Julia G
10/06/2015Quase uma Rockstar Matthew Quick me encantou com a leveza de seus personagens em O Lado Bom da Vida, livro no qual conseguiu mostrar que um enredo sem qualquer acontecimento especial poderia ser emocionante, especialmente por causa dos pequenos detalhes. Estava ansiosa para ler Quase Uma Rockstar, do mesmo autor, mas logo nas primeiras páginas me assaltou a impressão de dejavú, junto do medo de o livro ser apenas mais do mesmo. Felizmente, apesar de algumas características semelhantes entre as duas obras, o autor conseguiu guiar este novo enredo e construiu uma história original e mais comovente que a primeira.
Apesar de a vida de Amber Appleton não ter nada de fácil, a garota não perde a esperança e acredita que pode fazer a vida de todos – e a sua própria – melhor. O otimismo inabalável de Amber, sua fé e a ingenuidade bem delineada na narrativa em primeira pessoa foram as características que mais lembraram Pat, de O lado bom da vida. Mas as semelhanças não vão muito além disso.
“- Eles não estariam fazendo nada disso hoje se não conhecessem você. Estariam jogando videogame, se masturbando ou fazendo qualquer outra coisa que os adolescentes fazem quando não há ninguém por perto.
Não sei o que dizer, então não digo nada.
- Vejo em você uma coisa de que gosto muito, Amber. Você não é igual à maioria das pessoas. Vai fazer alguma coisa muito especial hoje, porque nasceu para isso.”
Nos primeiros capítulos, Amber se limita a narrar seu cotidiano, a relação que tem com “seus meninos”, os trabalhos voluntários, seja na Igreja do Padre Chee, com as Divas Coreanas por Cristo, ou na casa de repouso, com “seus velhinhos”. A personagem mostra tudo e todos que são importantes para ela, de Donna ao Soldado Jackson (SJ), de Bobby Big Boy (BBB) a sua mãe, e até mesmo as noites no ônibus escolar ilustram o caráter da protagonista.
O texto, cheio de “Sério?”, “Juro.” e “Pois é.”, assim como o habito de abreviar nomes, têm a informalidade com a qual uma adolescente contaria uma história, e ajudam a compor com mais credibilidade as características da obra e da personagem. Essa montagem, inicialmente, me levou a acreditar que teria de lidar com um texto bobo e superficial, mas não poderia estar mais enganada. Novamente esses detalhes fazem parte do enredo tanto quanto a própria Amber, e a obra não seria a mesma sem essas características.
“Ricky nunca mata ninguém no jogo, e ninguém o mata, porque ele tem autismo e tudo o que faz é ficar correndo e fazendo movimentos aleatórios. Devo dizer que adoro o fato de meus meninos levarem isso numa boa – adoro o fato de deixarem Ricky jogar Halo 3 de seu jeito pacifista. Meus meninos são gente boa. Juro.”
A força da protagonista se esconde por trás de sua ingenuidade, e só se percebe o quão longe ela consegue chegar com o pouco que tem a oferecer quando já se está arrebatado pela garota. Amber não tem preconceitos, tem apenas um monte de amor e coisas boas a distribuir. E é a sua presença, simplesmente, que tem o poder de mudar a vida de todos ao seu redor.
“[...] no fim das contas, isso não significa nada, porque sou uma só, e existem muitas pessoas que não são como eu. Talvez eu seja apenas uma distração divertida para elas. Talvez eu seja só uma menina estranha. Uma pequena atração antes do show de verdade.”
Quando Amber acredita que a vida quer mostrar a ela que suas crenças poderiam estar erradas, o universo devolve a ela tudo o que ela deu de si. E é então que vem a melhor parte do livro: a prova de que o pouco basta, que o que vale nesse mundo não é o que se tem, mas o que se cultiva. Eu chorei muito nas páginas finais do livro e concluí a leitura repleta de esperança, como Amber.
De alguma forma, Matthew Quick conseguiu manter as principais características de sua escrita em Quase uma Rockstar, sem ser se tornar repetitivo e, ainda mais importante, conseguiu depositar maior intensidade nessa obra simples, doce e linda.
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http://conjuntodaobra.blogspot.com.br/2015/05/quase-uma-rockstar-matthew-quick.html