Fabio Shiva 12/11/2010
Imagine ler um livro durante mais de dois anos, uma ou duas páginas por dia
A cada página, um novo encantamento, reflexões profundas, questionamentos, aprendizados sem conta... E um belo dia, de repente, não mais que de repente, você termina a leitura!
Todo livro que amamos deixa um sabor agridoce ao final da leitura. Por um lado é bom, pois é mais uma etapa cumprida, mais um ciclo fechado. Por outro lado, que pena que acabou!
Com meu tão amado Gita não poderia ser diferente. A solução para o sentimento de perda foi começar a ler de novo do começo. Poderia passar muitas vidas lendo esse livro!
O Gita começa com o rei cego Dhtarastra ouvindo a descrição que Sanjaya faz do campo de batalha de Kuruksetra. Tive a sorte de ler uma interpretação a respeito na excelente comunidade Srimad Bhagavad Gita (http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=16352). O rei Dhtarastra representa o homem em seu estágio inicial de ignorância, um soberano cego. Das trevas da ignorância para a luz do conhecimento: esta é a jornada proposta pelo Bhagavad-Gita.
O conceito de divindade para o hinduísmo pode ser útil para apreender melhor a proposta do Gita. Para os hindus, Deus se manifesta de três modos diferentes:
1) Deus é Brahman – o Absoluto. É o impessoal, o inquantificável, a essência abstrata. Para efeito de analogia, Brahman é como o céu, pois existe, está lá, mas nós não podemos determinar onde ele começa nem onde termina e muito menos “pegar” ou “segurar” o céu.
2) Deus é Paramatma – a manifestação divina em cada ser. Dentro de cada um de nós, Deus resplandece como centelha divina. A saudação em sânscrito “namastê” é o belo reconhecimento de Paramatma. Uma possível tradução para “namastê” é “o Deus dentro de mim reconhece e saúda o Deus dentro de você”.
3) Deus é Bhagavan – a Suprema Personalidade de Deus. Deus se manifesta como um ser individual, Bhagavan Krishna.
Esses conceitos ficaram sambando um pouco em minha mente a princípio. Logo, porém, percebi o óbvio: Brahman, Paramatma e Bhagavan são apenas nomes diferentes para o Pai, o Espírito Santo e o Filho!!! É minha opinião pessoal que a própria semelhança fonética entre Krishna e Cristo não se trata de mera coincidência...
Chegará o dia em que todas as religiões se reconhecerão como irmãs. Chegará o dia em que a ciência e a religião caminharão juntas na busca do verdadeiro conhecimento. Espero viver para ver esse dia!!!
HARE KRISHNA!!!
(11.10.08)
BHAGAVAD-GITA (SEGUNDA LEITURA)
Hoje pela manhã terminei de ler esse livro pela segunda vez, quase exatamente um ano após findar a primeira leitura.
Dessa vez me concentrei nos versos do Gita e em sua tradução. Fiquei maravilhado pelo quanto o livro cresceu nessa segunda leitura! Descobri novos significados, tive insights profundos sobre aspectos de minha vida pessoal e do mundo como um todo, cresci como pessoa.
Não tenho a menor dúvida de que o Gita é um dos maiores tesouros da humanidade!
A filosofia que sustenta o Gita é muito ampla e abrangente. A descrição dos modos da natureza material, por exemplo, é absolutamente fascinante! De acordo com a filosofia Sankhya exposta no Gita, existem três “gunas” ou modos da natureza, que estão presentes em diferentes combinações em todo o universo material:
1) Satva ou modo da Bondade – tendência para a harmonia, para a satisfação.
2) Rajas ou modo da Paixão – tendência para a agitação, para o movimento.
3) Tamas ou modo da Ignorância – tendência para a inércia, para o repouso.
Esses conceitos podem ser aplicados tanto às interações dos átomos quanto às mais sutis motivações psicológicas. Hoje, nada vejo no mundo material que não identifique com um ou mais dos gunas.
Isso só para citar um exemplo, uma gota d’água em um oceano de sabedoria!
Confirmei ainda nessa segunda leitura a afirmação de que os Vedas (antigos textos sagrados da Índia, dos quais o Gita é um dos principais) são inacessíveis ao intelecto somente. Um olhar puramente especulativo irá encontrar uma intricada filosofia que enredará o leitor como em um labirinto de espelhos. Não é à toa que na própria Índia incontáveis horas de discussão estéril foram travadas entre supostos “sábios” a respeito dos significados das escrituras.
O Gita não é complicado: basta ler com o coração, com amor.
Esse é um livro que desperta para a Realidade da Vida!!!
Sabem o que vou fazer antes de dormir? Começarei a ler o Gita pela terceira vez!
Um manancial inesgotável!!!
(22.10.09)
O BAGHAVAD-GITA
Que dia feliz esse em que terminei pela terceira vez a leitura dos versos do Gita!
