Layla 27/06/2016O Rei da DecepçãoTodo livro que você começa a ler é um casamento. Você e ele, juntos, comprometidos a buscar suas metas como um só, sejam elas quais forem, seja lá se você quer romance, suspense, uma caso de amor tórrido ou ficção científica. Como noiva(o) desejoso de tornar a união oficial, você assume os riscos.
Em Garotos Corvos nós fomos avisados. Desde o começo nós sabíamos. Desde o começo tínhamos conhecimento de quem morreria, quem mataria, quem sonharia, quem já morrera e quem precisava em si mesmo renascer. E isso não ajudou em nada. Não fez com que doesse menos. E a dor dos acontecimentos nem fora o que mais machucou. O que mais machucou foi o que NÃO aconteceu.
Organizemos nosso raciocínio: conhecer as personagens, no primeiro livro, fora quando ocorrera o flerte. Tudo belo, tudo novo, tudo reluzente. A química e a vontade de estar junto, acompanhando de perto todos os passos, levou ao casamento. O casamento trouxe a intimidade, o conhecimento além do supérfluo; o casamento deixou o amor que sentíamos pelas personagens no palco central, guiando nossos corações em cada decisão e palavra das protagonistas. A lua-de-mel fora vê-los interagindo, Blue-Gansey-Noah-Adam-e-Ronan, um time, quatro cavaleiros e seu rei. Passei todos os outros livros amando todo o contexto, sendo feliz e encontrando neste casamento satisfação e paixão.
Se esta resenha fosse um livro, esta seria a parte em que eu encontraria, no celular do meu companheiro, uma sms suspeita, uma foto estranha, um recadinho no celular com palavras íntimas demais. A bile subiria e o gosto seria de traição. Traiçãotraiçãotraiçãotraição.
Por todas as páginas de The Raven King vemos que, em cada pequeno espectro, os personagens participaram de um jeito. Todos eles, em divergentes situações, em tempos diferentes e de modos desiguais. É triste dizer que, no final, fiquei decepcionada por não tê-los todos juntos. É triste escrever que a Maggie meio que me traiu na metade deste livro pro final.
E eis o divórcio.
Se este livro valeu a pena, fora pelo desenvolvimento dos personagens e de suas paixões. Vi os personagens crescerem, vi o Ronan - mais uma vez - sofrer, vi Adam dar a volta por cima, vi Blue conhecendo uma parte oriunda de seu pai que também é dela e que fora tão pouco explorada; por fim, não vi apenas uma personagem ser aproveitada. Senti sua falta pesadamente no fundo do meu estômago e em cada página lida sem seu nome ser citado era uma pequena morte: Noah. Eu fiquei tão triste pelo Noah e seu desaparecimento, como se a Maggie tivesse dado um delete na personagem.
Vejo-me encarando o livro e pensando que a frase "O problema não é você, sou eu" não seria cabível para um término. É como se a pessoa com que você tivesse casado não fosse a mesma de agora. Como se, antes, você tivesse casado com a história e as personagens e agora você esteja só com as personagens (algumas, e não todas, ainda por cima) e nada mais.
Porque fora assim com TRV. Minha nota e meu favorito estão presentes pelos personagens e seu desenvolvimento, e não pelo enredo, pelos detalhes não explicados, por Glendowen(!!!!!!) e todo o mais.
Este é um casamento que termina e você sai com as mãos abanando. Foi inconclusivo. Fora um tiro no escuro que, de algum jeito, parara no nosso próprio pé.
O que se dera do Senhor Cinzento? Do pessoal da Rua Fox? E, mais uma vez, do Noah?
O que você fez aqui, Maggie? Ou melhor, o que você deixou de fazer?
Derramei muitas lágrimas com este livro, e a maioria delas foram pelo Ronan. Ele é o anel de diamante que você não se desfaz após o divórcio por ser bonito e precioso demais; as outras foram por Gansey e a inevitabilidade de toda a sua situação. Lembrei-me da cena do último X-Men, o Apocalipse, em que Erik (o Magneto, personagem de Fassbender) mira os céus e pergunta que Deus é esse que estava sobre sua cabeça; que, aos gritos, Erik perguntava o que mais Ele queria tirar dele. Gansey e seus cavaleiros seguiram uma causa oca, plantaram sua fé num falso Deus, pediram ajuda ao pó de algo que há muito se fora. Pergunto-me mais uma vez o que Maggie fez aqui e o que ela não fez aqui.
Mesmo com o casamento acabado, encontro-me ainda na fase de negação do luto. Hoje, com mais de semanas após a leitura, ainda não me recuperei totalmente. Para falar a verdade, quanto mais penso, com mais raiva eu fico.
O que recomendo para vocês que ainda não leram, mas que estão ansiosos para mudar esta situação, é que foquem nas coisas boas do livro. Aproveitem os detalhes gostosos, já que sabem de antemão que a porcentagem de decepção é das grandes. Não tem um jeito razoável de terminar esta resenha, assim como não há jeito bonito de terminar um casamento; mas digo-lhes uma coisa (que se aplica tanto ao fim da leitura como o fim de um casamento): respire fundo três vezes seguidas e erga a cabeça. A vida continua, apesar dos pesares. E mesmo que o final não seja um dos melhores, carregaremos conosco os momentos felizes que tivemos.
Carregaremos conosco os garotos corvos e a garota Blue-lírio-Jane.
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