Resenhas - A idéia de cultura

Paulo Silas 24/03/2022

Buscando estabelecer um conceito mais adequado de cultura para além daqueles que são considerados muito estreitos ou muito abertos (estético e antropológico), Terry Eagleton promove uma ampla abordagem sobre o tema, refletindo sobre as diversas transformações que ao longo da história o termo teve até que chegasse no atual e complicado conceito. O olhar lançado pelo autor é preciso, permitindo assim um estudo bastante aprofundado sobre diversas questões do mundo que dizem respeito ao seu aspecto cultural. O livro busca responder ao questionamento sobre o significado (e os significados) de cultura, possibilitando uma melhor compreensão e uso do termo.

"Versões da cultura" é o capítulo que abre a obra, discorrendo-se sobre a etimologia da palavra e as formas pelas quais pode ser considerada na língua, incluindo aí os percalços que as relativizações permitem ocorrer. Em seguida, no capítulo "Cultura em crise" o autor destaca que o termo é ao mesmo tempo restrito e amplo demais para que possa servir de alguma utilidade, defendendo que a crise é inerente da própria condição de cultura, repercutindo naquilo que vai explanar no terceiro capítulo ("Guerras culturais") quando evidencia que "qualquer cultura particular nacional ou étnica realizará seu potencial somente por meio do princípio unificador do Estado", pelo que as guerras culturais se dariam de três diferentes formas:entre cultura como civilidade, entre cultura como identidade e entre cultura como pós-moderna. No capítulo seguinte, "Cultura e natureza", a natureza da dialética e da cultura é apresentada. Por fim, no último capítulo, "Rumo a uma cultura comum", tem-se a conclusão do autor no sentido de que a cultura não seria apenas aquilo de que vivemos, mas também - e principalmente - aquilo para o que vivemos, ensejando na necessidade de compreensão do fato de que a cultura assumiu - e assim permanece - uma grande importância política.

Terry Eagleton deixa claro o seu intento com a obra: "minha tese neste livro é que estamos presos, no momento, entre uma noção de cultura debilitantemente ampla e outra desconfortavelmente rígida, e que nossa necessidade mais urgente nessa área é ir além de ambas". Por assim ser, somado ao fato de que a cultura teria se tornado imodesta e ao mesmo tempo arrogante, já seria hora agora de "embora reconhecendo seu significado, colocá-la de volta em seu lugar", pois diz respeito, de forma ou de outra, a questões centrais da sociedade como a noção de identidade e a formação do Estado-nação. Um livro crítico e reflexivo no melhor estilo do autor.