


Zhouang 08/07/2023minha estante
Melhor resenha!


Zhouang 06/08/2023minha estante
Melhor resenha




Mari 09/01/2010

A arte de escrever – Schopenhauer
Arthur Schopenhauer (1788 – 1860) foi um importante filósofo alemão do século XIX, cuja principal obra é “O mundo como vontade e representação”. Entretanto, sua obra mais conhecida talvez seja “Parerga e Paralipomena”, de 1851, da qual provém os cinco ensaios reunidos em “A arte de escrever”. Nestes ensaios, há um tom preconceituoso (preconceito lingüístico, sexismo), mordaz e rude recorrentemente, porém há também lições que devem ser levadas em conta sobre escrita, leitura, literatura e crítica.


Em “Sobre a erudição e os eruditos”, há dura crítica à “falsa erudição”, nas palavras do próprio autor. Schopenhauer afirma que os professores ensinam pelo dinheiro e os alunos aprendem para obter “ares de importância” (e não pela sabedoria), tendo ambos em mira apenas a informação, e não a instrução, sem perceber que a informação é apenas um meio para a instrução, com pouco ou nenhum valor em si mesma. Para a maioria dos eruditos, a ciência é um meio, e não um fim; estes jamais chegarão a fazer nada de grandioso, pois para isso teriam de ter o saber como meta – tudo que é feito em função de oura coisa é feito de maneira parcial. O autor faz uma analogia (aliás, este é um recurso muito usado nestes ensaios) interessante entre a erudição e uma peruca: a erudição seria uma rica massa de pensamentos alheios como adorno, já que aquele que a usa carece de seus próprios pensamentos. A maior parte de todo o saber humano existe apenas no papel; somente uma pequena parte está realmente viva, a cada momento, em algumas cabeças. Com base nesse argumento, Schopenhauer afirma que as bibliotecas são a única memória permanente e segura da espécie humana.


Conforme o autor, as ciências adquiriram uma tal amplitude que, para realizar um empreendimento científico, é preciso dedicar-se a apenas um campo muito específico. Um estudioso, assim, encontrar-se-á acima do vulgo em sua área; no entanto, será como qualquer um em todas as outras. Não obstante, a verdadeira formação humana exige universalidade e visão geral. Schopenhauer defende que o descuido com as línguas antigas contribui para a decadência geral da cultura humana; e, mais especificamente, que a abolição do latim como língua geral da erudição e a introdução do espírito pequeno-burguês nas literaturas nacionais foram infortúnios para as ciências na Europa, por 4 motivos principais, a saber: 1º Só por meio da língua latina havia um público geral de eruditos europeus; 2º A atuação dos eruditos se enfraquece com barreiras lingüísticas; 3º Versões são péssimos substitutos para as línguas eruditas; 4º Dá-se o fim do aprendizado das línguas antigas. É possível entrever nessas reflexões o forte preconceito lingüístico que permeia a produção intelectual do filósofo.


Schopenhauer defende ainda a impossibilidade de conciliar patriotismo e ciência, já que quando se trata de questões puras e gerais da humanidade, seria impertinente pôr na balança a preferência pela nação à qual certa pessoa pertence. Por fim, o autor propõe neste ensaio 4 atitudes para melhorar a qualidade dos estudantes, sendo: 1ª Não freqüentar a universidade antes dos 20 anos; 2ª Passar por um examen rigorosum nas duas línguas antigas antes da matrícula; 3ª Ser liberado do serviço militar, pois seria inconcebível estragar anos de vida com o manuseio de armas, e, além disso, esta atividade o respeito que todo iletrado deve ao erudito; 4ª No primeiro ano, cursar apenas a faculdade de filosofia. Este último trecho evidencia o pensamento preconceituoso e mordaz e Schopenhauer de forma particularmente clara.


