Higor 07/07/2016
Suposições
E eis aqui o livro mais famoso de Patrick Modiano, meu primeiro contato com o autor, ainda em 2014, semanas após o anúncio do Nobel. Mas por que este livro se destaca dentre os demais?
Em Dora Bruder, Patrick nos conta que, no final da década de 1980, encontrou um jornal de 1941, onde havia o anúncio de um pai desesperado por informações de sua filha, Dora, com 15 anos na época. Mesmo depois de passado tanto tempo, Modiano decide pesquisar sem maiores pretensões sobre o paradeiro da garota.
Definindo o livro em uma palavra, a que mais se adéqua é: suposições. A pesquisa de Modiano é árdua, quase sem muitas notícias a respeito da garota, e as poucas informações que ele tem deixam o leitor atordoado, fazendo as mesmas perguntas que o autor faz a cada parágrafo, também infeliz com as novas pesquisas e sem saber tudo sobre a garota. Onde Dora estava durante tais dias em que não há nada sobre ela; ou como ela fez para driblar o toque de recolher da Paris nazista; ou outras perguntas muito mais aflitivas. O livro não vai responder quase nada, e cabe ao autor e ao leitor fantasiar, imaginar como, e onde, estava Dora em determinado momento.
O livro é bem difícil no começo, pois a marca do autor está presente: informações sobre a França, principalmente de avenidas, hotéis e afins, como se morássemos lá, então tudo soa um tanto cansativo para quem está encarando este livro como o primeiro, mas o autor logo nos dá as informações adquiridas aos poucos, deixando-nos desconfortáveis, chocados com as coisas que aconteceram.
No fim, a leitura foi super agradável. Assim como foi também desconfortante e reflexiva. Dora Bruder, assim como Anne Frank, é um relato importante – porém doloroso – sobre um momento, talvez o mais horrível da história da humanidade. Mesmo sem ter muitas informações sobre Dora, que, diferente de Anne, não teve sequer um diário, eu me senti bem próximo a ela, e queria ter muito mais informações sobre seu paradeiro, ou tentar compreender, sentir um pouco mais como era a vida de época, de uma judia que andava sozinha, correndo riscos, pelas ruas francesas, sem saber como estavam os pais, se sobreviveria mais um dia.
Não para me considerar um especialista, mas para não me engrandecer, quando pessoas sofreram tanto nessa vida. Realmente o magnum opus do autor.
Este livro faz parte do projeto 'Lendo Nobel'. Mais em:
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