@retratodaleitora 06/07/2016Vino sempre!"A hora de servir é sempre um momento de desapego. É como entregar um filho a um assassino. E ainda assim desejar que o malfeitor aprecie cada momento do sacrifício. E quando o pai é um italiano e a cria é una pasta, o enredo ganha tons de ópera. Afinal, o drama está em nosso sangue."
Antonello é um jovem recepcionista do restaurante Giubbe Rosse, em Florença, na Itália, de onde nunca saiu. Um assumido marpione, ou seja, um mulherengo, ele vive fugindo do trabalho para ficar na praça cortejando mulheres, principalmente as turistas ricas. Suas conquistas são de uma noite, e nunca duram mais que isso.
Até que conhece a jovem brasileira Aline, que está na cidade à passeio com a melhor amiga. Armado das melhores cantadas e pronto para dar o bote, Toni logo tenta jogar seu charme para a morena, porém ela não se entrega fácil. Forte e decidida, Aline toma as iniciativas, deixando o moço sem fala, acostumado que está a ter sempre as rédeas da situação.
Quando enfim ficam juntos, a atração que sentem se mostra maior do que esperavam, um sentimento que aumenta conforme os dias vão passando; e a viagem de volta de Aline se aproxima...
Depois de uma semana entregues à paixão, Aline resolve que voltará dali a um ano, novamente no verão, para que possam aproveitar mais tempo juntos. Cumpriria sua promessa?
Exatamente um ano depois, o jovem Toni já não tem esperanças da volta de sua morena, mas ela cumpre o prometido e volta para seus braços. Juntos desfrutam de duas semanas regadas de amor, vinho e comidas italianas, tudo isso em um cenário apaixonante: Itália!
Porém o tempo deles juntos novamente acaba, e o destino se põe a atrapalhá-los.
Algum tempo se passa, e o jovem Toni se entrega à melancolia, e à bebida, exatamente como fez seu pai tantos anos antes, agora um alcoólatra de quem o filho se distanciou muito depois da morte de sua mãe. Após o destino mexer mais uns pauzinhos, Antonello parte agora para o Brasil, viagem que empreende para treinar seus dotes culinários em um restaurante e procurar por sua amada Aline nas ruas do Rio de Janeiro. Mas a vida lhe reserva muitas surpresas...
"Pasta senza vino è come un bacio senza amore." (Massa sem vinho é como um beijo sem amor).
Com maravilhosas descrições culinárias, uma ambientação espetacular e uma narrativa leve e original, Eduardo Krause nos leva a embarcar na Itália e também no Rio de Janeiro dos anos 60, com muitas referências históricas e culturais. Esse enredo deixa o leitor preso do começo ao fim, ansioso para saber o desfecho dessa trama tão bem estruturada.
Com uma premissa aparentemente simples, não esperava gostar tanto desta obra! Assim que comecei a lê-lo, não consegui mais parar; é impossível fazê-lo. A cada novo capítulo um novo gancho, uma nova revelação ou uma deliciosa surpresa. A escrita do autor é leve, irreverente, tendo ele se utilizado de palavras da língua italiana em diversos momentos; misturando as duas línguas de tal forma que deixa o leitor ainda mais imerso na leitura, e desejando muito conhecer o país. Como não desejar?
Sobre os personagens, todos foram bem construídos. Quem nos narra essa história é o próprio Antonello, um jovem irresponsável que vai crescendo e amadurecendo durante a narrativa, sem largar nunca do humor afiado e malandragem. É um personagem muito humano, com seus defeitos também, e muitas vezes não concordei com suas atitudes, o que de certa forma me fez gostar ainda mais da leitura; é um personagem tão vivaz que me senti próxima a ele.
Agora vamos falar sobre a falta de consideração do autor com a fome e os desejos alheios. Pois bem. O livro tem muitas - muitas mesmo - cenas onde os personagens hora estão comendo, hora estão cozinhando. E, devido a sua maravilhosa escrita, essas cenas fora tão bem descritas que, podem acreditar, chegava a sentir o cheiro e gosto das massas e molhos preparados; como se estivessem em minha cozinha. E como eu queria! Isso foi ruim? De maneira alguma! Agora só me resta esperar que o autor lance em breve um novo romance, e que eu tenha o prazer de lê-lo. Virei fã!
Sobre a parte gráfica do livro, também tenho só elogios a fazer. A capa é belíssima e isso se repete a cada mudança de ano e ambientação na parte interior. Tudo muito caprichado. Sobre erros de revisão, não encontrei um sequer.
Livro mais que indicado!
Vino sempre!
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