No ensaio “Pensar por si mesmo”, o autor continua a defender a superioridade das idéias próprias, afirmando que uma grande quantidade de conhecimento, quando não foi elaborada por pensamento próprio, tem menos valor do que uma quantidade menor, mas bem assimilada, que traria um aumento progressivo da diversidade original do cérebro. Entretanto, Schopenhauer faz uma ressalva ao afirmar que só é possível pensar sobre o que se sabe, por isso se deve aprender; mas também só se sabe aquilo sobre o que se pensa com profundidade, de forma que o ciclo de aprendizagem é infinito. Pode-se aprender de forma aleatória, mas não pensar; para que isso não aconteça, é necessário que o pensamento seja estimulado, seja por interesses objetivos (nas “cabeças que pensam por natureza”) ou subjetivos (pessoais). Segundo o autor, a leitura impõe ao espírito pensamentos que lhe são estranhos, ao passo que quando se pensa por si mesmo, segue-se seu próprio impulso (neste caso, as circunstâncias não seriam imposições, mas sim fatores que dão matéria e oportunidade para pensar o que está de acordo com sua natureza e disposição presentes). Quando em excesso, a leitura tira e elasticidade do espírito; apenas os pensamentos próprios são verdadeiros e têm vida, pois são entendidos de modo autêntico e completo. É possível desvendar uma verdade, que poderia ser encontrada em livros, pelo próprio pensamento; nesse caso, ela é 100 vezes mais valiosa, pois chega ao tempo certo, quando necessária, e por isso é fixada com segurança e não pode mais desaparecer. O pensamento próprio aspira desenvolver um conjunto coeso, um sistema, mesmo que não rigorosamente fechado. A leitura contínua é prejudicial, pois esses pensamentos, originados de espíritos diferentes, pertencem a sistemas diferentes e, portanto, não formam um conjunto coeso. Neste momento, o autor faz uma ressalva, afirmando que o pensador científico é uma exceção, por precisar de conhecimento prévio; seu espírito deve ser suficientemente forte para dominar tudo incorporando ao sistema de seus pensamentos, subordinando o que lê ao conjunto coeso de sua compreensão abrangente. Outra ressalva é que mesmo uma grande inteligência não é capaz de pensar por si mesma a todo momento; é, portanto, conveniente dedicar o tempo restante para leitura (alimentando, assim, o espírito).


Schopenhauer afirma que no reino dos pensamentos, somos espíritos incorpóreos, sem gravidade e sem necessidades, de forma que se pode encontrar a felicidade. O autor termina o ensaio distinguindo dois tipos de pensadores: os que pensam primeiramente para si mesmos (autênticos) e os que pensam de imediato para os outros. O primeiro tipo tem no pensamento o prazer e a felicidade de sua existência; o segundo tipo inclui os sofistas, que procuram o conhecimento por ostentação e reconhecimento.


No ensaio seguinte, “Sobre a escrita e o estilo”, Schopenhauer distingue 2 tipos de escritores: os que escrevem em função do assunto (tiveram pensamentos) e os que escrevem por escrever (pelo dinheiro). Segundo o autor, os honorários e a proibição da impressão são a perdição da literatura; sendo ainda conseqüência secundária a deploração da língua. Em seguida é proposta uma segunda classificação dos escritores, esta em 3 tipos, a saber: os que escreve sem pensar (memórias, livros alheios), os que pensam enquanto escrevem (pensam para escrever), e os que pensam antes de escrever (escrevem porque pensaram – são raros; menos ainda são os que pensam por si mesmos antes de escrever). Schopenhauer afirma que não há nada mais errado do que crer que toda mudança é um progresso, que algo escrito recentemente é necessariamente um aprimoramento dos escritos anteriores; seguindo esta linha de pensamento, o autor critica os tradutores, taxando-lhes impertinentes por pretenderem corrigir e reelaborar os autores originais, de forma que seria sempre preferível ler os “verdadeiros autores”, fundadores e descobridores ou ao menos mestres em uma área – e na língua original. Schopenhauer afirma que o valor de um livro encontra-se na matéria (assunto; nesse caso não importa tanto o autor) ou na forma (estilo; nesse caso não importa só o assunto, o autor faz este ser interessante). Pessoas comuns podem oferecer livros importantes graças à matéria (descrições de países distantes, experimentos, histórias das quais foram testemunhas), mas somente mentes célebres são capazes de oferecer algo digno pela forma. O público, em geral, prefere a meteria à forma, e essa seria a causa do contínuo atraso em sua formação, segundo o autor. A busca pela repercussão pela matéria é censurável nas áreas em que o mérito deve advir da forma, como nas obras poéticas.


