Doze Noturnos da Holanda

Doze Noturnos da Holanda Cecília Meireles




Resenhas - Doze Noturnos da Holanda


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Everton Vidal 05/03/2021

A temática da viagem é central na poesia de Cecília. É, inclusive, o nome do seu primeiro livro da fase madura, onde esse conceito, e ao longo dos seus primeiros livros, toma a forma de uma fuga ou evasão (do tempo e da vida fugaz, em busca do atemporal, do absoluto, do mar). Em Doze Noturnos da Holanda ela toma a forma de uma busca introspectiva. A Noite é um personagem que “não é simplesmente um negrume sem margens nem direções”, “possui claridades” e leva o eu-lírico por uma jornada subjetiva (ou psicológica), incluso espiritual, em busca de autoconhecimento, através do afastamento do mundo, da matéria (a lá platonismo) e seus prazeres terrenos. O fim, encontrado no poema doze, um dos mais lindos, profundos e até proféticos de Cecília, é a imagem do afogado, cuja transfiguração revela as belezas do mundo através do fluir do tempo.

“Sem podridão nenhuma,
jazerá um afogado nos canais de Amsterdão.

E eu sei quando ele caiu nessas águas dolentes.
Eu vi quando ele começou a boiar por esses líquidos caminhos.
Eu me debrucei para ele, da borda da noite,
e falhei-lhe sem palavras nem ais,
e ele me respondia tão docemente,
que era felicidade esse profundo afogamento,
e tudo ficou para sempre numa divina aquiescência
entre a noite, a minha alma e as águas.

Sem podridão nenhuma, jazerá um afogado
nos canais de Amsterdão.

Não há nada que se possa cantar em sua memória:
qualquer suspiro seria uma nuvem sobre essa nitidez.”
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Gisnaili 18/02/2021

Após ter lido poesia na adolescência e não ter gostado, resolvi (re)ler, a mestra Cecília Meireles, aqui estou inebriada pela metamorfose literária que acabei de experimentar. A beleza e sutileza da poesia de Meireles, acabou por encantar-me de modo extraordinário!

"Para quem estamos pensando, na sobre-humana noite,
numa cidade tão longe, numa hora sem ninguém?
Para quem esperamos a repetição do dia,
e para quem se realizam estas metamorfoses,
todas as metamorfoses,
no fundo do mar e na rosa dos ventos,
numa vigilia humana e na outra vigilia,
que é sempre a mesma, sem dia, sem noite,
incógnita e evidente?"
(Cecília Meireles, Doze noturnos de Holanda)
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