O_Gui 07/05/2024
Perturbação e Tensão
Certo, vamos lá!
No livro vamos acompanhar Charlie Decker, um protagonista que foge completamente do padrão. Ele é extremamente perturbado e tem uma tremenda boca suja. Particularmente falando, gosto muito da forma como o King aborda a narrativa do ponto de vista de uma pessoa desequilibrada ou em processo de degradação psicológica (Como em outras obras que li dele: Carrie, O Iluminado, 1922), e a maneira como Decker é retratado, e seu estado mental é desenvolvido deixa a estória muito interessante de acompanhar.
A escrita do King aqui é crua, bruta e rápida. A quem diga que certas passagens são desnecessárias à narrativa, eu discordo totalmente. Na real, tenho certo receio de a minha opinião sobre esse livro ser um pouco polêmica, concluí a leitura a menos de 24 horas e sinto que todos os temas deste livro deveriam ser, no mínimo, dialogados, talvez até num ambiente acadêmico, não com adolescentes, acredito que a linguagem e o teor da obra não são propícios a menores de idade, mas sim num contexto universitário.
As cenas iniciais do livro são muito impactantes; ao ser expulso do colégio, seguido de devaneios mentais, Charlie pega a arma de seu pai, que havia trazido de casa, atira na cabeça de sua professora e em seguida rende toda a sua turma (PA-PUM); já de cara o leitor fica imerso na mais profunda tensão, aliás, acredito que essa palavra seja a mais ideal para descrever essa estória: Tensão. O clima de ansiedade que o King cria conforme as páginas vão passando é incrível e há uma sensação de claustrofobia crescente.
Muitos assuntos são abordados aqui: porte de armas, negligência dos pais, violência doméstica, desenvolvimento da sexualidade na adolescência, poder de dissuasão e manipulação, e até mesmo síndrome de Estocolmo. Consigo entender as circunstâncias que fizeram King proibir a circulação do livro, mas por outro lado, é triste pensar que essa obra dificilmente vai ser abordada futuramente como tema de alguma pesquisa, leitura coletiva, discussão literária ou algo assim.
No fim do livro, eu não imaginava muitos finais possíveis, e o King ainda conseguiu me surpreender nos últimos 5% de leitura. O fechamento da trama foi preciso, brutal e pessimista.
Pela experiência particular que tive com o livro, daria fácil 4 estrelas, mas quis ser mais justo, já que, ao menos a versão que li, tinha uma tradução meio levada ao pé da letra, o que não funciona para certos ditados e gírias populares, causando certo estranhamento; muito provavelmente por falta de uma republicação, e edição, o texto estava cheio de erros também. Por esse motivo achei justo dar 3.5 estrelas.
Este livro foi uma experiência, de fato não é uma leitura para todos, mas nenhum livro funciona para todo mundo. Foi o meu primeiro contato com uma obra do King sob o pseudônimo de Richard Bachman, já que estou lendo seus livros em ordem de publicação. Foi interessantíssimo ver como a escrita de um se difere à do “outro”.
Tenho boas expectativas quanto às próximas.