Paulo Silas 01/01/2017Nesta antologia de ensaios de Schopenhauer, os quais foram extraídos de "Parerga e Paralipomena", o leitor poderá contar com reflexões críticas do filósofo acerca do ofício da escrita. Não apenas sobre a escrita em si, mas também de questões atinentes à leitura, aos estudos, as palavras, a erudição e sobre o exercício do pensar. Enfim, muito do que é atrelado à escrita e leitura, recebem os comentários críticos do autor, o qual não se prende pela cordialidade ao tecer os seus dizeres.
"Sobre a erudição e os eruditos", primeira parte da obra, contém ácidas críticas contra os que se inflam de saberes pelo mero ato de reunir conhecimento para si. Para o autor, tornar-se um erudito impossibilita a pessoa de que pense por si mesma, sendo justamente tal o tema do capítulo seguinte, "Pensar por si", onde se disseca essa questão do pensamento próprio, quando é dito que pessoa deve ter um tempo para pensar e refletir por si mesma ao invés de ocupar cada instante de seu tempo obtendo conhecimento pela leitura.
O livro segue com "Sobre a escrita e o estilo" e "Sobre a leitura e os livros", onde o filósofo trabalha com a exposição da forma de se dizer as coisas através da escrita. As críticas fortes se dão contra modos pomposos, indiretos e prolixos com os quais os autores dizem sem dizer, ou seja, técnicas de escrita onde se preza mais pela "enrolação" do que pelo dizer aquilo que precisa ser dito. O reflexo de tal questão é também explicado quando pela leitura o leitor acaba se cansando desse tipo de escrita.
Sobre os livros, Schopenhauer se insurge contra a literatura ruim. Para o autor, a maioria dos livros disponíveis no mercado, na biblioteca, nas academias, seriam indignos de existirem, pois seriam pobres de espírito. Sendo o tempo curto para todas as pessoas, não poderia se perder tempo com leituras ruins.
No último capítulo, "Sobre a linguagem e as palavras", os comentários do autor se dão justamente sobre a linguagem, de modo que críticas e explanações com relação a gramática, ortografia, palavras e línguas se fazem presentes.
É um bom livro. Tenho discordâncias com alguns pontos levantados pelo autor. Com relação a leitura, por exemplo, Schopenhauer dá muito descrédito a quem o faz "sempre que possível", pois isso alienaria o pensamento da pessoa. Estou longe de ver a questão assim - e acho difícil que Schopenhauer tenha lido poucos livros. É pela leitura de livros que temos acesso ao pensamento de outros, os quais nos fornecem substratos para orientação, reflexão, confronto e possibilidade de se posicionar. Ninguém parte do zero. Sei que a posição do filósofo não é radical, mas ele insiste muito nessa parte de que a leitura atrapalharia o raciocínio próprio. Discordo. No mais, tem-se várias críticas cabíveis - todas muito bem construídas, vale destacar. Dentre outras questões que também valem mencionar, há o louvor do autor pela língua alemã e insatisfação para com outras europeias, sendo que essas seriam "meros dialetos" indignos de crédito.
Em Schopenhauer também vemos que a crítica conta a academia e um certo desleixo de professores e alunos já é antiga. A denúncia em tal sentido é digna e relevante.
Vale muito a leitura!