O filósofo defende que a vida autêntica de um pensamento dura até que vire palavras: aí ele se petrifica e está morto, mas torna-se indestrutível, como fósseis da pré-história. A pena é para pensar como a bengala é para andar: da mesma forma que se caminha com mais leveza sem a bengala, o pensamento mais pleno se dá sem a pena. Segundo o autor, em todas as épocas surge alguma noção fundamentalmente falsa, uma moda qualquer; o homem inteligente reconheceria e desprezaria essas coisas, mas o público só reconhece a farsa após alguns anos. Revistas literárias deveriam ser o dique contra a crescente enxurrada de livros ruins e inúteis. Porém, os escritores são professores ou literatos que escrevem por necessidade financeira; como possuem objetivos comuns, ajudam-se mutuamente, fazendo resenhas elogiosas de livros que não merecem. Schopenhauer defende a eliminação do anonimato, que teria sido introduzido, supostamente, para proteger o crítico, mas que serviria para tirar a responsabilidade de quem não pode defender o que diz. O autor afirma, a partir da construção anterior de pensamentos, que é sempre um erro transferir para a literatura a tolerância que, na sociedade, é preciso ter com as pessoas “estúpidas e descerebradas”. Este é outro trecho em que o tom preconceituoso do filósofo fica particularmente claro.


Schopenhauer afirma que o estilo é a fisionomia do espírito, de forma que limitar-se ao estilo alheio é como usar uma máscara: por mais bela que seja, não tem vida, e o rosto vivo mais feio é melhor do que ela. Seguindo a mesma analogia, a afetação de estilo seria como às caretas que deformam o rosto. A língua em que se escreve seria a fisionomia nacional, e seria indispensável descobrir os erros lingüísticos dos outros para evita-los nos próprios escritos. O estilo não passa da silhueta do pensamento: escrever mal, ou de modo obscuro, significa pensar de modo confuso e indistinto; quem tem algo a dizer não precisa de preciosismos e frases difíceis. Todos os estilos de escrita devem conservar vestígios do estilo lapidar que é seu precursor. Querer escrever como se fala é tão condenável quanto querer falar como se escreve, o que resulta em um modo de falar pedante e difícil de entender. Excessos atrapalham qualquer trabalho: palavras servem para tornar pensamentos compreensíveis, mas só até certo ponto; depois dele, tornam os pensamentos obscuros. A verdade fica mais bonita nua, e a impressão que causa é mais profunda quanto mais simples for sua expressão, pois assim ocupa toda a alma do leitor/ouvinte. O autor afirma, preconceituosamente, que a língua alemã é a única que pode se comparar ao grego e ao latim, sendo as outras línguas européias “somente” dialetos.


Conforme o autor, um erro recorrente de estilo é a subjetividade: escreve-se como um monólogo, sem preocupar-se com o entendimento do leitor, e sem considerar que os pensamentos também estão sujeitos à lei da gravidade – o caminho da cabeça para o papel é bem mais fácil do que o caminho do papel para a cabeça. Quem escreve de maneira displicente estaria confessando que não atribui grande valor aos seus pensamentos. Poucos escrevem como um arquiteto constrói: primeiro esboçando o projeto e considerando-o detalhadamente. O princípio condutor da estilística deveria ser o fato de uma pessoa só poder pensar um pensamento de cada vez; não é isso que exige quem introduz orações intermediárias em lacunas de períodos principais (confundindo, assim, o leitor). Schopenhauer afirma que comparações são de grande valor, assim como suas evoluções: parábolas e alegorias, uma vez que remetem de uma situação desconhecida a uma conhecida. O autor termina o ensaio defendendo que as línguas foram inventadas em determinado momento (e, portanto, deveriam ser estáticas).


Em “Sobre a leitura e os livros”, Schopenhauer afirma que a ignorância degrada os homens somente quando associada à riqueza (pois, neste caso, ocupa-se a mente somente com prazeres); o pobre é sujeitado por sua pobreza e necessidade, e o trabalho substitui o saber ocupando o pensamento. Além disso, o autor volta a denunciar os malefícios do excesso de leitura, fazendo analogia com o excesso de alimento: assim como este faz mal ao corpo, aquele faz mal ao espírito; quanto mais se lê, maior a quantidade de marcas deixadas no espírito pelo que foi lido. Mais uma vez, é feita uma ressalva ao apontar um benefício da leitura: nenhuma qualidade literária pode ser adquirida pelo simples fato de ler escritores que possuem tal qualidade, porém, se já se possui essa qualidade potencialmente, a leitura pode evoca-la. Schopenhauer afirma, com pesar, que as pessoas lêem a última novidade e os escritores permanecem no círculo estreito das idéias que circulam, de forma que uma época afunda cada vez mais em sua própria lama. Para ler o que é bom uma condição é não ler o que é ruim, pois a vida é curta, o tempo e a energia são limitados.


