Paulo 15/03/2024
"Elena" não é o livro do filme de Petra Costa, mas um livro SOBRE o filme e sobre os temas que o documentário de Petra aborda, como suicídio e depressão: o que mais existe de conteúdo no livro são os muitos ensaios sobre o filme ou ensaios quase aleatórios sobre esses dois temas e que acabam mencionando "Elena", o filme. Contudo, esses textos não deixam de ser interessantes, ora são críticas do filme, ora são ensaios sobre os temas do filme, ora trazem dados e perspectivas sociais e filosóficos.
Entre os textos e partes do livro foram reproduzidas, no tamanho das folhas, imagens fotográficas do filme (e vale mencionar que o livro é um pouco maior em altura do que a média dos livros, e tem uma estética e diagramação muito agradáveis, exceto o desenho gráfico da capa que ficou um pouco tosco), mas são imagens abstratas demais, às vezes parecem sem significado por serem incompreensíveis.
Na penúltima parte, antes do roteiro, existe uma cronologia muito interessante, ela data a vida da família de Petra Costa mas coloca várias datas e dados do Brasil do século XX antes, durante e depois da ditadura militar, para contextualizar as atividades e vida da família, mostra, por exemplo, como os pais de Elena e de Petra eram militantes e só não estavam presentes no massacre do Araguaia porque Lian estava grávida de Elena, e acaba sendo uma boa aula básica desse período da história do Brasil. Nessa parte as tantas fotos são fotos de arquivo lógicas e compreensíveis, a maioria do acervo pessoal da família e de amigos.
Por fim, o roteiro. Faz mais de ano que assisti ao filme mas ele me marcou muito, ler o roteiro foi, naturalmente, como assistir mais uma vez ao filme e sentir o mesmo impacto com o desfecho de Elena. É, obviamente, perigoso que se identifique com as perspectivas que Elena expressava durante a depressão e sua mensagem antes de se matar. O livro parece deixar mais evidente que a depressão de Elena não está ligada somente à dificuldade de ser artista, uma atriz, no caso, mas como própria doença, porque num período de sua vida a própria performance da arte já não a preenchia, segundo ela.