No meio do campo de batalha, entre os dois exércitos prestes a se enfrentarem, Krishna conversa com Arjuna e lhe explica os segredos do Universo. Literalmente é isso que significa “Baghavad-Gita”: a “explicação do Senhor”. Deus conversa com o homem, e responde todas as suas perguntas.
Precisa dizer mais? Basta a linda fala final de Arjuna a Krishna (na tradução de Swami Prabhupada):
“Meu querido Krishna, ó Pessoa infalível, agora minha ilusão se foi. Recobrei minha memória por Sua misericórdia, e agora estou firme e livre de dúvidas e estou preparado para agir de acordo com Suas instruções.”
Após conversar com Deus, Arjuna “recupera a memória”. Eu também quero lembrar, meu Deus!
E é por isso que continuarei lendo o Gita novamente, desde o princípio, com muita alegria!
Hare Krishna!
Sobre a Tradução
Sou muito grato à tradução de Swami Prabhupada, fundador da Sociedade Internacional da Consciência de Krishna. Graças a essa maravilhosa edição com os caracteres em sânscrito, a pronúncia e a tradução, tenho podido dar os meus primeiros passos no aprendizado do sânscrito, também chamado de Devanagari ou “língua dos deuses”. O sânscrito tem essa característica mágica de trazer a pronúncia no próprio desenho da letra, o que torna o aprendizado meramente fonético algo fácil e divertido! Tudo graças ao generoso “Guia do Alfabeto e da Pronúncia em Sânscrito” que vem nessa mesma edição. É certamente o meu livro mais querido, após anos de leituras diárias.
Por tudo o que aprendi com essa edição do Gita, considero um dever para com o aprendizado que obtive discordar da tradução feita por Swami Prabhupada para algumas passagens.
Senti esse dever ao ler “yoga” (literalmente “união”) e “diana" (“meditação”) traduzidas reiteradas vezes como “transe místico”.
O movimento fundado por Swami Prabhupada prioriza a prática do “Naamasmarana”, o canto do Nome. Essa é uma prática extremamente feliz, indicada por grandes mestres como Yogananda e Sai Baba. E inclusive já foi comprovado em laboratório: 20 minutos diários cantando mantras melhoram a saúde, a disposição, o intelecto, o humor e o astral.
Quem quiser comprovar por si mesmo, basta cantar com a melodia que achar melhor um mantra como “Baba Nam Kevalam” (“Tudo é Amor”, literalmente “Só o Nome do Pai”). Esse é um mantra de poderoso efeito harmonizante.
O problema da tradução foi Swami Prabhupada querer defender que somente o “Naamasmarana” deve ser praticado, abolindo-se a prática da meditação.
O argumento que justifica essa posição é estarmos na Kali Yuga, a era das trevas, quando a capacidade humana de conexão com o divino está muito enfraquecida e os homens somente conseguem perceber a matéria mais grosseira. Por isso o canto do Nome funciona onde outras práticas não funcionam.
Pois bem. Sai Baba também afirma que estamos na Kali Yuga, o que muito me impressiona. Por outro lado, Swami Sri Yukteswar em seu livro “A Ciência Sagrada” demonstra que essa ideia de que vivemos na Kali Yuga foi originada por um erro de cálculo ocorrido durante a verdadeira Kali Yuga, que ocorreu entre 1.200 a.C. e 1.700 b.C., tendo seu ponto mais obscuro por volta de 500 b.C., a hora mais sinistra da Idade Média.
Isso só para citar que existem outras opiniões de outros grandes sábios a respeito dessa questão da Kali Yuga. Pois a questão que importa aqui é a tradução.
Durante o Gita, Krishna literalmente ensina a pessoa a meditar, descrevendo as principais técnicas. Em várias passagens, a meditação é louvada por Krishna como um valioso recurso para o homem alcançar a Deus.
Minha opinião
Acho que não devemos condenar nada sem antes procurar conhecer. Tive muito pouca experiência com meditação ainda. Mas já foi o suficiente para considerar a meditação o maior tesouro de minha vida! Não desejo provocar polêmicas, apenas convidar as pessoas a experimentarem ler por si mesmas os textos sagrados.
Cante o Nome do Senhor e medite! E reze um Pai-Nosso (o que é exatamente o mesmo), e leia a Cabala, e faça uma oferenda aos Orixás! Faça o que for de seu coração, e assim agradará a Deus!
Nenhuma religião é melhor que a outra. Todas são muletas imperfeitas, que servem a seu propósito somente até que o homem aprenda a andar de mãos dadas com o Deus dentro dele mesmo. O ateísmo também é uma religião, pois é a crença na não-existência de Deus. O agnosticismo também é uma religião, pois é a crença na impossibilidade de alcançar a verdade.
(11.11.10)