O autor defende que exigir que se carregue tudo que se leu é o mesmo que exigir que se carregue tudo que se comeu: a pessoa vive do alimento corporalmente, e do que leu, espiritualmente, e foi assim que se tornou o que é. Porém, assim como o corpo assimila o que lhe é homogêneo, o espírito guarda o que lhe interessa. Schopenhauer também defende que as obras são a quintessência do espírito: em conseqüência disso, por maior que seja o espírito, elas terão sempre uma riqueza maior que o contato com o autor.


Conforme o autor, há duas histórias: a da política (da vontade; angustiante) e a da literatura e da arte (do intelecto; jovial e agradável). O ramo principal desta última é a História da Filosofia, que constitui sua base fundamental e ressoa até mesmo na outra história, conduzindo a opinião através de seus fundamentos. Pode-se perceber, através dessa reflexão, o idealismo ao qual o filósofo era adepto. Finalizando este ensaio, Schopenhauer faz uma analogia entre os avanços do conhecimento humano e a imagem de uma órbita planetária: a cada 30 anos, o espírito científico, literário e artístico da época declara falência. Aponta, ainda, que esse estudo deveria ser o conteúdo pragmático da História Literária.


No último ensaio desta coletânea, “Sobre a linguagem e as palavras”, Schopenhauer reflete sobre a linguagem, a começar por diferir a linguagem animal da humana: enquanto a primeira serve unicamente para expressar a vontade, a segunda também serve para expressar conhecimento. A palavra dos homens é o material mais duradouro. O autor acredita que quanto mais antiga uma língua, mais gramaticalmente perfeita ela é, levantando a hipótese de que a vida da língua seria igual à de uma planta que, a partir de uma semente simples, desenvolve-se pouco a pouco, alcança seu ponto culminante e então decai lentamente a medida que envelhece. Schopenhauer também supõe que o homem inventou a linguagem instintivamente, pois há desde sua origem um instinto por meio do qual, sem reflexão/intenção, produz os instrumentos e órgãos necessários para o uso de sua razão. As obras produzidas pelo instinto possuem perfeição peculiar, por atenderem precisamente às exigências de seus objetivos (esse seria o caso da primeira língua; buscar os vestígios dessa perfeição para traze-la à luz da reflexão é a obra da gramática). O aprendizado de línguas seria um meio de formação espiritual não somente indireto, mas também direto. Não se encontra em cada palavra de uma língua um equivalente exato em todas as outras línguas, nem todos os conceitos designados pelas palavras de uma língua são exatamente os mesmos que as palavras das outras expressam (“Quantas línguas alguém fala, tantas vezes ele é um homem” – Carlos V). A partir dessa reflexão, o autor defende que todas as traduções são necessariamente imperfeitas, obras mortas, de estilo forçado, rígido e sem naturalidade; quase nunca seria possível que uma tradução cause o mesmo efeito que a obra original (poemas, por exemplo, não poderiam ser traduzidos, mas apenas recriados poeticamente). Quando se aprende uma nova língua, é preciso delimitar novas esferas de conceitos no espírito. Não se aprende somente palavras, se adquire conceitos, sobretudo nas línguas antigas, pois o modo de expressão difere muito do atual, diferença essa muito maior do que a encontrada entre as línguas modernas entre si. A língua é para o espírito de uma nação o que o estilo é para o espírito de um indivíduo. O poliglotismo é um meio direto de formação espiritual porque aperfeiçoa e corrige as apreciações com a introdução da pluralidade e das sutilezas de conceitos, aumentando também a flexibilidade do pensamento à medida que o conceito torna-se cada vez mais livre da palavra com o aprendizado de várias línguas. O autor defende que as consoantes são o esqueleto, e as vogais a carne das palavras. O esqueleto é, no indivíduo, inalterável, e a carne, muito mutável, em termos de cor, qualidade e quantidade.


Schopenhauer afirma que os germanistas dividem a língua alemã em ramos: 1. ramo gótico; 2. ramo nórdico (islandês, do qual provém o sueco e o dinamarquês); 3. ramo do baixo-alemão (dialeto Plattdeutsch e holandês); 4. frisão; 5. anglo-saxão; 6. alto-alemão (séc. XVII). O autor defende que nesse sistema há muito mais patriotismo do que verdade, e por isso prefere filiar-se ao sistema de Rask, que postula que o gótico, proveniente do sânscrito, dividiu-se em 3 dialetos: sueco, dinamarquês e alemão. Segundo essa teoria, da língua dos antigos germanos os alemães não conhecem nada; ao menos segundo a língua, são godos. Além disso, os mitos dito germânicos, na verdade góticos (como a saga dos Nibelungos), são encontrados de modo muito mais elaborado na Islândia e na Escandinávia do que entre os alemães. As antiguidades nórdicas (achados feitos em escavações, runas, etc.) demonstram, em comparação com os achados alemães, que a cultura era muito mais elevada na Escandinávia, em todos os campos.


