Marcos606 18/03/2024
Romance experimental publicado em 1931, é uma obra inventiva e complexa. Reflete a maior preocupação da autora - capturar o ritmo poético da vida - ao invés de manter um foco tradicional no personagem e no enredo. Composto por monólogos dramáticos e por vezes narrativos, o romance acompanha seis amigos através de sete fases das suas vidas, desde a infância até à velhice, fazendo paralelos com a mudança de posição do sol e das marés.
Bernard, Neville, Louis, Jinny, Susan e Rhoda são amigos, neste romance dividido em nove seções, cada uma correspondendo a um horário do dia e, simbolicamente, a um período da vida dos personagens. Cada seção começa com uma descrição detalhada do curso deste dia simbólico.
A primeira seção trata do início da manhã, ou infância, quando os seis personagens principais frequentam juntos uma escola diurna. À medida que cada uma das crianças acorda, ela inicia um monólogo interno composto de pensamentos, sentimentos e impressões. As crianças interagem de diversas maneiras ao longo do dia, e cada uma começa a se formar como indivíduo em resposta ao estímulo proporcionado pelo mundo e pela presença umas das outras. Embora seus pensamentos sejam um tanto incoerentes e principalmente fixados na experiência imediata, suas personalidades distintas começam a emergir: a loquacidade e a obsessão de Bernard pela linguagem; O desejo de Neville por ordem e beleza; A insegurança e ambição de Louis; A fisicalidade de Jinny; A intensidade e apego de Susan à natureza; e a abstração onírica de Rhoda da vida cotidiana.
A segunda seção trata da adolescência, depois que meninos e meninas são enviados para internatos separados. Bernard, Louis e Neville diferem em suas reações à autoridade e tradições da escola, e todos fazem amizade com Percival, um garoto bonito e popular que se tornará uma figura central na vida dos seis personagens principais. Todos os três meninos desenvolvem algum tipo de ambição literária, embora difiram marcadamente em seus objetivos e expressões. A maioria das meninas quer que a escola acabe logo.
A terceira seção acompanha os personagens até a idade adulta. Bernard e Neville estão na faculdade juntos e continuam amigos íntimos. Ambos admiram Percival, mas Neville se apaixonou por ele. Em Londres, Jinny e Rhoda vão à mesma festa, embora suas experiências sejam muito diferentes. Jinny ganha plena vida no ambiente social e sente um grande prazer sensual na beleza do ambiente e em sua atratividade pessoal. Rhoda, por outro lado, sente-se negada pelos outros ao seu redor e deseja desaparecer.
A quarta seção se passa mais tarde na idade adulta e gira em torno de um jantar, destinado a homenagear Percival, que está partindo para um cargo no governo colonial da Índia. Na festa, os seis personagens se unem novamente. No início, o grupo fica tenso e desconfortável na companhia um do outro e, principalmente, percebem suas diferenças.
Bernard, criação suprema da autora, está profundamente preocupado com a linguagem, e uma de suas primeiras características aparentes é sua obsessão em fazer frases. Esta atividade é um meio de impressionar e ajudar os outros, como no caso de Susan no início do romance. Quando criança, Bernard vê a linguagem como uma forma de mediar e controlar a realidade, de transformar eventos aleatórios em uma cadeia de significado. Quando sai para a escola, por exemplo, Bernard faz frases como forma de manter o controle de suas emoções. Mais tarde, ele começa a transformar suas frases em histórias, transformando a linguagem em uma ferramenta de compreensão do outro. Aqui ele começa a se deparar com um problema, no entanto. Bernard tem dificuldade em capturar a vida de outras pessoas em suas histórias e é incomodado pela sensação de que algum elemento da verdade sempre lhe escapa.
Com o tempo, Bernard passa a pensar que o problema de suas histórias é inerente à própria linguagem. A realidade, Bernard passa a pensar, é sempre mais complexa do que nossas palavras podem compreender. Parte da razão pela qual isso acontece está relacionada ao conceito de Bernard de identidade como fluida e mutável. Bernard se vê como um ser composto, influenciado e até composto pelas pessoas que o cercam. Bernard passa muito tempo tentando quebrar as barreiras entre os diferentes eus. A sua insatisfação com a linguagem e a narrativa tradicional ecoa muitas das preocupações da própria Woolf e dá uma pista sobre a razão pela qual ela sentiu a necessidade de experiências ousadas com a natureza da ficção. Em suas memórias, Woolf conta certos momentos, que ela chama de “momentos do ser”, nos quais ganha uma percepção direta da realidade, independente das distorções e omissões da linguagem. Bernard tem esse momento no final do romance, e o momento é uma espécie de culminação para seu personagem.