Ariella11 26/04/2024
Necessário e urgente!
Acredito que Olhos d?água é uma peça indispensável na estande de qualquer pessoa minimamente preocupada com as relações de classe, raça, gênero e sexualidade no Brasil.
Conceição Evaristo consegue com uma beleza sagaz verbalizar uma série de complexos sentimentos entre o prazer e a dor com as palavras que constituem histórias, que mais se confundem com a realidade do que com a ficção, expressas na obra.
Um livro-poesia que traz com alegrias e tristezas contos à luz de um debate que coloca o povo negro como narradores das próprias histórias. Essa perspectiva permite a oportunidade de um mergulho nas profundezas de realidades experimentadas através da vida de cada protagonista abordado: os Davenga, os Querença, Cida, Natalina?
Em particular, gostaria de destacar os contos que para mim foram os mais marcantes e, nesse sentido, seriam na ordem do livro: Maria, Beijo na face e A gente combinamos de não morrer. O primeiro, foi o que mais me dilacerou o peito. O segundo, o que mais me envolveu. Por fim, o terceiro é aquele que dá a sensação de resumo da ópera, pois tive a impressão de que foi capaz de sintetizar em si uma gama de contos embutidas no livro, além de contar com inúmeras reflexões tão comoventes quanto intensas.
E de cada um dos meus contos favoritos, evidencio aquele destaque que considero mais significativo:
?A sacola havia arrebentado e as frutas rolavam pelo chão. Será que os meninos iriam gostar de melão??
?E o que parecia pouco, muito se tornava. O que finito era, se eternizava.?
?A desgraça vaza dos poros da terra. O mundo explode. Seres de mil mãos agarram tudo. Nada escapa.?