spoiler visualizarLéo 14/04/2024
Uma loucura completa
Em Fúria, livro escrito por King e publicado em 1977, sob o pseudônimo de Richard Bachman, o jovem Charles Decker, após ser expulso da escola, usando a pistola de seu pai, mata dois professores e toma sua turma de refém.
A história toda é um tanto quanto absurda, a começar pelo comportamento das personagens. Charlie Decker, narrador da história, tem episódios de surtos, mas parece muito contido e racional em alguns momentos. Seus companheiros de turma (e reféns), por sua vez, agem de forma muito normal ante a situação que deveria ser desesperadora. A tradução ruim não deixa as coisas mais fáceis de se compreender.
Pude perceber algumas questões psicológicas que servem como alicerces para a obra. Charlie, traumatizado pela maneira violenta como seu pai o tratava, deseja matar o pai, ao passo que tem na mãe um porto seguro (ele chega a ter sonhos eróticos com ela) -- um tanto edipiano, não é?
Os outros alunos da turma tratam o episódio com uma normalidade surreal. Em certo momento, o autor faz uma crítica à sociedade americana, dizendo que as crianças crescem acostumadas à violência, na vida real e no faz-de-conta. Talvez isso as tenha deixado anestesiadas (banalidade do mal?) Ao mesmo tempo, em seus discursos, há sempre algo de revolta, como se, naquela sala e sob aquelas circunstâncias, pudessem enfim tirar as máscaras e se libertar das amarras de uma moral hipócrita e mentirosa.
A sala de aula se torna uma grande sala de terapia e há MUITAS referências a questões sexuais.
Na obra não há heróis, o que torna quase impossível sentir empatia por qualquer personagem. Tanto os jovens quanto os adultos são retratados de forma baixa e vil. Todo mundo é doente.
Não acredito que seja uma das melhores obras do King, mas inegavelmente há traços daquilo que caracteriza suas obras. Vale a leitura pela curiosidade, mas existem dezenas de outras histórias do mestre que são muito superiores a essa.