Gus 15/05/2024
Pura magia em forma de literatura
"O morro dos ventos uivantes me chama. Vou, bruxa que sou. E me transmuto."
"Só poderia haver um encontro de seus mistérios se um se entregasse ao outro: a entrega de dois mundos incognoscíveis feita com a confiança com que se entregariam duas compreensões."
"Bem sei que terei de parar, não por causa de falta de palavras, mas porque essas coisas, e sobretudo as que eu só pensei e não escrevi, não se usam publicar em jornais."
"Então, ela que sabe que tudo vai acabar, pega a mão livre do homem, e ao prendê-la nas suas, ela doce arde, arde, flameja."
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Durante a leitura desse livro, que por sinal inclusive é o primeiro livro da Clarice Lispector que eu já li na vida, foi impossível não me sentir encantado com o poder que ela usa as palavras, é algo verdadeiramente sublime. Sempre me disseram que ela era uma bruxa, que usava as palavras para fisgar o coração de quem lê e agora eu compreendo plenamente.
O livro como um todo é bem construído, eu só achei um dos capítulos um pouco maçante de se ler, mas isso não atrapalhou em nada a minha experiência. Aquele que mais me apeteceu sem sombras de dúvida foi o que dá título ao livro, ele é tão cru, mórbido e exótico... Enquanto eu lia, consegui imaginar perfeitamente um filme de terror de tão vívidas que eram as descrições que Clarice usou. Eu estava lendo em público, então as minhas reações foram as mais engraçadas possíveis, visto que a cada parágrafo, era algo mais chocante ainda.
Enfim, para aqueles que desejam conhecer a literatura de Clarice Lispector e não sabem por onde começar, recomendo muito que leiam esse livro, não só porque por serem contos/crônicas e textos mais curtos, até porque textos curtos são os que requerem reflexões um pouco mais densas, mas sim porque a imagem que as pessoas têm da Clarice, a mestra das palavras, está presente aqui, em cada parágrafo, cada frase, cada palavra.