Mari Siqueira 05/08/2015Absurdo, intenso, arrepiante!O mundo surreal criado por Bruno Anselmi Matangrano dá arrepios, e não falo só do arrepio causado pelo frio dessas noites de inverno, seus contos causam arrepios de medo, perturbação e estranheza. Admiradora do trabalho de Poe, é impossível não perceber certa influência sombria do autor americano, nestes textos tão cheios de tensão. Bruno mostra seu talento e habilidade para contar boas histórias, causando no leitor as sensações mais incômodas e reais que se pode causar. Ele vai brincando com a loucura e a sanidade, como se desafiando-nos a descobrir quem vencerá.
Há certa melancolia e solidão em suas palavras, e isso, apenas intensifica o efeito de seus contos. Em duas ou três histórias, confesso que tive medo e precisei acender a luz à noite. Terror e suspense não são os meus gêneros favoritos, mas algo na capa, na sinopse e na diagramação desse livro, me atraiu. Como uma mariposa é atraída para a luz, eu fui em direção ao tema que me é mais incômodo e perturbador e dali, não saí até terminar a leitura.
Por ser uma antologia de contos, não pretendo falar sobre cada uma das histórias contadas neste livro. Vou falar sobre as que eu mais gostei e deixar vocês com vontade de entrar nesse mundo sombrio também. Foi difícil escolher apenas três contos, afinal, cada um deles é excêntrico à sua maneira e provocou em mim uma sensação diferente.
O Germe da Imaginação - Um conto distópico que narra uma sociedade à beira de um colapso intelectual. O conhecimento foi proibido, e portanto, a leitura. Aos poucos tudo se perde, desde os valores, até as certezas. Uma das melhores histórias que já li, definitivamente.
Mise em Abyme - O próprio termo francês já me causa arrepios: narrativa em abismo. O recurso muito utilizado na literatura e no cinema pode ser entendido como o sinônimo para a tão famosa frase de Poe: 'um sonho dentro de um sonho'. Essa mistura de lucidez e sonho dá essa sensação psicodélica de não saber o que é real. Um conto excelente, cheio de referências ao gênio Edgar Allan Poe e sua obra.
Entre o Tempo e o Espaço - O conto de encerramento da antologia está diretamente conectado ao conto de abertura. Mostrando os desdobramentos da relação tempo x espaço, esse texto encerra de forma sutil e, ao mesmo tempo, absurdamente estranha o livro. É genial, e o desfecho não poderia ser diferente.
Preciso ressaltar a diagramação do livro que é - absurdamente - linda! Com ilustrações de Dandi, a editora Vermelho Marinho fez um trabalho fantástico separando cada conto com uma página impressa em preto e as ilustrações em branco. Deu o toque sombrio e encantador que o livro merecia.
Por fim, é um livro para observadores, questionadores, corajosos. Não é um livro de terror como outro qualquer, é um livro que fala sobre terror psicológico e que o traz a seus leitores. De forma brilhante e única, Bruno ousa fugir dos padrões, da zona de conforto, dos limites da sanidade e nos presenteia com um trabalho arrepiante, nos melhores sentidos.
"Ao professor, restava apenas os livros da biblioteca, seus sonhos e seu diário. Seu último refúgio encontrava-se em sua própria mente, onde florescia o temido germe da imaginação." (p. 28)
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