Leitura fluente e interessante, mesmo com as tiradas preconceituosas recorrentes. Particularmente indicado àqueles que trabalham com Letras.
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paulamaria 06/01/2010

Ri muito com o humor ácido desse autor. Para as pessoas que estudam idiomas, costumam traduzir textos ou simplesmente gostam de portugues, esse é um livro para se lembrar sempre.
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Elenilson Nascimento 30/12/2009

A ARTE DE ESCREVER
Por Elenilson Nascimento
“Quot línguas quis callet, tot homines valet”*. Recentemente livros queimados numa praça pública em São Paulo por “professores” nós remeteram a períodos obscuros na história – e que ainda fazemos de tudo para esquecer. Foi assim na Inquisição, quando obras contrárias à doutrina da Igreja Católica eram queimadas, e foi assim também quando os nazistas carbonizaram milhares de volumes em cerimônias macabras. Agora, como numa regressão e numa manifestação absoluta de ignorância, “professores” na capital paulista gritavam: “Quei-ma, quei-ma, quei-ma!”. Os “professores” protestavam contra o novo currículo escolar produzido pela Secretaria de Educação e, de quebra, tacaram na fogueira apostilas e livros didáticos.
E, depois dessa cena pitoresca, acho que o filósofo alemão Schopenhauer deve ter se revirado no seu túmulo, pois para ele “o mundo nada mais era do que uma representação formada pelo indivíduo”. O cara era tão bom que influenciou Freud, Nietzsche, Bérgson, Machado, Wagner, Tolstói, Sartre, Thomas Mann (*o livro “A Montanha Mágica” é muito bom), entre outros e também foi o responsável por introduzir o budismo na metafísica alemã. Quanto a mim, metido como sempre, só vim conhecê-lo no Instituto de Letras – mesmo assim, com aquele discursozinho forjado pelos professores (típico de quem nunca leu nenhuma linha do cara) de que Schopen era “apenas” um autor pessimista – daí a minha aproximação com a sua obra, pois adoro os pessimistas, os pervertidos e por aí vai.

>>> Confira a resenha na integra no COMENDO LIVROS/O Rebate:
http://orebate-elenilsonnascimento.blogspot.com/2008/05/arte-de-escrever.html
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Marlo R. R. López 21/11/2009

Excelente "manual" para quem gosta de escrever. Schopenhauer possui uma linguagem clara, eficiente, concisa e inteligente.
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Jhn 14/07/2009

Mais crítica
Muuuuito bom esse livro, um pouco demorado par ler, mas muito gratificante no final.
Nesse livro com três ensaios de Schopenhauer, ele critíca a deteriorização tanto das palavras quanto da gramática e o esquecimento das línguas antigas deixando as novas línguas pobres, se utilizando de uma única palavra para vários significados e tornando o foco da leitura incompriensível, fala ainda sobre as traduções de uma língua para outra e a importância de aprender várias para não ficar "nas mãos de algum tradutorzinho que altere o sentido ou reduza a intensidade das mensagens e não passe o que verdadeiramente o autor quis passar, acabando com a estrutura e a beleza do texto." Tudo isso acompanhado de muitas alfinetadas à outros filósofos...
Muito bom, adoro a leitura fluída que esse livro nos propõe e cheio de conhecimento e um pouco de parcialidade dele, mas nos leva a pensar (outro ponto dele, não leia demais ou não terá tempo para pensar).
Recomendo
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Mateus. 27/02/2009

Schopenhauer sempre...
É impressionante como Arthur Schopenhauer conseguiu (e consegue até hoje) ser sempre moderno. Sua escrita é muito profunda, cheia de reflexões, pensamentos intimistas e pessimistas. Altamente sagaz, consegue ferozmente atacar seus "opositores" citando-os por diversas vezes. A narrativa do seu modo do pensar (ou que até mesmo que os outros deveriam pensar e/ou agir) é descrita de maneira linear.

Gostaria muito de ler o "Parerga e Paralipomena" (seu livro original, cujo trecho se "transformou" nessa publicação. Uma excelente leitura, onde sempre é válida uma releitura dos trechos favorios para "avivar" a memória!
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