Camila 18/11/2020Valeu a pena ter lido!Depois de ler e me apaixonar por Bodas de Sangue, estava super animada para ler um novo livro do autor Pierre Lemaitre. Eu confesso que tenho uma quedinha pela escola de escrita francesa, em especial pelos thrillers psicológicos, e nem sempre é fácil de achar um livro de escritores franceses aqui no Brasil. Então, quando encontro um, tenho que aproveitar!! Rs…
Apesar do outro livro do autor ser um dos meus preferidos do ano, consegui manter minhas expectativas para essa leitura sob controle. E foi a melhor coisa que eu fiz. Sabem por quê? Porque assim eu evitei comparações, não cobrei tanto o autor e consegui aproveitar super bem a história!! Rs… Não achei esse livro tão bom quanto o Bodas, mas gostei a trama e da forma como a história se desenvolveu.
O personagem é um senhorzinho querido e fofo?! Não mesmo! Pelo contrário… Rs! Só conseguia imaginar Alain como um homem de meia idade amargurado, descuidado com a aparência pessoal e pronto para resmungar da vida a todo o momento. Não dá para saber se ele sempre foi assim, mas com certeza o fato de estar desempregado há tanto tempo o deixou azedo, ressentido e se sentindo humilhado pelos trabalhos informais aos quais tem que se sujeitar.
Isso faz dele um tipo de protagonista interessante e não convencional, o que me agrada bastante. É natural que a maioria dos leitores prefira protagonistas cativantes, pelos quais sintam uma certa afinidade! Eu mesmo adoro encontrar uma mocinha bem desbocada e que não leva desaforo para casa… Mas uma mudança é sempre curiosa!
Alain Delambre pode não ser alguém com quem a gente se identifica, mas ele nos faz refletir sobre pessoas e problemas reais. Será que ele é um cara ruim ou apenas um cara desesperado?! Será que podemos bater no peito, cheios de orgulho, e afirmar que com certeza nunca cruzaríamos a linha como ele cruzou?!
Para mim ficou extremamente óbvio que a intenção do autor foi a de incomodar o leitor e provocar emoções conflitantes. O protagonista não é cativante, mas a gente torce por ele. Ele não trata as pessoas muito bem, mas a gente acaba percebendo que ele também não é bem tratado.
De alguma maneira muito louca eu senti que Alain é a representação daquela indignaçãozinha que todo mundo já deve ter tido na vida: “eu faço tudo certo, sou honesto, trabalho duro, mas quem faz errado é que fica com as coisas boas da vida”… Talvez o que mais incomode no personagem é que ele faz tudo o que muita gente já pensou em fazer, mas não teve coragem: jogar a honestidade e moralidade para o alto e fazer o que fosse necessário para conquistar algo que tanto desejava!
Será que ele é um cara tão ruim assim ou apenas um cara que se cansou de fazer papel de trouxa? Que cansou de ter a sua vida arruinada por gente que nunca o viu na vida? Que cansou de ser preterido para vagas de empregos por conta da sua idade? Que cansou de fazer tudo certo e ver tudo dando errado?
Esse pode não ser o meu livro favorito do autor, mas com certeza é uma história que valeu a pena ter lido. Me fez pensar sobre muitas coisas e com certeza aprendi ainda mais sobre a natureza humana!!
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