Tamires 04/04/2019Poldark: Demelza, de Winston GrahamATENÇÃO: Esta resenha pode conter spoilers sobre o primeiro livro da série, Ross Poldark. Mas nada que vá comprometer muito seriamente a sua experiência de leitura, isso eu garanto!
Poldark: Demelza, segundo volume da série Poldark, de Winston Graham, retoma a história do livro anterior no momento do nascimento da filha de Ross e Demelza, Julia. Esse segundo livro, como mostra o título, é centrado em Demelza e este romance consegue ser ainda mais envolvente que a história anterior.
Demelza precisa se posicionar como Sra. Poldark de Namparra, e para isso precisa deixar de lado suas inseguranças sobre sua origem, mas, sobretudo, precisa constantemente superar a espécie de competição subentendida que existe entre ela e Elizabeth. É interessante perceber que a Demelza que ascendeu socialmente não deixou de lado a sua visão de mundo e sua personalidade. Seus modos vão ficando cada vez mais refinados à medida que o tempo vai passando, mas ela não poderia ser irônica ou dissimulada como algumas das moças nascidas em berço nobre que aparecem no livro. Demelza aprecia a liberdade que ganha com o ócio, pois quando era pobre precisava trabalhar sem descanso durante todo o dia e boa parte da noite. Ao mesmo tempo, não consegue tocar a sineta e simplesmente esperar que os empregados venham em seu encontro, por exemplo. Demelza é uma personagem de muitas camadas, cada uma mais interessante que a outra.
O casamento dela e de Ross não poderia estar melhor. Com a chegada da primogênita Julia, o companheirismo entre os dois e os negócios com as minas em pleno desenvolvimento, os Poldarks de Namparra teriam tudo para viverem felizes para sempre, mas… se a vida fosse simples assim a literatura não teria muita fonte de inspiração (ou a série Poldark, 12 livros)! Demelza é um livro com muita história, muitos conflitos e muita coisa acontecendo simultaneamente.
O interessante desta série é que, embora cada livro direcione o holofote para um personagem, a leitura não fica maçante ou repetitiva. Em alguns capítulos personagens secundários roubam a cena e isso contribui para que o romance fique extremamente realista. Sabe aquele fascínio pela Cornualha que eu disse antes? Ele permanece, é claro, mas a fome e a pobreza são tão presentes neste livro que a admiração vai dividindo espaço com a pena. Os séculos passados podem até nos deslumbrar na literatura, mas Demelza mostra que não era nada fácil ser pobre no frio da Cornualha de 1788-1790.
“– Só há um problema com os Poldarks – disse após um momento. – Não conseguem lidar com a derrota.
– E só há um problema com os Warleggans – replicou Ross. – Nunca reconhecem quando são indesejados.
George ficou ainda mais corado.
– Mas eles podem reconhecer e se lembrar de um insulto.
– Bem, espero que se lembre deste.
Ross se virou e desceu os degraus da taverna.”
Enquanto Ross rivaliza com George Warleggan nos negócios, Demelza ajuda Verity a reencontrar sua felicidade. Ela não aceita que a prima possa ser feliz como solteirona, restrita aos afazeres domésticos da casa de Francis e Elizabeth. Esse plano romântico, obviamente, é desconhecido por Ross (e pela própria Verity, no início).
Demelza tem seu ponto alto, em minha opinião, quando consegue romper as barreiras da animosidade e ajuda Francis e Elizabeth quando estes são acometidos por uma grave doença. Foi a personalidade espontânea e amorosa de Demelza que mostrou a todos que família é família, é a quem sempre podemos recorrer em caso de necessidade.
“Apenas há dois anos, ela viera a esta casa pela primeira vez, quando Julia estava a caminho, estivera com náuseas, tomara cinco taças de vinho do Porto e cantara para um monte de senhoras e cavalheiros que nunca havia visto antes. John Treneglos estivera lá, alegre com o vinho, Ruth, como a esposa rancorosa, George Warleggan e a querida Verity. Esta casa estava cintilante à luz de velas naquela época, enorme e impressionante para ela como um palácio de contos de fada. Desde então, conhecera a casa na cidade dos Warleggans, os salões de baile e a Werry House. Ela havia ganhado experiência, amadurecido e era uma adulta agora, mas fora mais feliz naquele tempo.”
Demelza é um romance histórico para ninguém botar defeito. É impossível não devorar as páginas desse livro, e eu realmente torço para que essa série faça cada vez mais sucesso no Brasil, para que possamos ter logo todos os livros traduzidos para o português.
“Havia algum elemento nela que tornava a sua natureza feliz. Ela havia nascido assim e não podia mudar. Ele agradecia a Deus por isso.”
site:
https://www.tamiresdecarvalho.com/resenha-poldark-demelza-de-winston-graham/